Chapter 176 A última noite juntos num passado tão distante

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Arco 4 Capítulo 176 A última noite juntos num passado tão distante

(Nota de introdução: Conteúdo 18+)

As velas acesas no castiçal de prata ainda cintilavam a iluminar o quarto, diminuindo gradualmente de tamanho.

Seus olhares como estrelas orbitando tão próximas, atraídas por suas luzes distintas, tremeluzindo em intensidades diferentes.

O cenário era um dos aposentos do Palácio Tian Tan, em eras quase esquecidas.

— Não pretendo usar a força para mantê-lo ao meu lado... Passe o restante da noite... Junto de mim... Deixe que eu veja seu rosto novamente ao amanhecer.

Ao fazer o pedido com voz cava, seus lábios selaram-se num estalido e um beijo vindo de Lao Shi nunca tinha uma conotação simples.

A carícia iniciada nos lábios se propagava tão certa quanto um princípio de incêndio, seus olhos forçosamente fechavam-se com o gesto a se aprofundar no mesmo espaço de tempo que o frágil pergaminho flutuava até o chão... Desfazendo-se mais uma vez em cinzas.

Seus lábios apenas se apartaram quando tinham seus corpos deitados de lado na cama, seus cabelos espalhados, quase misturados numa trama de fios.

Por mais que quisesse adormecer profundamente até o dia seguinte, dormir não era opção.

— Lao Shi... — A voz de Hai Lang soou demasiado baixa. — Você contou que nos conhecemos no mar, que eu me refugiei no mar... Como isso é possível? Para ter me refugiado no mar, roubei alguma embarcação?

O braço de Lao Shi abraçou o rapaz pela cintura, trazendo-o mais perto de seu corpo, seus olhares emparelhados sob a luz oscilante das velas.

— Há um barco que pertence ao Imperador, ele pode usado por nobres em missões entre os Reinos. — Lao Shi contou com seu olhos valsando no rosto compenetrado de Hai Lang. — Eu já tinha sido nomeado Duque e saí em missão diplomática, porque era um dos poucos da Corte com experiência náutica... Quando eu estava me preparando para voltar, o mar estava calmo e eu resolvi explorar a área daquela baía, então me deparei com um recife de corais.

Hai Lang estava tentando imaginar... Ele não se lembrava de ter visto o mar, não sabia como era o cheiro da maresia, que dirá um recife de corais.

Embora Lao Shi estivesse contando o que era parte de sua história, Hai Lang ouvia como se fosse a história de alguém que não existia mais.

— Os recifes eram rasos, do tipo que precisam ficar perto da superfície e as cores eram magníficas à luz do dia e já que o mar estava sereno, eu resolvi mergulhar e ver de perto... Mas, a vida marinha exuberante perdeu seu fascínio, assim que vi você escondido sob uma formação rochosa submersa.

O rapaz arregalou seu olhar envolto pela meia luz do aposento, entreabrindo de leve os lábios úmidos.

— Está dizendo... Que eu estava imerso e escondido dentro do mar? Isso não pode ser possível...

O Duque sorriu sutilmente, ajeitando-se no travesseiro de fronha macia e acetinada, sua forma de sorrir e fitar Hai Lang era envolvente como a penumbra.

— Acha que não?... Não esqueça que Hai Lang tem uma ligação estreita com a água. Eu não sabia o que pensar, você estava abraçado aos próprios joelhos, de olhos fechados, pensei que pudesse estar morto no primeiro segundo... Mas, não... Eu me aproximei quase no limite do meu fôlego... Você era exuberante e belo como a vida do recife, ainda que estivesse ferido.

Hai Lang engoliu a saliva acumulada no interior de sua boca, algo inquieto, apreensivo.

Ele podia respirar debaixo da água tal como um peixe? Ou não precisava? Sua ligação com a água apenas acrescentava seu próprio medo, quanto mais descobria.

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora