Capítulo LV

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        Eu me joguei na cama exausta. Alexandre tirou a própria roupa e entrou no chuveiro, na suite do quarto das crianças. Tomou o banho dele e saiu vestindo apenas a calça

     - Eu estou impressionado.

     - Eu espero que você não seja o único.

      - Você impressionou a todos. Você iniciou uma nova era.

      - Grazie

      - Como você está?

      - Exausta e com dor de cabeça. E muito animada. 

     - Você parece um pouco pálida.

      - Só cansaço.

       Alexandre pareceu não acreditar. Ele foi até o closet e pegou uma maleta preta que se parecia com uma maleta de médico. Eu me lembrava dela.

     - Alexandre... pare com isso! Sem médicos... sem calmantes... - Sem me drogar contra a minha vontade! Deu vontade de falar, mas não quis estragar o momento - mas ele apenas me ignorou. Ele pegou meu braço, mediu minha pressão e a oxigenação. Eu sabia o que ele iria encontrar, mas não disse nada.

       - Sofia... - eu não disse nada. - Me fale. Agora. Eu tenho notado seu mal estar, cansado, fraqueza... os remédios.... Você está doente? - eu apenas me sentei na cama.

        Embora as palavras dele fossem gentis e de preocupação, eu conhecia o tom, era a voz do Don, do capo de tutti, ele era o dono do mundo. Eu não queria contar, porque era algo que eu lidava, e eu sabia que ele iria querer tomar o controle e lidar com as coisas do jeito dele, e era a minha vida.

       - Parla mi amore! - ele me pegou pelos ombros e me segurou firme. Eu podia notar que ele estava se esforçando para se conter. - Não me obrigue a descobrir sozinho.

      - O que você vai fazer? Vai me torturar até eu contar? Vai me drogar? - ele pareceu chocado com as minhas palavras. Eu sei que peguei pesado. Ficou mais do que claro que ele não tinha nada a ver com aquilo que me aconteceu.

        Ele me soltou e pareceu magoado. Droga! em algum momento eu teria que falar para ele, em algum momento os sintomas não seriam mais possíveis de disfarçar.

     - Per favore carina, o que está acontecendo?

    Eu me acomodei na cama e e ele sentou se de frente para mim.

    - Eu tenho um problema cardíaco. - ele não parecia surpreso, claro que não, ele me via tomar remédios todos os dias. Remédios que eu mesma fazia questão e ir comprar, cada vez em uma farmácia diferente.

    - Eu sei amore.

     - Uma cardiologista fez uma pequena cirurgia há alguns meses, no dia em que os trigêmeos nasceram. Após a cesárea, ela não pode fazer uma cirurgia como ela gostaria pois meu corpo estava bem debilitado, tudo o que ela pode fazer foi uma cirurgia minimamente invasiva. Eu puxei uma alça da camisola, mostrando uma pequena cicatriz no seio esquerdo.

         Ele olhou e alisou a delicadamente.

    - Foi apenas um reparo para me ganhar um certo tempo, mas esse tempo está se esgotando. Meu coração está cada vez mais fraco e não vai aguentar muito tempo. A médica me deu seis meses, eu teria que encontrar um transplante ou eu poderia morrer. Isso já está afetando os pulmões e provavelmente e consequentemente os outros órgãos. bem...

   - Já se passou quase dois anos.

    - Em alguns meses teremos algumas velinhas para assoprar. Referindo ao aniversários dos gêmeos

    - Bella, não se preocupe, nós daremos um jeito, eu vou chamar os melhores médicos e nós vamos...

    - Alexandre, foi por isso que eu não te falei. Mesmo que eu encontrasse um coração agora, a cirurgia não seria simples. Você não pode resolver tudo... Você não pode querer assumir o controle de tudo de novo.

       Ele parecia desnorteado, assustado e que segurava o ar. Perplexo, paralisado. Quando eu o interrompi ele pareceu perceber isso e respirou fundo. Ele percebeu porque eu não tinha sido tão clara com ele antes. 

    - Sofia...

    - Me prometa que você vai cuidar e proteger os nossos filhos. Me prometa que haja o que houver você vai ficar limpo, por eles.

    - Sofi... meu amor... não diga

    - Me prometa Alexandre! Pra me dar paz de espírito

    - Eu...

     - me prometa!

      - Eu prometo... a voz dele saiu cheia de dor e eu tive que fazer um esforço para ouvi-la.

      - Talvez eles não levem jeito para ser mafiosos...

     - Não importa... Nós vamos cuidar deles. - Ele enfatizou o nós. - Pare com isso! Nós vamos encontrar um jeito! Nós somos os donos da porra do mundo! Me ouviu? Me prometa que não vai mais desistir!

        A voz dele já parecia um grito, um brado cheio de fúria, como se ele gritasse para espantar a morte de perto de mim. Ele pegou meu braço esquerdo, virando o para deixar a cicatriz no meu pulso exposta, quase como esfregando na minha cara.

      - Me prometa que não vai desistir!

      - Isso não depende de mim.

      - A partir de agora depende!

      - Prometo.

         Ele me abraçou tão apertado que eu quase não consegui respirar. Achei que não valia a pena discutir. Que ele tinha o direito de aceitar a ideia quando estivesse pronto e me prometer que não iria sair matando pessoas até encontrar um coração compatível, eu não queria o coração de alguém assassinado por minha causa. 

Eu te faço livreOnde histórias criam vida. Descubra agora