Capítulo XXXII

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        Descansamos o quanto conseguimos e eu saio do avião dando apenas um beijo nos meus filhos. Algo dentro do meu coração me diz que é fudidamente errado eu me separar deles. Quase desisto, mas me lembro que eu não tenho como criá-los. Eu não tenho dinheiro, nem um lugar para ir. Eu preciso de ajuda. E sei que Augusto vai cuidar bem deles.

        Optei por acreditar nele porque sei que preciso confiar em alguém. Parte de mim tem medo que ele suma com as crianças, então eu tomei as minhas precauções sobre isso. Sem que ninguém saiba, instalei GPS neles. Débora me ajudou com isso. Ela achou que era paranoia minha, mas acabou fazendo, ainda antes deles saírem do hospital.

       Desci do avião acompanhada de mais três homens. Homens de absoluta confiança de Augusto, ele me jurou que eram os três melhores dele. Há uma van branca velha me esperando na pista de pouso. Pego minha mochila e sigo.

       Eles falam um inglês arrastado e eu deduzo que são italianos. Tento eu falar em italiano para facilitar a comunicação e eles parecem gratos.

      Repassamos as informações. Onde Alexandre está. Como levá-lo para o local preparado para nós. O local é um depósito industrial, preparado para receber a mim e Alexandre e para o que eu tenho em mente.

       Augusto parecia reticente com meus métodos, mas eu o lembrei de vários momentos em nossa história em que Alexandre agiu da mesma forma e por fim o convenci da ironia.

       Já tomei banho e me troquei no avião e todos estão prontos. Vamos direto para a "casa de massagem" onde Alexandre está.

        Estávamos em Pattaya, a cidade do pecado Tailandesa. Nós dirigimos até a tal casa de massagem e paramos nos fundos da casa. Analisamos o perímetro por alguns minutos. Os dois seguranças que o acompanhavam estavam tão bêbados e drogados como ele que não perceberam quando chegamos.

        Um dos homens seguiu cuidando de outros assuntos enquanto eu fui direto para o prostíbulo onde Alexandre estava. Entrei por uma porta dos fundos. Eu nem me dei ao trabalho de me disfarçar ou de tentar parecer mais com um cliente. O ambiente ali era tão decrépito e nojento e só havia um segurança ali na porta da frente. Não era comum não ter seguranças nesses tipos de lugares.

         Não que fosse haver roubos ou coisas do tipo, mas para que as meninas não fugissem, porque é claro que ninguém ficava ali por vontade. Eram obrigadas, nem que fosse pela necessidade.

       Meu parceiro naquela noite era um rapaz alto, forte, por volta de 40 anos. Branco, cabelos cortados bem baixo, mas era possível ver o reflexo dourado de seus cabelos. Ele era quieto e só falava quando havia algo para ser dito. Me tratou por senhora. Nos falávamos em inglês ora em italiano. Sua voz era firme, mas gentil ao mesmo tempo.

       Ele entrou na frente e distribuindo notas de dólar, ninguém nos barrou, entramos pelos fundo e fomos direto para os quartos.

       Alexandre deve ter pago um pouco mais pois tinha um quarto só para ele. Como nós não sabíamos qual muquifo era o dele, entramos em alguns quartos antes. Homens de todos os jeitos, pelados, tendo relações sexuais bizarras com mulheres asiáticas, magras, esqueláticas e com olhar morto. Todas drogadas.

       Senti pena por elas e muito nojo dos homens que estavam ali. Meu instinto era sacar a minha arma ali e atirar nesses homens asquerosos e matá-los, mas ainda não era a hora de chamar a atenção.

        Alexandre estava num quarto que mais parecia uma cela. Não havia janelas ou portas, apenas uma cama de solteiro, mas ele estava sentado no chão, com a boca aberta, babando, pelado e com o olhar morto. Uma garota asiática que aparentava ter no máximo quatorze anos chupava o pau dele, muito embora ele estivesse totalmente indiferente ao que estava acontecendo. Uma outra garota dormia debaixo do braço dele, encostando a cabeça em seu tronco enquanto uma outra injetava nele uma seringa no braço. Deduzi que fosse heroína.

        Saquei minha arma e apontei para as garotas. As duas perceberam e saíram rápido. Quando os dois seguranças perceberam algo e vieram, eu os matei com um tiro na cabeça. Incompetentes! Eu me aproximei e o olhei, certa de que ele certamente não estava me enxergando. As pupilas dele não estavam reativas. Com o cano da minha arma, tentei tocar a moça que dormia encostada nele, mas ela não acordou. Me abaixei e chequei se ela estava viva. Não encontrei nenhuma pulsação nela. Então apenas empurrei e ela caiu no chão. Morta.

       Não permiti que meu cérebro imaginasse coisas naquele momento, como por exemplo se Alexandre estava tendo relações sexuais com um cadáver ou se foi ele quem a matou.

       - Vamos para casa grandão? - disse para ele. Num primeiro momento, embora seus olhos estivessem abertos, ele não tinha reação.

         - Sofia! Você veio me salvar... ele falou em italiano, com a fala enrolada, segundo antes de ter uma crise convulsiva e ter uma overdose.

           Meus dois homens o ergueram e saímos pelo mesmo caminho que entramos. Eu mantive a minha arma em punho cuidando da retaguarda deles. Ninguém nos impediu de sair ou nos disse nada.

        A van estacionada nos fundos estava à nossa espera. O terceiro homem já manteve a porta aberta e estava pronto para dirigir. Eles jogaram Alexandre na parte de trás da van como um saco inerte. Amarram os pés, as mãos e o vendaram. Ele pareceu nem notar.

       Meus homens foram escolhidos por Augusto. Seus nomes eram Carlos, Enrico e Gustav. Não perguntei mais do que isso. Gustav parecia ser o mais novo, e era o motorista. Enrico e Carlos estavam atrás comigo e o prenderam com algemas nas mãos e nos pés. Carlos tirou de um dos bolsos de sua calça um pequeno frasco que parecia um spray e colocou nas narinas de Alexandre. Narcan, um remédio muito comum para overdose causada por heroína e morfina.

       Seguimos em silêncio por cerca de trinta minutos. Senti o sacolejo do veículo mudar, então deduzi que estávamos entrando numa estrada de terra ou com a pavimentação muito ruim. Estávamos chegando.

        Eu desci e o quarto homem me recebeu no barracão. Seu nome era Tony. Não sei se era seu nome verdadeiro ou mero apelido. Não me interessava. Desde que fizessem seu trabalho corretamente poderiam me chamar de rainha Elisabeth.

         - Tudo pronto senhora. Estava à sua espera.

         O barracão não era tão grande, mas era alto. Havia um pequeno banheiro no canto, apenas um vaso sanitário, uma pia e um chuveiro improvisado com fios aparentes.

           Ao lado havia o que seria a cozinha. Uma pia, uma geladeira e um fogão sujo e enferrujado.

         Ao lado estava uma cama de solteiro de ferro, uma escrivaninha velha com uma gaveta e o resto do espaço era aberto.

         - Todas as saídas fechadas?

         - Sim senhora.

          - Bloqueador de sinal?

          - Em funcionamento.

          - Ótimo, coloque- o na cama e eu assumo. Obrigada.

          Olhei em volta e havia diversas caixas de papelão, alguns suportes pendurados no teto. Tudo era muito sujo e mesmo com a luz acesa ainda parecia escuro.

          Eles deitaram Alexandre na cama, tiraram as algumas dele e o amarraram na cama. Ele parecia desacordado, as vezes ele dizia alguma coisa, mas parecia um resmungo e eu não conseguia entender o que era.

          Ele estava magro, muito magro, estava perdendo seus músculos. Seu abdômen já não tinha mais os gominhos dos músculos. Ele estava pálido. Havia marcas de seringas nos seus dois braços. Havia algumas escoriações nas suas mãos, um corte no lábio e um pequeno hematoma que estava sarando no seu olho.

          Os homens saíram e trancaram tudo. A partir daquele momento éramos só nós dois.

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora