Capítulo 16: Nantes

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Pov Bianca

Nantes... O que dizer dessa cidade? É arte pura!

Mas claro que nada é tão fácil assim. Uma viagem de seis horas, isso com muita sorte. Deixei Daniel decidir como fazer. Podíamos ir de carro, de trem... eu particularmente acho que ir de trem tem todo um charme, já que passaremos por algumas vilas e cidades como Rezé, Indre, Carquefou, entre outras. E ir de trem, mesmo com o tempo mais elevado de viagem, pode ser muito bonito.

E por falar nisso, já estávamos dentro desse meio de transporte tão fascinante, ao meu ver. Hoje em dia podemos considerar as dificuldades de ver uma locomotiva a vapor, já que são menos eficazes e todas essas coisas. Porém estamos na França, e aqui nada é impossível. Novamente, deixei que eles escolhessem como prosseguir com a viagem. E posso dizer que me surpreendi de certa forma, geralmente as pessoas querem tudo rápido, correndo. Talvez seja o mal desse mundo moderno. A necessidade de se ter tudo em um curto espaço de tempo. Ao meu ver, perdemos as belezas mais sutis que existem. Particularmente adoro perceber detalhes quase ocultos. Como uma senhora colhendo uma rosa cuidadosamente e a entregando para um garotinho. Isso aconteceu há poucos minutos, não estamos nem perto de Nantes ainda. São essas pequenas belezas que gosto de ver. Sei que se estivéssemos em trens mais velozes não teria tempo suficiente para que nossos olhos pudessem registrar esse tipo de cena.

Pov Rafaella

Não pensei que estaria dentro de um trem a essa altura das coisas. Não estou reclamando! Sinceramente é a primeira vez que vejo uma locomotiva dessas pessoalmente. Essa se quer está indo para o nosso destino. Quer dizer, não é seu destino final. Nantes é apenas uma das últimas paradas. Mas acho que assim como nós, quase todos os passageiros estão curtindo essa experiência. E também estou me esquecendo completamente que eu não moro aqui. Como será que Manu está?

— Eu preciso fazer uma ligação, já volto.— avisei para os três, que me olharam sem ligar muito.

Dessa vez Daniel fez toda questão do mundo para que Bianca ficasse conosco no mesmo vagão. Eu já estou cansada de desempenhar esse papel, ainda bem que ele o fez. Não entendo. Não sei se somos nós, ou se é Bianca. Por que ficaríamos incomodados em tê-la perto durante esses momentos ao longo de toda essa viagem que estamos fazendo? Pensei na possibilidade de eu e Daniel sermos extremamente receptivos. Infelizmente somos de verdade. Pensei também no fato de ela não querer ficar perto durante momentos que não envolvem suas funções aqui. Já disse que não gosto de pensar nela desse jeito? Eu sei, nós pagamos por isso. Ela está trabalhando e é só isso. Mas não posso deixar de me sentir desconfortável empregando esse sentido a ela. Ela me deixa confusa com todo esse ar misterioso que exala.

Comecei a me lembrar dela durante a faculdade, de fato ela esteve ali e de fato eu nunca dei muita bola, mas minha maior desculpa, ou motivo, é que sou perfeccionista demais em tudo que faço e os tempos de faculdades foram os mais turbulentos. Sempre tentando ser a aluna exemplar. Se não me engano, o tempo que Bianca ficou por lá foi um daqueles momentos onde nada parece dar certo. Me sentia em constante falha. Então eu recorria ao meu namorado que sempre esteve ali por mim, talvez seja essa a razão de eu não ter dado muita atenção, não para ela somente, mas para muitas outras pessoas. Se ela não tivesse partido, talvez poderíamos ter mais lembranças juntas.

Saí do vagão que estava e parti para uma espécie de área comum. Peguei meu celular e rezei para que Manu não fosse pega pelo fuso horário.

— Quem é viva sempre aparece!— a voz dela me fez sorrir na hora.— Como está aí?— pelo barulho eu posso jurar que ela está onde eu deveria. Trabalhando.

Me sentei em uma das cadeiras. Esse trem é enorme, meu Deus!

— Me sinto péssima por te deixar aí. Aqui está tudo bem. Nesse exato momento eu estou dentro de um trem que nos deixará em Nantes.— apoiei levemente a cabeça em minha mão. Quem me vê de fora pode achar que estou em uma ligação difícil ou algo assim.

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