Capítulo 2: Dois meses depois

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Pov Rafaella

Dois meses depois

Era isso. Férias!

— Amor, quem vai nos ajudar?— perguntei realmente confusa. Não me lembro de ter conversado com meu marido sobre essa parte de comunicação depois que ele garantiu cuidar disso.

Estávamos no Aeroporto de Marseille-Provence, fica a alguns quilômetros de Marselha, uma cidade portuária pelo que sei. Estava frio para nós, então colocamos nossos casacos e Nicholas pediu colo. Meu colo.

— Você lembra da Bianca...? Ela fez alguns negócios com a gente uma vez, acho que foi no contrato com... Cuba? Bom, ela têm uma agência de turismo aqui na França e se dispôs a nos ajudar. Ela deve estar por aqui, inclusive.— ao mesmo tempo que ele falava, nós dois olhávamos em volta, buscando pela mulher.

Eu não me lembro dela, sinceramente... de rosto não.

— Ali está ela!— Daniel apontou para algum lugar. Eu mentiria se dissesse que prestei atenção. Apenas segui meu marido.

— Hey!— ouvi uma terceira voz e com certeza não era o que eu esperava.

O que eu esperava? Sei lá, alguém com aquelas roupas chiques francesas.

Bianca não era assim, pelo visto. Bom, ela não estava assim. Ela vestia uma calça jeans com um rasgo acima dos joelhos, uma camiseta de banda, que estava dentro da calça e uma camisa por cima. Uma camisa xadrez na cor vermelha. Um óculos escuro também. Eu não entendi esse último, mas okay. E um sorriso despojado que combinava com tudo até ali. Me lembrei dela, definitivamente.

—...mor?— despertei dessa verdadeira análise pessoal que fiz sobre minha intérprete quando Daniel me chamou.— Lembrou dela agora?

— Sim! Como vai senhorita...

— Andrade.

— Andrade, isso! Como está?— perguntei com meu melhor sorriso

— Estou bem. Vai ser um prazer guiar vocês.— ela continuou sorrindo.— Vejo que tem alguém cansado ai.— ela olhou para Nicholas.

Ele estava acordado, de fato cansado, mas envergonhado. Muito mais envergonhado.

— Diga oi, filho.— Daniel pediu e vi Nicholas dizendo um "oi" bem baixo.

— Seremos amigos até o final da viagem, senhor Nicholas!— Bianca garantiu sorrindo e seu tom de voz brincalhão fez Nicholas sorrir.

É, ela já ganhou ele.

— Eu imagino que vocês irão descansar hoje. Então amanhã começamos, tudo bem assim?— observei Bianca. Por mim aquilo estava ótimo. Eu acenei com a cabeça.

— Perfeito assim.— Daniel sorriu.

— Então vamos para o hotel.— Bianca anunciou e bom... nós a seguimos.

— Marshella é uma cidade portuária de importância fundamental na imigração e comércio.— não disse? Uma coisa que notei apenas agora: aquele sotaque dela. Um francês com português que parecem se combinar na medida certa para ficar lindo. Simplesmente lindo.

Bianca nos deu aquela informação durante o caminho para o nosso hotel. Ela se prontificou a dirigir até lá, e segundo ela: a cidade era muito bonita para não comentar sobre.

— Olha, mamãe! O que é aquilo?— Nicholas estava comigo na parte de trás do carro e apontou para uma estrutura divina. Eu não soube responder e mesmo que soubesse, fiquei sem palavras. Contemplei até onde me foi permitido, já que estávamos em movimento.

Me tirando o foco, e invadindo meus ouvidos, Bianca sorriu e nos explicou com tamanha propriedade que Nicholas não perguntou seus famosos "por quês".

— Essa é a Basílica de Notre-Dame-de-la-Garde. Literalmente: Nossa Senhora da Guarda. Quer adivinhar quantos anos demorou para contruí-la?— essa pergunta foi direcionada a Nicholas, que me olhou como quem perguntava "posso?". Eu sorri, apenas. Ele já sabia muito bem que não podia falar com estranhos, mas Bianca não era uma estranha.

— Mil anos!— ele exclamou feliz em poder dialogar à vontade com a mulher.

Bianca riu, balançando a cabeça como se ele tivesse acertado e murmurou um "okay".

— Passou um tanto longe, Nick.— ela sorriu.— Demorou vinte e um anos. Foi restaurada em 2001, e levou sete anos para isso. É tão linda por dentro quanto por fora.— pelo retrovisor eu observava a Basílica se distanciando cada vez mais.

— E qual o estilo dela?— perguntei.

— Ao contrário da Catedral, que fica em Paris, seu estilo é Renascimento Bizantino, ou Neo-bizantino.— ela respondeu me olhando. Me incomodou saber que a todo instante ela desviava do "trânsito".

— E qual o estilo da catedral?— Daniel questionou. O que me deixou surpresa, ele estava com o celular em mãos o tempo todo.

— A catedral? Meu estilo favorito: gótico.— então ela parou o carro do nada. Não me assustei tanto assim, mas logo percebi que o hotel estava bem ali.— Nós ainda iremos a Paris, não se preocupem.

— Obrigada, Bianca! Amanhã nos falamos.— já do lado de fora, Daniel agradeceu.

Confesso que estava cansada, minha despedia foi apenas um olhar mais gentil à ela. Diferente de Nicholas, que abraçou Bianca, legal.

— Durmam bem, temos muito a fazer. Literalmente.— ela sorriu.

Pude ver, sem querer, algo em sua cintura e percebi que era uma carteira de cigarros. Tudo bem, me incomodou. Ela poderia fumar, pelo menos foi profissional até agora para não o fazer.

Nos despedimos e Daniel se responsabilizou pelo check-in. Nicholas e eu fomos para o quarto.

— Mamãe, a moça bonita vai passear com a gente sempre?— ele perguntou me encarando com aqueles olhos que eram a perfeita mistura dos meus com os do meu marido.

Posso me gabar dizendo que essa perfeita mistura pende para o meu lado?

— Bom...— eu sorri enquanto o cobria de um jeito mais confortável.— A moça bonita irá nos ajudar a ver o que tem de mais legal aqui. Ela é nossa amiga.— ele sorriu e pela cara eu soube que mais uma pergunta estava por vir.

— Ela vai brincar comigo? 

— Por que não pergunta para ela amanhã? Tenho certeza que ela vai adorar.— estava tarde e era hora de encerrar nossa pequena conversa sobre a moça bonita.

Deixei um beijo casto em seus cabelos. O cabelo dele era tão macio que eu poderia beijá-lo sempre!

Nosso quarto na verdade era uma suíte de dois quartos. Daniel quis assim. Eu aceitei porque com certeza irei responder algum e-mail, e a claridade, mesmo do notebook, acordaria Nicholas facilmente.

Estava pensando se Bianca nos acompanharia pela França inteira. Paris ela deixou claro que sim, mas nossa viajem era gigante! E França não se resume a Paris, certo? Se for ela a que vai nos guiar de fato, me pergunto quanto conhecimento sobre algo o ser humano pode ter? Bianca parece conhecer a França como a palma de suas mãos.

Eu só desfoquei disso quando Daniel chegou perto.

— Estamos no país mais romântico do mundo, o que acha d—

— Amor... não. Hoje não.— o beijei e me virei para dormir.

Estava com sono. Prioridades! E Nicholas estava perto, bem no quarto ao lado... tudo bem, isso não pode ser uma desculpa já que moramos juntos. Eu apenas não estava no clima.

— Tudo bem.— senti ele beijando minha nuca e me abraçou em seguida.

Uma mulher com prioridades é uma mulher com prioridades. E a minha àquele momento? Dormir.

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My Interpreter (Rabia Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora