Capítulo 3: Marseille

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Pov Rafaella

Era cedo quando acordei, Daniel não estava na cama mas eu posso jurar que o escutei de algum lugar, não somente ele. Me levantei e bom... a vida só começa depois de um bom banho.

As vozes realmente estavam ali, uma pertencia ao meu marido e a outra...

- Mamãe!- aquele pequeno corpo chocou-se com o meu quase imediatamente.

- Bonjour.- Daniel me disse com aquele francês enferrujado e eu sorri mais ainda enquanto pegava Nicholas no colo.

- Bonjour mon amour.- e dessa vez ele sorriu. Meu francês não era lá aquelas coisas, mas era melhor digamos assim. Dei um selinho nele e me sentei, ainda com Nicholas no colo.

Às vezes ele ficava assim, todo manhoso.

Não posso afirmar que comemos que nem aquelas famílias de comercial de margarina, eu ainda estava com sono. Mas a animação era bem notável.

- Bianca estará aqui em duas horas.- ele comentou.

- Você pode sair um pouco do celular? Ontem no carro foi a mesma coisa.- eu pedi calma, de verdade. Não era de brigar muito, não gritando pelo menos. Não gosto e Nicholas não merece ver uma coisa que no final das contas não tem importância alguma.

Ele me olhou e deixou o celular sobre a mesa.

- Eu vou me arrumar, não sei para onde vamos hoje.- e então saiu.

- O papai não quer ficar aqui?- Nicholas me olhou.

- Ele foi se arrumar, e é o que nós vamos fazer também depois de comer.- passei o dedo na ponta do nariz dele, por algum motivo ele gosta disso. Palavras dele.

Nicholas não era difícil de arrumar, por isso deixei ele brincando com algum brinquedo que ele insistiu em trazer. Fui para o quarto apenas me vestir já que havia tomado banho antes.

(...)

Bianca estava bem semelhante ao dia anterior, digo, no jeito de se vestir. Mas devo admitir... ela estava absolutamente linda toda de preto.

- Bonjour! Prêt pour le début de ce merveilleux voyage?- Bianca apareceu assim que saímos do hotel. Ela sorria e novamente usava aqueles óculos. Agora tinha sentido. (Bom dia! Prontos para o início desta maravilhosa viagem?)

- Je suis désolé de décevoir, Andrade. Je peux encore te comprendre.- ela me olhou com uma cara bem surpresa. Eu sorri, não vou dizer que não deu um frio na barriga. Não falo francês desde pequena quando meus pais cederam às minhas vontades de aprender a língua. (Sinto em decepcionar, Andrade. Eu ainda consigo te entender.)

- Eu não estou entendendo muito.- Daniel começou a rir.- Desde quando você fala francês tão bem, amor?

- O que é francês?- Nicholas me perguntou. Mas Bianca foi rápida. Ela até se abaixou para falar com ele.

- Você percebeu que algumas pessoas falam diferente aqui?- Nicholas olhou para ela com aquela cara que eu conhecia bem.

- Por que?

- Porque eles falam uma língua diferente da sua. E essa língua se chama francês.

- Então francês é o inglês daqui?

- Se você preferir assim... sim. E por isso, vamos primeiro a um lugar que você viu ontem.- ela levantou. Me olhou sorrindo e percebi que estávamos a poucos metros da tal basílica de ontem. Nicholas também notou e sinceramente? Ele parecia muito mais animado.

Atravessamos a rua e mais alguns passos... tudo bem, a basílica era realmente linda. Daniel e Nicholas saíram um pouco na frente, de mãos dadas. Eu apenas observei os sorrisos, impossível não sorrir junto.

- Se você compreende minha língua tão bem, qual seria minha função aqui?- de repente Bianca estava ali. Bem ao meu lado. Me assustei? Claro. Mas logo passou. Eu sorri para ela.

- Compreendo mais ou menos... e bom, está bem na cara que não conheço as coisas por aqui, certo? Está arrependida de passar um mês viajando com três pessoas um tanto arrogantes sobre seu país?- questionei com a voz calma e baixa. Ela sorriu.

- Pourquoi devrais-je l'être? - então ela saiu, se juntando ao meu marido e eu fiquei ali um tanto boba. (Por que eu deveria estar?)

Bianca confessou ter nos falado o suficiente sobre a basílica quando passamos por ela pela primeira vez, então estaríamos apenas vendo o que nos foi falado. Era linda por fora e por dentro.

Não sei dizer quanto tempo ficamos ali dentro. Embora não seja uma das mais grandiosas construções, não era nada, nada pequena.

- O que torna esse lugar especial está bem ali.- já do lado de fora, ela sorriu para nós e apontou para cima.

- O que é aquilo?- Nicholas perguntou. Me dei conta de que era simplesmente uma imag...

- Uma imagem da Virgem Maria. É a protetora da cidade.- Bianca explicou.

- Isso parece tão... surreal! O que está achando, amor?- não percebi Daniel com suas mãos quase possessivas em mim, estava admirando a imagem de longe.

- Magnífico.- sorri para ele.- Fotos?

(...)

- É vocês com certeza não deixariam de passar por aqui hoje.- Bianca parecia feliz. Eu também, confesso. Sabe por quê? O cheiro que invadia meus pulmões.

Comida.

- Vieux Port. Preparados para almoçar uma lagosta de primeira qualidade?- tinha um leve sol ali, como ela não sentia calor? Estávamos no Porto Velho. Segundo Bianca, o coração da cidade.

- Opa! De lagosta eu entendo!- Daniel realmente entendia. Digamos que a família dele tem alguns -vários- negócios. Ele não quis assumir um dos restaurantes especializados em frutos do mar há um tempo atrás por causa do nosso negócio. Eu tentei fazê-lo mudar de ideia... Mas mesmo assim, acho que não vi uma pessoa que pudesse falar sobre isso com mais propriedade do que Caon.

- Ótimo! Porquê a qualidade aqui não tem como ser ruim. Ela vem diretamente da feira do cais, tudo sempre fresco. Vamos, sei que vão gostar.- então lá fomos nós... guisados por ela.

Eu ainda podia ver aquela carteira de cigarros, mas ela não tocou naquilo em momento algum. Será que é um -bem estranho- acessório?

Não sei. Franceses...

A vista era divina! Bom, pelo menos onde Bianca nos levou. E por falar nisso, ela insistiu em nos deixas a sós. Segundo ela "momento família", mas insistimos mais ainda para que ela sentasse conosco e deu certo. Minha desculpa esfarrapada para quebrar qualquer clima constrangedor foi:

- Como vamos saber se estão nos cobrando a mais? Ou pior ainda, como vamos ler o cardápio? Se a gente não entende, a gente não pede. Podemos morrer de fome.

Isso foi... idiota?

Mas ela sorriu, completamente derrotada.

- Eu tenho uma dúvida...- Nicholas se pronunciou. Finalmente?

Prendeu a atenção de nós três totalmente. Porém quando ele fixou o olhar sobre nossa intérprete...

- Você pode brincar comigo?

Eu não tive reação alguma. Zero. Meu marido então? Estarrecido. Mas Bianca não.

- Claro que sim. Quando você quiser.- ela bagunçou bem de leve o cabelo dele, que sorriu satisfeito com a resposta.- Afinal... imagino que algum dia ficaremos só nós dois.

Eu não entendi muito bem aquilo mas antes que eu perguntasse...

- Por que?- Nicholas continuava olhando para Bianca como se ela fosse a única ali.

- Porque durante alguns passeios nossos, talvez o lado romântico dos seus pais se faça presente e eles podem querer um momento a sós. Isso significa que vamos brincar e muito!- novamente, ele parecia muito satisfeito com a resposta.

Eu pensei em Paris, tudo muito romântico por lá.

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My Interpreter (Rabia Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora