Capítulo 58

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GABRIELLA

— Como assim o vôo está atrasado? - pergunto a uma das atendentes no meu portão de embarque. - A dois segundos atrás ele estava na hora. E até já começaram a embarcar nos primeiros passageiros.

Ela dá de ombros, pede desculpas e me dá um daqueles sorrisos doces e enjoativos que todo pessoal de atendimento ao cliente parece ter.  Nunca me importei antes, mas essas são circunstâncias atenuantes.

Não é que eu esteja ansiosa pra encontrar o Felipe, mas quero chegar lá antes que ele faça algo drástico ou tolo. Quero ter certeza de que chego a tempo para que ele não pense que não vou aparecer, e depois mandar tudo para minha mãe e meu padrasto. 

E se ele já fez isso? Aposto que ele não me diria de qualquer maneira. Ele me faria passar por isso de uma forma ou de outra, mentiria para mim e, quando eu voltasse para casa...

Meu estômago embrulha e me sinto mal de novo. Por isso me agarro ao balcão para me manter de pé. 

— A senhorita está bem? - a mulher pergunta. - Se precisar temos um ambulatório medico. Posso apenas ligar para alguém e...

— Não! - eu digo rápida e firmemente. - Me desculpe. Foi só uma tontura, mas logo vai passar. Por que o voo está atrasado? Sei que não é sua culpa, mas estou com pressa. Posso trocar por outro voo que esteja saindo agora? - pergunto.

— Tempo ruim. - diz ela, encolhendo os ombros. 

Certamente não posso culpá-la pelo tempo, posso?  Olho para fora através das grandes janelas do aeroporto que vão do teto ao chão. Está ensolarado e claro, com apenas uma nuvem no céu.

— Hum... que tipo de problema climático poderia ser? - Eu pergunto, propositalmente olhando por cima do ombro. Ela também parece e, quando se vira, seu rosto está ligeiramente pálido e ela engole em seco.

— É um... Qual foi mesmo o problema, Rick? - pergunta ao homem ao lado dela.

— Tempo ruim! - diz ele. - Senhorita, sei que parece bom, mas o ar seco às vezes pode causar problemas com funções mecânicas. Os soquetes de borracha e widgets podem secar de repente, então só queremos verificar para ter certeza de que tudo está em ordem antes da decolagem. Espero possa entender. É para segurança de todos!

— Podemos providenciar a troca de voo, se quiser. - diz a mulher. Ela verifica uma lista rápida em seu computador. - O próximo vôo para seu destino sairá daqui a uma hora e meia. Terá que esperar de qualquer maneira.

— Se não tenho opção! - digo, franzindo a sobrancelha. - Será que dá tempo para comprar uma revista?

— Claro! - a atendente sorri. - Contanto que você não demore muito. Começaremos a embarcar novamente em breve. Tem uma loja de presentes do outro lado do saguão, neste mesmo andar. É a mais próxima, recomendo que escolha ela.

Sei de qual loja ela está falando. Eu estava lá antes de tentar embarcar, mas ouvi a chamada do vôo, então corri para fora e... agora volto, segurando minha bolsa com força nas mãos.

É tudo o que me resta. É a única parte de mim que tenho aqui. O que há dentro dela é atualmente tudo que possuo. Todo o resto das minhas coisas em casa parecem tão distantes e perdidas agora. 

Chego na loja. Vou até o porta-revistas para verificar o que eles têm. Na verdade, não quero comprar uma revista. Só quero fugir e me perder por um momento. Quero fingir que minha vida é normal e não realmente bagunçada como está agora.

Pego uma revista, nem sei sobre o que é. Não me importo. Vou para o balcão do caixa, coloco-o de lado. O homem do caixa começa a me atender. 

— Algo mais? - ele pergunta. 

Olho para uma prateleira de chaveiros personalizados ao lado da caixa registradora. Não sei o que procuro. Nem deveria ter olhado, mesmo assim pego o que chamou minha atenção e entrego a ele.

— Para alguém especial? - ele questiona com um sorriso. - É sempre divertido levar presentes para as pessoas quando você viaja. Aposto que ele vai gostar. Quer uma sacola?

— Sim, por favor. - eu digo. Entrego a ele o dinheiro. Ele coloca minha revista na bolsa primeiro, mas me entrega o chaveiro.

— Pode ser que você queira colocar esse no seu bolso para que você não o perca.

Isso é verdade. Eu não quero perder. Coloco o chaveiro no bolso, pego meu troco com o homem e pego a sacola com a revista, depois volto para o portão de embarque.

Posso sentir a pressão do chaveiro contra minha pele através do meu jeans. Parece apertado, quase como se ele pudesse deixar uma marca na minha pele com isso.

No chaveiro está escrito RAFAEL e tem uma fotografia do horizonte da cidade à noite, com luzes em todos os edifícios. Não sei se vou dar a ele quando voltar, ou se preciso para me lembrar dele enquanto estiver fora.

Eu preciso de algo. Quero senti-lo contra mim, novamente. Sentir a pressão de seus lábios contra minha pele. Senti-lo perto de mim, senti-lo ao meu lado me segurando. Mas não posso! Este chaveiro é o melhor que posso ter por agora.

~🚥~
Terceiro postado!

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My Stepbrother - livro 1 (CONCLUÍDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora