Capítulo XVIII

76 5 8
                                    


ALEXANDRE

TRÊS MESES ANTES

         Acompanhei Sofia no velório, cuidei de tudo. Ela estava bem abalada, não era para menos. Eu fiz o meu melhor para acalmá-la, mas ela estava inconsolável. Nem mesmo os calmantes estavam fazendo efeito. Com os calmantes eu conseguia apenas que ela diminuísse os soluços de choro, um choro mais tranquilo e ela conseguisse respirar.

       Eu entendia. Eu perdi minha mãe quando tinha quinze anos e cheguei a pensar em morrer para ir ficar junto dela. Minha mãe era o ser mais lindo e mais amoroso que eu conhecia, até conhecer Sofia.

      Em alguns momentos me peguei pensando que ela poderia fazer uma besteira e tentar contra a própria vida. Eu estava muito preocupado com ela. Mas assim como eu superei, ela iria superar também, e eu faria de tudo para garantir isso.

       Não disse nada a ela, mas planejei uma viagem para nós, assim que tudo passasse, quer terminássemos de resolver os assuntos no Brasil, distraí-la um pouco. Pensei em um lugar alegre como Ibiza, ou um lugar mais tranquilo, qualquer lugar que ela quisesse.

       Um pouco antes do enterro, ela parou de chorar. Achei que finalmente os calmantes que eu coloquei escondido no chá estava fazendo efeito. Quem olhasse de fora teria a impressão que ela estava calma, mas quem a conhecesse e olhasse de perto, veria o olhar perdido e vidrado. Ela estava imóvel, quase nem podia ver a respiração dela. Pequenas linhas de expressão na testa indicavam que seu cérebro trabalhava furiosamente, mas quando eu tentava falar com ela, não tinha resposta.

      Assim que acabou o enterro, ela ainda estava em silêncio, mas agora ela tremia um pouco. Não estava frio, embora estivesse mais fresco. Alguém veio até mim e me deu uma blusa. Entendi que não era para mim, era para ela. Ofereci a blusa a ela, mas como ela não respondeu, vesti nela e ela não protestou. Parecia que ela não estava no corpo mais. Provavelmente teríamos que passar em algum médico ao sair daqui.

      Me distrai por um segundo e quando voltei ela não estava no mesmo lugar que a deixei. Imaginei que tivesse ido ao banheiro e esperei alguns minutos, mas nada. Chamei os seguranças no telefone e ninguém percebeu nada. Eu os mantive a uma distância um pouco maior dessa vez, a presença ostensiva deles a irritava e queria que ela pudesse se despedir em paz.

      Olhei em volta, não a vi. Sai do cemitério. Mandei que a procurassem, mas já era tarde. Ela tinha sumido.

     Fiquei desesperado porque achei que meu pior medo tivesse se concretizado.

      Ainda bem que Augusto estava por perto, porque ele me ajudou a procurá-la. Reviramos as redondezas, telefone dela ficou comigo, e nada. Desde o sequestro ela tinha perdido o rastreador e eu posterguei que ela colocasse outro. Que droga! Eu fui descuidado com o meu bem mais precioso.

     Com a ajuda de Augusto, tudo o que conseguimos foi uma imagem de uma câmera de segurança de merda mostrando um vulto, que poderia ser ela, mas não tínhamos certeza, entrando em um carro que não era possível identificar a placa.

     Ainda fiquei quinze dias no Brasil procurando por ela. Augusto também ficou, apesar dos protestos de Mendonza de que os negócios não podiam esperar mais.

     A verdade é que não havia mais por onde procurá-la. Pensei em divulgar a informação de que ela estava desaparecida e oferecer uma recompensa por informações, mas isso também era um risco, pois meus inimigos poderia ir atrás dela e criar uma caçada a cabeça dela, colocando a vida dela em risco.

     Pensei em continuar a procurá-la pessoalmente, mas novamente Mendonza disse que pareceria desespero. Eu não me importava. Contratei uma equipe de especialistas para procurá-la pelo mundo e pelo espaço sideral se fosse necessário. Não havia limite de orçamento.

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora