Capítulo IV

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       Ele dirigiu por cerca de uma hora, tranquilamente, sem dizer nada especificamente para mim, mas ele falava sozinho às vezes. Outras vezes assobiava ou cantava junto com o rádio.

       Eu não tinha muito certeza de onde estava, e até aquele momento não me importei com isso.

           Depois de um tempo, saímos das ruas principais e fomos para o que parecia ser uma zona rural. Havia uma estrada de terra, pela qual ainda rodamos mais alguns minutos, depois um barco. Por fim, chegamos em outra ilha.

         De frente para a praia, ou melhor, a alguns passos da praia, havia uma casa. era uma casa pequena, de alvenaria, com uma varanda, de frente para a praia. Na varanda havia uma rede e no canto, uma churrasqueira. Ao entrar na casa, me senti confortável. A sala e a cozinha eram emendadas e não havia nenhuma divisa entre elas, deixando a sensação de amplitude. O sofá era escuro e de frente para ele havia uma televisão de tela plana. Na cozinha, havia uma mesa de jantar para seis pessoas de madeira, e estava bem equipada, embora com simplicidade.

          Quando nós entramos, eu me sentei no sofá, ainda me sentia meio fraca.

           Manolo entrou no cômodo seguinte, que imaginei ser um quarto e voltou depois de alguns minutos.

          - tem toalhas limpas e uma troca de roupa. Não é grande coisa mas deve servir. vá tomar um banho enquanto eu faço o jantar.

          Sem dizer muito eu fui. Não me lembrava da última vez que tinha tomado um banho de chuveiro. Acho que nos últimos dias em que fiquei dopada, a enfermeira devia ter me dado banho de leito. Percebi que estava grudenta e nojenta.

          No banheiro havia duas toalhas brancas impecavelmente limpas, uma camiseta masculina e uma calça de moletom com elástico, que embora não fosse elegante, nem mesmo charmosa, era limpa e mais apropriada que a camisola e o roupão que eu usava.

        Não havia muitos produtos de higiene, e nenhum feminino, mas havia xampu, desodorante e um condicionador. Já era mais do que meus cabelos estavam sendo cuidados nos últimos dias. Também tinha um creme hidratante de qualidade duvidosa, mas tudo bem.

         Tirei a roupa e parecia que parte da doença, seja ela qual fosse saía junto. Deixei a água escorrer, molhar meus cabelos, cair sobre a minha barriga pontuda e comecei a acariciá-la. Senti uma vibração por dentro. Será que tem algo errado? Ou será que é o bebê mexendo? Tomei meu banho com calma, usei o que tinha a disposição e me troquei. Saí com a toalha enrolada na cabeça e fui procurar um pente para penteá-los. Como não estava acostumada a me mexer nos últimos dias, me senti fraca.

          Quando voltei para a cozinha, me senti um pouco ridícula com aquelas roupas e com minha própria aparência. Com minha própria atitude por estar ali, mas Manolo me recebeu com um sorriso.

          - Sente se, a comida está pronta.

         Eu me sentei no lugar da mesa que ele indicou. Eu não dizia nada porque não sabia o que dizer.

        Na minha frente, ele serviu um prato fundo com uma sopa amarela, talvez uma canja, com um cheiro bom. Comecei a esfriar para comer.

        Quando eu comecei a comer, ouvi o barulho de carro se aproximando e me assustei.

         - Não se preocupe, deve ser o Rodrigo, você está segura aqui.

         - Parece que cheguei na hora certa! - disse Rodrigo entrando com uma pequena mala nas mãos. - Trouxe algumas coisas para você. Imaginei que fosse precisar.

       - Obrigada. - foi tudo o que eu disse. Eu queria dizer mais coisas, mas me sentia cansada e faminta.

         Ele pegou um prato, serviu se e começou a comer. Os dois começaram a conversar e a rir. Ele tentaram falar uma mistura de português e espanhol para que eu pudesse entender, mas não quis me intrometer na conversa deles, não estava com vontade. Eles riam e pareciam bem próximos. Não havia a tensão da discussão de algumas horas atrás.

          Mesmo quando terminei de comer, continuei na mesa por mais um tempo, por educação, porém, quando o sono bateu, comecei a bocejar.

        - Está tudo bem se quiser ir se deitar.

         - Muito obrigada pela comida, Manolo, estava deliciosa.

        - Eu mostro o quarto para ela. - Rodrigo se antecipou e foi em direção ao banheiro e eu o segui.

        Ao lado do banheiro, havia uma porta fechada, que ele abriu e acendeu a luz.

         Lá estava um quarto, com uma cama de casal no meio, uma televisão e um guarda-roupa. Era bem simples, mas tinha cheiro de limpeza e era aconchegante. Havia uma enorme janela de vidro, com cortina e eu imaginei que desse vista para a praia.

          Rodrigo colocou a mala em cima de cama e começou a falar.

          - Sofia, me desculpe... Eu não quis te ofender.

         - Sei que não. - suei fria, e me surpreendi. Eu não me importava. Aquilo não me magoou realmente. Ele estava certa. Eu só estava começando a me angustiar sobre qual deveria ser o próximo passo.

          - Você pode ficar o tempo que quiser, já lhe disse, você pode contar comigo sempre!

          - Obrigada. Mas talvez você tenha razão. Não posso esquecer quem é meu marido e não tenho a intenção de arrastar a fúria dele para cá.

           - ora, não se preocupe! Se ele vier para cá, vai encontrar o destino dele. - ele falou de uma forma arrogante, e isso me incomodou. Ele notou.

          - Você ainda o defende. Ele contratou um exército de mercenários para te achar e te levar de volta, viva ou morta! Viva ou morta!!

           - Eu não disse nada.

         - Você ainda o ama.

         - Não!- Era óbvio que naquele momento eu não o amava! Que pergunta idiota! Rodrigo se aproximou de mim, segurou meu rosto com as mãos e ergueu meus olhos, para que ele pudesse olhar para eles, sem que eu desviasse o olhar.

         - Você ainda tem sentimentos por ele.

          - Claro que tenho. Nós fomos casados e eu estou grávida.

          - Depois de tudo o que ele fez?

           - Ele não é o único que fez coisas das quais se arrepende.

           - Rodrigo, deixe a menina descansar. Ela fica por alguns dias até estar mais forte, e se ela decidir ir embora, eu mesmo a levo! - a voz de Manolo fez Rodrigo me soltar. eu me senti constrangida com o comportamento dele.

           - Boa noite. Se precisar de algo me avise. - E então ele foi embora, me deixando sozinha com Manolo.

           - Está se sentindo bem?

          - Sim!

         - Precisa de alguma coisa?

         - Parece que Rodrigo trouxe algumas coisas...

        - Sí, se precisar de algo, me avisa.

         - Ah, aonde você vai dormir?

         - Na sala.

         - Eu posso dormir na sala, já causei transtorno demais.

          - Não causou nenhum transtorno. E além do mais, você está grávida, as grávidas ficam com a cama - ele riu.

           - Está certo.


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