Pov Rafaella
Bom, claro que não faríamos nada no primeiro dia em Montpellier. Estaríamos cansados e acho que Bianca não seria do tipo que faz tudo rápido. Digo, acho que ela nos daria esse tempo de descanso, que na verdade seria um tempo para ela. O que era bom já que ela estava machucada.
Eu sei, eu sei! Ela estava bem, mas...
— São duas horas de carro, eu posso dirigir tranquilamente.— já falei como Bianca é teimosa?
— Nada disso, eu dirijo.— Daniel não estava perguntando, obviamente.
Por que com ele Bianca não rebate?
Sim, isso me emburrou legal. Eu sei que sou adulta, mas estou me sentindo completamente à parte das decisões da viagem e da... amizade deles. Inclusive, Daniel com certeza mentiu. Bianca não estudou na mesma faculdade que a gente, eu duvido muito. Eu me lembraria. Tenho certeza que lembraria.
Eu decidi ir na frente com Daniel, sei que Nicholas ficará bem com Bianca no banco de trás.
E o por quê de ela estar indo com a gente? Simples! Daniel não garantiu que saberia como chegar ao nosso próximo hotel. Se não estaríamos viajando sozinhos e Bianca a nossa espera.
Tudo bem, ela literalmente não atrapalha em nada.
Quando deixamos Marseille de verdade, ela começou a contar um pouco sobre o que veríamos em Montpellier. Eu não sei se a minha falta de animação foi por causa do que aconteceu antes da viagem ou se era qualquer outra coisa. Mas Nicholas em compensação não parava de falar sobre o Zoológico e o Aquário que estavam a nossa espera.
Foram duas horas que passaram em um piscar de olhos. Pelo menos para mim.
— Bom, nos vemos amanhã.— Bianca anunciou assim que desceu do carro. O carro em questão estava no nome de Daniel, então...
Eu não queria ser invasiva, mas onde ela ficava?
— Até amanhã, Bianca. Boa noite.— foi tudo que falei antes de entrar e deixar os três para trás.
Pov Bianca
— Boa noite, e não liga... a Rafa às vezes é grossa quando está com dor de cabeça. Tenho certeza que é isso.— Daniel me respondeu como se eu realmente ligasse. Acho que sequer percebi Rafaella sendo grossa.
— Boa noite, Bi.— Nicholas me abraçou como pôde e eu sorri.
— Até amanhã.— falei e logo eles entraram.
(...)
— Finalmente! Quando você disse que estaria trabalhando aqui eu fiquei bem confusa, mas agora que você está realmente aqui... OI!— ela me puxou para um abraço bem apertado. Talvez eu morresse sufocada.
Eu ri com o entusiasmo dela, mesmo estando a um passo de perder meus últimos mililitros de oxigênio.
— Oi, Gi... pode afrouxar o abraço um pouco? Eu realmente quero estar viva amanhã.— comentei com certo humor, o que a fez rir e me soltar.
— Não é sempre que a gente se vê, poxa...— que falsa!
Eu a olhei com uma incredulidade que não me era muito comum em dias normais, mas com Gizelly, esse olhar era bem comum.
— Nos vemos quase todos os dias!— exclamei na mesma hora. Ela riu, me puxou para dentro e fechou a porta.
— Face time não conta.— Gizelly revirou os olhos.
— Tudo bem...— cedi.— Mas nosso contato é extremamente frequente.— me sentei no sofá e comecei a desamarrar meus sapatos.
— E por que você esta aqui?— ela perguntou e sentou em uma poltrona próxima.
— Já disse... estou trabalhando. Não sei quanto tempo vamos ficar. Exceto hoje, claro. Mesmo sendo duas horas de viagem, não acho que teria pique para ser a guia turística animada.— sorri. Um suspiro cansado escapou de mim, mostrando que eu estava cansada.
Não era bem cansada mas... cansada.
— Você não faz esse tipo de trabalho, o que eu perdi?— Gizelly perguntou e já me olhou com uma cara maliciosa. Dessa vez eu revirei os olhos.
— Estão pagando bem.— balancei os ombros.
— Biazinha você mora em Paris. Você trabalha em Paris. Quer dizer, normalmente... não vou acreditar que você está aqui pelo dinheiro.— ela me olhou com uma expressão indecifrável. Ela não acreditava em mim mesmo sendo verdade.
— É um casal de amigos... quer dizer, é... é complicado. Mas ele pediu, fechou o valor que sugeri sem pestanejar e pelo que entendi, ela precisa de descanso. Então... nem eu sei, me senti quase na obrigação de ajudar.— expliquei como eu entendia tudo isso.
— Tudo que estou dizendo é: você está longe de casa, garota. Miguel está louquinho com Íris, eu tenho certeza!— ela começou a rir e eu acabei fazendo o mesmo.
— Antes fosse só ela, né? Outro dia eles me ligaram para perguntar o que a Luete come.
— Ele entrou em pânico então. Se me lembro bem, ele que te ensinou a cuidar da Lua.
— A questão é que é uma gata, e eu nunca vi uma gata tão calma como ela.
Ficamos debatendo por várias horas sobre esse assunto, até Íris me ligar.
Pov Rafaella
O tempo parecia bom, claro que não é AQUELE tempo bom, mas ainda sim... agradável.
— Que foi, hm? Você ficou quietinha do nada.— Daniel se encostou em mim como se fosse um gatinho manhoso. Eu não sabia o motivo de estar assim, de verdade.
— Nem eu sei...— confessei com um sorriso leve e ele me deu um selinho.
— Você precisa de uma massagem, e eu posso fazer isso do melhor jeito.— ele disse sorrindo. Ou se gabando mesmo? Não importava muito, eu realmente queria uma massagem.
Não tem muito segredo, eu me deitei de bruços e obviamente sem roupa da cintura para cima e ele sentou em cima de mim. Era perigoso por um motivo.
— Não vai me derrubar dessa vez, né?— ele perguntou temeroso e eu acabei rindo.
— É só você não fazer cócegas.— respondi simples.
Esse era o perigo.
Quando falei que Nicholas sente cócegas em tudo que é canto do corpo, esqueci de mencionar o fato de que eu também sou assim. E talvez, mas só talvez mesmo, Daniel tenha caído uma vez e... dois pontos na cabeça deve ter sido bem ruim. Estávamos na mesma posição e ele quis fazer essa gracinha.
Cócega é sinal de pânico, e algumas pessoas regem ao pânico com força. Tudo que eu fiz foi empurrá-lo para longe e a culpa não foi totalmente minha por ter aquele móvel no lugar errado e hora errada.
Ele não respondeu mais nada, em compensação a massagem começou. E devo dizer que ele sabe muito bem como fazer isso. Eu relaxei no mesmo instante, me senti entorpecida com tamanha paz. Até esqueci o que estava me aborrecendo. Eu juro que estava a um passo de dormir, quando senti mãos que não eram as dele. Eram menores. Eu sorri.
Bem menores.
— Não acorda, mamãe.— Nicholas disse baixo e eu fingi que voltei a dormir.
Fingi tanto que acabei dormindo de verdade.
Pov Bianca
— E onde você pretende levá-los primeiro?— Gizelly perguntou.
Nós estávamos em um café perto da casa dela, e eu terminei de engolir meu cappuccino.
— Ao Antigone, talvez. Eles vão gostar.— comentei sorrindo.
Era hora de apresentar Montpellier.
X
É isso mesmo, nessa fic a Gi vai ser amiga da Bia, e mais pra frente a Marcela vai aparecer como amiga da Rafa, amaram?
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My Interpreter (Rabia Version)
FanfictionCansada da rotina corriqueira que vive, Rafaella Kalimann decide tirar um tempo para si. Sem estresse, sem trabalho. Apenas ela e sua família. Casada com Daniel Caon há dez anos, o casal possui um filho, Nicholas, de seis anos. O destino? França. Ma...