Pov Rafaella
— Eu não gosto de ficar com o vovô, não gosto de ficar na escola... por que as coisas mudaram?
Sabe quando as coisas que você menos espera acontece e você paralisa no pânico? Então, era exatamente assim que eu estava me sentindo: em pânico.
— Como assim?— foi tudo que consegui falar após encarar meu filho por alguns segundos eternos.
Ele balançou os ombros levemente e desviou o olhar de mim.
— Pode falar, meu amor...— me arrumei de um jeito que permitia acabar com a mínima distância entre nós dois. Aproveitei para acariciar levemente o cabelo dele, e então ele me olhou.
— Era mais legal com a Bi... você não fica em casa, o papai também não.— ele proferiu tais palavras com receio aparente e com certeza esperou por algo negativo. Deus! Não é possível que ele não se sinta confortável a se abrir comigo... é?
— Nico, olha pra mim...— ele me olhou e pude notar que ele estava frustrado e confuso.— Esses dois meses eu estive muito ocupada porque a empresa está crescendo e agora que o papai não trabalha no mesmo lugar que eu, toda a tarefa difícil fica comigo e com a Manu. Mas já acabou, eu não vou passar do horário.— era verdade, mas quantas vezes já falei a mesma coisa e uma semana depois me atrasei para coisas simples?
— Por isso você comprou a Pisquê?— acabei sorrindo e balancei a cabeça.
— Nah... Eu notei que você não está falando sobre uma data bem especial. Por isso comprei a Pisquê.— passei meu braço esquerdo ao redor dele e a agora sim, ele estava praticamente em cima de mim.
— Meu aniversário?— ele me olhou novamente. Já pude ver outros diversos sentimentos.
— Sim! O que você quer fazer?— tantas coisas passariam pela cabeça dele que eu resolvi esperar.
— Eu, você e o papai podemos viajar.— ele sorriu e levantou como se sua ideia fosse inovadora ou algo assim.
— O papai está trabalhando e eu também... esse mês não conseguimos viajar. Mas escolha algum lugar e iremos assim que possível, okay? Seu presente de aniversário será esse mesmo?— sentei e esperei pela mudança de planos.
Com ele é assim: os planos mudam até o último minuto.
— Mamãe... meu presente de aniversário pode ser várias coisas...— ele ficou parado e olhando para alguma coisa que não identifiquei.
Cogitei a possibilidade de ele estar pensando em uma super festa, ou algo radical... não sei, tantas ideias podem sair dali que fico receosa.
— Já sei!— e novamente aquele olhar de quem descobriu a cura do câncer ou algo assim... — Eu posso ter um irmãozinho?
Eu engasguei. O pior é que eu não engasguei com o ar, ou com a minha própria saliva. Eu engasguei com absolutamente nada.
— C-omo?— é claro que eu entendi o que ele disse. Entendi perfeitamente.
— Oi? Alguém quer um irmãozinho?— ótimo! Por que a minha família não entra também?
— É, papai! Pode ser meu presente de aniversário!— Nicholas saltou da cama direto para os braços do pai e eu voltei a respirar.
— Mas seria impossível você ter um irmãozinho agora, sabe quanto tempo os bebês demoram para nascer? São nove meses! Você teria um irmãozinho só no meio do ano que vem.— uma ótima explicação com uma pitada de desencorajamento, amei.
Nicholas alternou o olhar entre nós dois.
— Então eu posso ter um cachorrinho?— amo as opções variadas de presentes dele, amo muito!
Quer um cachorro? Pois te dou dez! Adoro cachorros, até sou uma.
— Por que não...— olhei para Daniel. Olhei pra que? Eu que mando aqui.— Pode! Mas você tem que prometer que vai cuidar direitinho.— com 90% da minha ajuda, claro.
Nicholas sorriu de um jeitinho que eu não via há meses.
— Eu cuido, mamãe! Eu prometo que cuido!— ele desceu do colo do pai, subiu na cama e pulou nas minhas costas.— Ele pode se chamar Eros!
— Você não acha que está ridiculamente novo para se interessar por mitologia grega?— perguntei brincando, claro! Pode se interessar à vontade, aproveito e leio junto.
— Mitologia, é?— Daniel nos olhou sorrindo.
— Coisa que ele viu em Paris...— falei sorrindo.— A propósito, aquele dinossauro na sala se chama Pisquê.
— E vou dar de presente pro Eros!— Nicholas decidiu. Tudo bem! O brinquedo e cachorro são dele mesmo.
(...)
— Posso te fazer uma pergunta?— Daniel saiu do banheiro somente com a toalha na cintura mas não vamos levar isso para outros lados, o closet estava no caminho.
— Claro.— continuei olhando para o notebook em meu colo.
— Será que ele vai esquecer a história de outro bebê?— ele perguntou.
Lá vamos nós de novo...
— Claro que vai... já substituiu pelo Eros.— meu Deus, Eros nem existe ainda e já virou meu argumento...
— É, mas e quando ele perceber que não pode fazer muito além de dar comida, correr e limpar o cachorro?
Soltei o notebook, tirei os óculos que usava e encarei meu marido.
— Você quer outro filho? Mesmo?
Em outros tempos, a cara que ele está fazendo seria suficiente para me convencer. Mas como Nicholas dissera: as coisas mudaram.
— Daniel! Não!— levantei e bom... comecei a andar pelo quarto enquanto ele ainda se vestia. — Não... eu fico enfiada no escritório e você na cozinha. É irresponsável da nossa parte como pais. Até o Nicholas está mal com esse horário corrido que temos agora. Outro bebê? Sem chance! Criança precisa de atenção, carinho... e várias outras coisas. Não merecem nada menos do que amor vinte e quatro horas por dia.
Parei de falar e suspirei contra minha vontade mas foi necessário. Olhei para ele, que sorria de um jeito estranho agora.
— Eu te amo, sabia? Seu jeito de falar as coisas me deixa tão... bobo. Às vezes queria parar de te amar assim.— ele se aproximou.— Tudo bem! Sem bebês! Concordo com você, vamos esperar essas situações melhorarem e depois decidimos algo.— beijou minha testa e se afastou.— Não vamos trabalhar no aniversário dele, certo?
Eu ainda estava sem graça pela reação tão calma dele. Acabei sorrindo.
— Certo! Se não ele nos mata.— brinquei e voltei para a cama.
— Agora... já que não vamos fazer isso, o que acha de usarmos nossos corpos fazedores de bebês apenas para diversão?
— Não posso!— respondi rindo.— Planejando uma festinha surpresa para ele. E você vai me ajudar agora. Senta aí.
E assim ficamos por algumas horinhas. Notei que Nicholas ama dinossauro, mas nunca teve uma festa com o tema. Seria uma boa hora, eu acho. Ele ficaria feliz, com certeza! Deixei Daniel encarregado da lista de convidados, comida e outras coisas menores. O que? Ele merece uma festa de verdade!
Pode soar péssimo, pode parecer que quero comprar o amor do Nick com dinheiro mas não! Eu apenas sei o quão fodido esses dois meses foram, e além de passar meu amor para ele, posso dar a festa perfeita. Por que não? Será apenas um momento de descontração, nada pode pagar o tanto que eu amo esse garoto.
Antes de dormir recebi uma mensagem de Manu.
Arrumei dois tradutores, eles virão amanhã. Vamos acabar com isso!— Manu, 11:02 PM
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My Interpreter (Rabia Version)
FanfictionCansada da rotina corriqueira que vive, Rafaella Kalimann decide tirar um tempo para si. Sem estresse, sem trabalho. Apenas ela e sua família. Casada com Daniel Caon há dez anos, o casal possui um filho, Nicholas, de seis anos. O destino? França. Ma...