Capítulo 25: Você não vai bagunçar tudo, vai?

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Pov Bianca

Quando percebi que ela foi embora acabei ficando sem ação mesmo querendo fazer algo. E sim, eu caminhei até o hotel, mas no meio do caminho fui parando e parando até eu acabar ficando de vez em frente ao rio Loire. Como Rafaella pensaria: chill out. Mas sabendo que esse termo significa "relaxar", não sei se conseguirei muito. Porém a vista me prendeu ali por alguns minutos. O que eu farei ao vê-la novamente? É óbvio que foi um momento bem errado, e só aconteceu pela emoção do momento, eu acho. E para dizer a verdade, eu gostei. Quem seria o louco a ponto de não gostar do jeito que ela sutilmente coloca a mão no pescoço e puxa um pouquinho? Eu gostei, mas não é algo que devo colocar em uma espécie de pedestal, entende? O que me preocupa agora, é como ela se sente. E me preocupa mais ainda o fato de eu não saber como fazê-la se sentir melhor.

Pov Rafaella

Quando eu a deixei para trás tudo ficou vermelho em minha frente. Não lembro em qual momento peguei Nicholas, não lembro como cheguei aqui no hotel e... o que está acontecendo comigo? Em qual universo beijar ela seria uma boa ideia? Como eu não penso nas coisas mais simples? Por exemplo: eu sou casada!

— Nick... quer se ajeitar para dormir?— eu sei que talvez ele esteja confuso ou até assustado. Meu comportamento não está sendo normal.

— Posso brincar um pouco antes?— ele visivelmente já estava cansado, mas parece que tira energia não sei de onde...

— Pode, mas não antes de tomar banho e colocar o pijama.— e eu sei também que provavelmente o colocarei na cama daqui uns vinte minutos, completamente "desmaiado".

Criança é assim, né? Teima até não aguentar mais.

Suspirei sem saber o que pensar. E confesso também que me "ocupar" com Nicholas é uma forma não totalmente inconsciente de tentar deixar para lá a minha atitude impensada.

E de repente, alguns toques contra a porta.

Eu senti meu corpo virar uma espécie estranha de gelatina.

Se recomponha, Rafaella!

Eu levantei e andei até a porta, mas como se eu fizesse isso inconscientemente. Tinha algo me levando até a porta. Então abri.

— Ce n'était rien, Rafaella! Vous n'êtes pas obligé de courir comme ça.— Bianca entrou e saiu falando um monte de coisa, e começou a andar de um lado para o outro. (Aquilo não foi nada, Rafaella! Não precisa sair correndo desse jeito.)

— Bian—

— Vous êtes marié et je sais, tout le monde le sait. Nous avons bu et avons fini par faire quelque chose de nul.— ela continuava andando no meio da sala. (Você é casada e eu sei, todos sabem. Nós bebemos e acabamos fazendo algo sem noção.)

— Bianc—

— D'accord, c'est la deuxième fois que vous essayez et cette fois cela a fonctionné et— (Tudo bem que é a segunda vez que você tenta e dessa vez deu certo e)

— Bianca!

Eu não gritei, mas ela parou.

— Português, por favor?— pedi de braços cruzados.

— Certo.— ela parou e olhou para um ponto aleatório por alguns segundos, depois me olhou.— Você corre rápido, sabia? Não tem uma hora.

— Não estávamos longe...— essa foi a minha desculpa, e não estávamos mesmo.

— Que seja. O que aconteceu já passou, não vamos ficar estranhas pelo resto da viagem, por favor... Ou se você quiser, terminamos tudo agora mesmo. Sem problema algum.— pela maneira que ela falava, ela com certeza estava...

— Você está bêbada?— perguntei de um jeito um tanto cortante, confesso.

— Se eu não estivesse, não teríamos nos beijado.

Oh... isso não deveria ter mexido comigo. Mas eu também estou, então...

— Certo...— e agora eu olhava para um ponto qualquer.— Me desculpa pela segunda vez. Sinto muito por ter me comportado de uma maneira tão... irracional.

— Não vai acabar com a viagem?

— Essa é a sua maior preocupação agora?

— Sim? Isso implicaria várias coisas: eu teria que te levar ao aeroporto, teria que cancelar várias coisas ao redor do país, teria que... muitas coisas.

Ela estava certa. O problema de eu ter beijado ela, é unicamente meu. Ela é solteira, até onde sei. A preocupação dela é justa, pertinente.

Eu suspirei.

— Não vou terminar a viagem.— foi um erro falar isso assim. Mas falei.

— Ótimo, porque vamos a Paris semana que vem. Eu não aceito que você vá embora sem passar por lá. Justo você que acredita em clichês.

— E por que eu sou importante aqui para você?

— Porque...

— Eu deveria ter ido embora assim que tentei te beijar da primeira vez.

— Eu não queria voltar para casa tão cedo, okay? Essa viagem não estava sendo um escape só para vocês.

Tá, a situação é a seguinte: nos beijamos, eu corri, Nicholas está tomando banho ou brincando no quarto, Bianca apareceu aqui e agora eu estou curiosamente achando que ela está com uma puta vontade de dizer algo, e até mesmo chorar. Talvez seja um bom momento para deixar a situação principal de lado e saber o que acontece com ela.

— Você pode me contar, Bi.— sem duvidas amenizei a voz.

E foi bem aí. Ela desabou, mas não em lágrimas. Talvez algumas poucas lágrimas. Estava na cara que ela só queria desabafar. Eu deixei.

Não sei o tempo que fiquei escutando ela, mas soube de tudo que mais a deixava assustada.

— Você provavelmente já escutou isso várias vezes, mas... ela precisa saber.— e como eu imaginava: ela me olhou como se fosse a ideia mais absurda de todas.

— Você não acha que o tempo que passou já é o suficiente para enterrar essa história?— ela me olhava de um jeito tão sensível, que me sensibilizava -muito-.

— Sim, mas não está enterrando só essa história. Está enterrando a relação de vocês junto. E isso vai de você para resolver.— quantas vezes ela não deve ter escutado isso?

— Eu não sei como fazer isso, Rafaella!— ela levantou, já que estávamos no sofá.

— Parece que você tem medo dela...— levantei também.

— Eu tenho medo de perder o mínimo que já tenho. Se eu perder ela, quem me resta? Meu pai está por aí no mundo, minha mãe está ocupada sendo uma mulher foda, e Íris... vive comigo, briga comigo, mas em meio aos conflitos se enfia na minha cama de madrugada. E é esse pouco que eu tenho medo de perder.— seu olhar mostrava que ela estava um pouco envergonhada por estar contando sobre tal assunto.

— Você tem a mim. Nicholas... claro que não é muito para você agora.— de onde eu tirei isso?

Ela sorriu, mas negou com a cabeça.

— Vocês vão embora, esqueceu? Por agora sim, eu tenho vocês e amo acordar sabendo que o meu dia será repleto de momentos ao seu lado. Tenho Gizelly, meus amigos... mas eu falo de família. Íris é sensível, eu tenho que achar uma forma de lapidar a informação.— ela cruzou os braços de um jeito como se ela estivesse "se abraçando".

— Eu posso te ajudar. De verdade.— me aproximei e involuntariamente descruzei o braço dela. Nossos braços foram abaixando e no final nossas mãos continuaram juntas.

Pov Bianca

Ela não pode simplesmente entrar na minha vida assim, pode?

Você não vai bagunçar tudo, não é, Rafaella?

My Interpreter (Rabia Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora