Capítulo 23: Claro que não tenho sentimentos por ela

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Pov Rafaella

Esqueça a noite de ontem. Esqueça a noite de ontem. Esqueça a noite de ontem.

— Rafaella?

Bianca me despertou, confesso.

— O que você acha de um tipo de jardim suspenso?— ela me perguntou tão séria que até parecia uma pergunta realmente pertinente. Tudo bem, até era.

— Se eu visse um, com certeza não reclamaria.— essa foi a minha melhor resposta, mas eu sorri.

— Então está na hora de você criar opinião sobre isso.— ela me olhou com aquele olhar de "vamos lá, vou te mostrar mais alguma coisa super legal e talvez apresentar um pouco de história por trás".

O caminho não foi grande mas também não foi pequeno, mas era tão agradável andar por ali, que mal notei. E Nicholas continuou a fazer suas habituais perguntas... algumas Bianca e eu até respondemos, outras só uma risadinha bastava. E admito que fiquei quieta a maior parte, embora eu não seja uma pessoa extremamente aberta, extrovertida, eu sei que meu pequeno silêncio não é o dos mais agradáveis. Mas sei também que vai passar.

Claro que um jardim suspenso assim dispensa explicações e comentários. Era fascinante!

— O princípio do jardim é que ele mistura plantas de todas as esferas da vida: continental, exótica, mediterrânea, selvagem, híbrida, plantas daninhas, gramíneas, árvores, arbustos, lianas...— eu pensei que Bianca estivesse falando isso mas não, ela estava lendo a seção de informação sobre o lugar.— E a única limitação é o espeço...— ela me olhou.

— Eu não ligaria se isso aqui tivesse mais de sei lá... mil metros quadrados... a gente consegue sentir com clareza que o ar é diferente.— pela força do dizer, vamos colocar assim, eu respirei fundo, sentindo a veracidade do que acabei de falar. Era um dos melhores ares que já pude respirar. E é engraçado falar assim, tem gente que pensa que ar é ar em qualquer lugar. Não julgo o pensamento, sei que não percebemos na maioria das vezes. Mas estar cercada por plantas de sei lá quantos tipos me fez notar a diferença imediatamente.

Continuamos ali por um bom tempo, não vou mentir. Eu gostei do lugar, e tem uma escada que nos permite ver tudo isso de cima. Claro que a experiência fica ainda melhor. Nicholas parecia tão animado quanto eu, o que eu achei extremamente fofo. Mas tudo o que é bom, uma hora acaba. A noite começou a cair e logo fui avisada que os passeios noturnos estavam para começar, mas infelizmente não aquele dia.

Pov Bianca

Chegamos ao hotel e eu fiquei sem saber como agir quando Nicholas pediu novamente para que eu ficasse, alegando que a primeira vez não deu certo. É, não deu mesmo.

— Você dormiu!— expliquei, tentando soar o mais divertida possível.

— Mas era a noite... a noite é tarde.— ele também estava rindo daquele jeitinho que só ele sabia, tentando me convencer na cara de pau!

— Outro dia, okay? Eu preciso resolver algumas coisas pendentes ainda hoje. Outro dia, se você não dormir.— sugeri e aproveitei para impor uma condição que eu sei que não será levada a sério.

Ele considerou a proposta. Ótimo!

— Boa noite, Bi.— não, Nicholas não me beijou, abraçou, ou qualquer outra coisa, e tudo bem! Ele não é desse tipo, eu acho. E isso não me incomoda em nada.

Porém... sempre tem um porém, não é?

Ele saiu varado do corredor, literalmente. Me pergunto o que ele tanto gosta de fazer no quarto. Televisão? Jogar alguma coisa no celular? Não que ele tenha um, mas vocês entenderam. E por ele sair assim, vamos supor que eu tenha ficado sozinha com certo alguém.

— Bom...— comecei.— Amanhã podemos começar a estender os passeios para o período noturno, se você não se importar.

— É... acho que seria bom.— ela sorriu mas ainda estava bem "estranha".— Não sabe como chega a ser monótono ficar acordada sozinha. Nicholas dorme que nem pedra, e os horários não batem muito bem para eu manter contato com Daniel ou com a Manu... é realmente... monótono.

Pov Rafaella

E quando alguém te faz companhia você bebe e tenta beijar a pessoa, que coerente!

Pov Bianca

— Bom! Fico feliz em avisar que suas noites monótonas terão fim. E Paris está perto, não vamos dispensar as noites por lá.— sorri e ela também, claro... estávamos perto do clichêzinho mais esperado...

— Obrigada por mais um dia de conhecimento.— ela brincou.

— Nah... nem estou falando tanto assim ultimamente. Mas se você está gostando, então que bom! Né?— né?

— Eu gosto quando você fala e até quando você não fala nada além de bom dia. Embora você esteja sendo paga para isso, os encartes explicativos são bem... como diz o nome, explicativos. — ela sorriu, e eu ri levemente.

E lá estava Rafaella, corada. A questão é, corada de vergonha ou de felicidade? Não sei. Realmente não sei.

— E o remédio? Você está tomando ou não precisa?— perguntei realmente preocupada e não tentando só tocar o assunto para frente.

— Obrigada pela preocupação, Andrade. Eu estou tomando sim. Tenho certeza que se entrar em contato com amendoim, ainda terei uma chance de vida.— ela disse rindo e até com certo deboche.

— Bom... eu vou indo. Amanhã nos vemos e se prepare!

Pov Rafaella

Agora que o clima voltou ao normal, eu acho, entrei no quarto sentindo um pouco mais de paz. Paz interior mesmo. Meu celular tocou e era Manu. Foi só falar nela...

Claro, eu deixei uma mensagem mais cedo, explicando tudo o que houve entre Bianca e eu há horas atrás.

Claro que não foi nada demais, mas eu não posso guardar para mim. É confuso, chato, sufocante.

— Oi, Manu...— parece sem ânimo, mas eu não pude formular uma recepção melhor.

— Como assim você quase... como assim, Rafaella?!— a baixinha não estava falando baixo, isso eu sei.

— Me coloque perto de uma garrafa de vinho e me dê corda.— brinquei.

— Duvido que ela tenha dado corda. Você disse que ela foi embora sem olhar para trás.— Manu estava em sua casa, eu pude ouvir seu cachorro.— E se deu, foi corda para você se enforcar.

— Deu certo. Se te contei, já estava sem ar.— adoro nossas conversas pois são cheias de "metáforas" e todas essas coisas.

— Me conte tudo nos mínimos detalhes.— eu sorri com seu pedido.

Como se ela pudesse me ver, eu me ajeitei no sofá que estava.

— Foi basicamente aquilo que te falei. Nós bebemos um pouco, eu tentei saber mais sobre ela e acho que foi bola fora... acabei sucumbindo ao álcool e misturei as coisas...

— Mas você... você sente alguma coisa... por ela?— ela perguntou com um receio palpável, devo dizer.

— Mas é claro que não! Ela se tornou uma amiga aqui, apenas isso. Estou falando, não sei beber. Não posso, e não presto para isso.

X

Aiai Rafaella, no fundo nem você acredita nisso...

My Interpreter (Rabia Version)Onde histórias criam vida. Descubra agora