Capítulo III

91 5 0
                                    


        Quando abri os olhos estava num quarto de hospital. Acordei assustada e me sentei instintivamente, mas senti a cabeça pesada e uma vertigem. Meu coração disparou. Eu não fazia ideia de onde estava.

        - Graças aos Deuses!

       Rodrigo entrou correndo pelo quarto e veio até mim

       - Sofia! Graças a Deus! - ele me deu um beijo no rosto enquanto segurava meu rosto com as duas mãos.

        A enfermeira saiu para chamar o médico e ele ficou ao meu lado.

       - Como você se sente? - ele me olhava fixamente, e ajeitou os travesseiros atrás de mim.

        - Aonde eu estou?

         - Eu te trouxe para cá.

         Eu me lembrei. De tudo. A dor veio como um soco na boca de estômago e eu mordi os lábios para segurar um gemido. Eu devia estar em alguma ilha próxima as Maldivas, como da outra vez. Mas dessa vez ele não me sequestrou. Dessa vez eu pedi para ir com ele. Fui com a mão na minha barriga, e ele já respondeu.

         - Eles vão ficar bem.

        - Então você já sabe?

        - Sim - ele disse sorrindo e beijou a minha testa - parabéns mamãe.

         - Eu não consegui te contar antes...

         - Está tudo bem... você precisa descansar.

       O médico veio, ele não falava inglês e eu não falava o idioma deles. Rodrigo traduziu algumas coisas, exames, observação, pressão alta... ficar calma. Notei o curativo no meu pulso, mas ninguém disse nada a respeito. Me senti pior ainda por ter feito aquilo aos meus filhos, colocado a vida deles em risco.

         Fiquei ainda mais dois dias no hospital. Eu não conseguia dormir, porque não me sentia confortável em hospitais, quase não comia e pra dizer a verdade, quase não sentia nada. Toda vez que o médico tentava diminuir a medicação eu continuava aos prantos, e quando ele me sedava, eu dormia. Não estava funcionando. Eles não podiam me manter sedada vinte e quatro horas. Não faria bem aos bebês.

        Então Rodrigo decidiu me levar para a casa dele.

        Na casa dele as coisas não melhoraram muito.

       Eu não podia ouvir falar o nome de Alexandre que tinha crises de choro incontroláveis, e só conseguia me acalmar com remédios. Sem os remédios eu não dormia, não comia, não tomava banho e não me levantava, apenas chorava.

        Me sentia péssima por não estar em melhores condições para cuidar dos meus filhos ou estar pensando em enxoval.

        Rodrigo tentou de todas as formas me animar. Ele ficava em casa comigo, deitava comigo, víamos filmes, cozinhava, e mesmo ele sendo um excelente cozinheiro, eu não provava mais do que alguns bocados.

       Ele até tentou me levar para a praia, mas nem isso conseguiu despertar qualquer reação em mim. Ou eu chorava ou estava chapada e não reagia.

       Estava morta por dentro.

       O apartamento de Rodrigo era o mesmo no qual eu estivera antes, quando ele me sequestrou. Era um simpático duplex, com dois quartos no andar de cima. Dessa vez ele me deixou no quarto dele, pois no outro quarto ele achou que poderia me trazer más lembranças

       Eu ainda tinha um acesso intravenoso no braço. Fazia sentido, já que eu não me lembrava a última vez que tinha comido. Eu tomava a medicação e dormia, já não tinha mais noção do tempo.

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora