Chapter 312 A despedida de dois príncipes e a última flor de outono

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Arco 6 Capítulo 312 A despedida de dois príncipes e a última flor de outono

Seus argumentos eram pedrinhas sendo atiradas num logo, quicando na superfície em suaves ondulações, afundando em seguida como se não tivessem qualquer valor.

Xie Lian coçou a testa, porque não queria bufar por estar tão irritado, mas inutilmente, essa mesma irritação terminou por vazar em sua voz em resposta a réplica insensível de Jun Wu.

— Eu tenho que dizer, Jun Wu... Nem quando você tentou me tornar o segundo Bai Wu Xiang, fiquei com tanta vontade de esmurrar sua cara.

Provavelmente, se fosse uma outra ocasião, Jun Wu soltaria uma risada baixa diante do dito, ainda mais considerando quem a tinha proferido.

No entanto, como ele se sentia apenas com meio coração, existindo precariamente como se a alma tivesse sido extirpada de seu corpo, ele tão somente suspirou, fechando brevemente os olhos.

— Nada que Xian Le me diga, vai me fazer voltar atrás na minha forma de pensar. — Jun Wu refutou, a voz grave tornando-se cava. — Se não se importa, não diga mais o nome dele... Dói mais do que vinte bofetões seus.

— Não tanto quanto ver meu senhor desistir... Dói mais do que cem espadas perfurando o corpo.

— É sobre isso? —Jun Wu inquiriu erguendo levemente as sobrancelhas, seu tom adquirindo nuances cansadas. — Nem Xian Le sabe mais o que está descontando em mim.

Xie Lian respirou fundo, tendo tanto engasgado dentro de si, remoendo gatilhos recém despertados, mas se esforçando para retomar seu tom comum, sua calma aliada a sua gentileza e sua gentileza aliada a sua sabedoria.

— Nunca tivemos chance de falar sobre isso, mas como eu mesmo disse: deixe no passado. Agora estou ressentido pela sua falta de senso no presente... É diferente.

— Seja um pouco indulgente, Xian Le... Não posso fazer nada sobre isso e não muda o fato de que sou grato pela guarida, ninguém mais teria me acolhido.

Xie Lian forçou um sorriso discreto, ainda inconformado em seus modos:

— Não é totalmente verdade, meu senhor... Tenho certeza que Lorde Mestre da Chuva também o teria aceitado.

Jun Wu assentiu tão fracamente, que Xie Lian se perguntou se ele estava de fato prestando atenção naquela conversa, o semblante dele estava distante, como se a mente estivesse focada no próximo passo... Longe de tudo e de todos, até de si mesmo.

A verdade é que Jun Wu já havia estado no Reino YuShi, se retratado com a deusa por sucessivos erros ao se tornar servo dela, desde que Huan Shui havia sumido naquela floresta desolada e destruída com Bai Wu Xiang, o deus menor estava se soltando de todas as amarras para poder partir.

No aposento, retirou o restante de seus poucos pertences, a discussão com Xie Lian arrefeceu como um tufão triste que se converteu numa chuva prestes a se extinguir e antes do sol tocar a fronte do santuário, Jun Wu se foi pelos caminhos, descendo a colina na vila Puji.

Xie Lian o acompanhou até a parte externa, o sol morno num dourado pálido tocava a passagem onde ficava a placa pedindo doações e inconformado, presenciou Jun Wu se distanciar.

Quando o deus menor saiu do alcance de seu olhar, Xie Lian olhou casualmente para a árvore próxima ao santuário e foi um tanto irrefletido que seu olhar resvalou no chão que em poucos dias seria coberto pela geada.

Era inesperado, ainda havia uma das três flores que resistiram durante todo o outono.

Para Xie Lian ela era o símbolo da última esperança que se nega a perecer no momento difícil do frio.

Não a sua esperança.

Mas, a esperança que Jun Wu necessitava mais do que nunca.

Mirando-se fixamente nela, meditativo, o deus de branco teve uma pequena elucidação.

Não querendo perder a paixão que esse pequeno lampejo de ideia lhe causava, ele correu para dentro do santuário e após derrubar meio dúzia de objetos acidentalmente, não tardou a retornar com uma cuia e uma colher que já tinha usado para preparar sopa.

Arregaçando um bocado as mangas, ainda que estivesse frio, Xie Lian se ajoelhou e começou a cavar com a colher em torno da flor, tendo o cuidado de não magoar as raízes.

Não foi uma tarefa muito fácil, visto que Xie Lian não era muito bom em jardinagem e a terra estava misturada a pedrinhas e tão pouco ele tinha o material adequado, então demorou um pouco até conseguir escavar de modo que pudesse retirar a flor intacta junto com uma boa quantidade de terra.

Seu rosto estava sujo e seu traje branco parcialmente arruinado, mas Xie Lian não poderia estar mais feliz dentro daquele pequeno momento.

Assim que acomodou a pequena flor dentro da cuia, ele largou a colher pelo chão e entrou mais uma vez no santuário, salpicando um pouco de água na terra dentro da cuia e nas pétalas miúdas da flor que estava levemente curvada.

Ele observou no entorno do Santuário Puji e foi em sua cozinha que achou um pedaço iluminado pela luz do dia.

Colocou bem ali a cuia com a flor e deu uma boa olhada nela como se contemplasse algo muito bonito e raro.
Contudo, o sorriso de Xie Lian anuviou.

E se a flor morresse de qualquer modo?

Não, ele não podia crer em algo assim... Convicto que o santuário funcionaria como uma estufa que a protegeria do frio, ele não esqueceria de rega-la nem por um dia.

Sem poder sorrir com a mesma paixão de antes, ainda pensava em Huan Shui.
Retirando um de seus amuletos em forma de borboleta da manga encardida de terra, olhou quase demoradamente, desejando que a réplica entregue ao jovem deus perdido fosse queimada.

Quanto a Jun Wu, já que não havia meios de provar o quanto ele estava errado... Não havia o que fazer, a não ser deixá-lo seguir sozinho e entender seus enganos no seu próprio tempo.

Esse que seria para Xie Lian o verdadeiro milagre.

Esse que seria para Xie Lian o verdadeiro milagre

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora