Pov Bianca
Quando deixamos o terceiro jardim, Rafaella decidiu que estava na hora de irmos embora e eu aceitei. Não vou falar que existe mais de 50 pontos turísticos aqui. E novamente, como sempre, o caminho foi silencioso até o hotel. Exceto por Nicholas, e justamente esse serzinho que começou a pedir incessantemente que eu ficasse com eles no mesmo quarto. Eu não sei o que ele tem comigo, de verdade!
— Tudo bem...— Rafaella interrompeu o filho e me olhou.— Por que você não entra e nós assistimos alguma coisa?— então ela olhou para ele como quem diz "só isso". E eu deliberei um pouco internamente sobre isso. Mas não seria de todo mal, só um filme.
— Tudo bem.— sorri levemente.— Mas só isso, não posso demorar.
Nicholas entendeu que sua ideia não era nada viável e aceitou. E confesso que eu estava bem tímida. E mesmo levemente desconfortável eu me permiti ficar ali com eles durante aquele filme. Eu não faço a mínima ideia de qual filme seja.
Porém, nada saiu como o planejado. Lembrei do dia que Nicholas ficou em meu quarto dizendo que queria brincar e essas coisas, e acabou babando no travesseiro meia hora depois. E sabe o que aconteceu agora? A mesma coisa! Eu ri, Rafaella riu e fomos tomadas por uma torta de climão.
— Bom, eu acho que para você não ter ficado atoa, eu posso te oferecer pelo menos uma taça de vinho.— Rafaella disse com a voz levemente baixa. Estávamos sobre a cama, com Nicholas no meio e já em seu décimo quinto dono.
— Eu faria isso sozinha mas acho que vou aceitar sim.— sorri levemente e ela fez o mesmo.
Nós saímos do quarto, e já que era uma senhora suíte, espaço não faltava.
— Eu sinceramente não sei quais vinhos tem aqui, mas—
— Puxe a primeira garrafa que sua mão tocar e será essa.— sugeri um pouco na graça, mas foi o que ela acabou fazendo. E em sua mão uma belíssima garrafa de vinho tinto se acomodou. Ela riu.
— Grands Echezeaux Grand Cru, 2016.— ela praticamente inspecionou a garrafa.— Pronunciei certo?— perguntou me olhando.
— Nem parece uma estrangeira.— brinquei.
Ela praticamente me puxou para a "sala" e abriu a garrafa. Rafaella também serviu o vinho, com uma maestria invejável, devo dizer.
— A cor dele não parece uma espécie de vermelho-rubi?— ela questionou balançando a taça lentamente contra a luz, e depois levou a mesma para perto do nariz para sentir o aroma.
E eu fiz o mesmo, mas notei algo sucinto em minha taça.
— Parece ter o reflexo violeta.— comentei.
— É um vinho com personalidade. Nossa!— ela comentou sorrindo depois de beber um gole, eu fiz o mesmo para comprovar o que já sabia. Eu conhecia esse vinho, ele é "corpulento", tem presença e deixa gosto de quero mais.
— Consegue sentir as especiarias ao final?— perguntei.— Um gostinho de...
— Cacau, não?
— Tem algo a mais, como se bem no finalzinho desse para sentir um leve gosto de... de... pimenta-do-reino. Você não acha?— olhei para ela.— Inclusive é um ótimo vinho com queijos finos.
— Você é sommelier, por acaso?— ela riu.— Eu senti esse finalzinho com gosto de ameixa, mas bem suave.— ela degustou mais um pouco até que pareceu lembrar de algo.— Tem um queijo aqui, que na minha humilde opinião de estrangeira, combinará muito bem. Espere um pouco.
Rafaella levantou e saiu. Fiquei ali por cerca de dez minutos, ou mais, até que ela voltou.
— Uma vez misturei esse queijo com outro vinho tinto bem menos encorpado do que esse, acho que talvez fique bom.— sua demora teve um motivo. Uma pequena tábua de madeira muito bonita, e se não me engano essas coisas não ficam nos quartos dos hotéis, mas não questionei. Ela fez questão de cortar o queijo e colocá-lo de uma forma bonita ali em cima.— Eu falaria para você provar e depois adivinhar o queijo, mas você mora praticamente no país dos queijos e vinhos, não tem graça.— ela brincou.
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My Interpreter (Rabia Version)
FanfictionCansada da rotina corriqueira que vive, Rafaella Kalimann decide tirar um tempo para si. Sem estresse, sem trabalho. Apenas ela e sua família. Casada com Daniel Caon há dez anos, o casal possui um filho, Nicholas, de seis anos. O destino? França. Ma...