Chapter 224 A madrugada do desiludido, do elucidador e do elucidado

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Arco 5 Capítulo 224 A madrugada do desiludido, do elucidador e do elucidado

A lareira acesa não duraria muito tempo.

Durante o tempo que viveu em Zhen Yan, Jun Wu havia presenciado vários momentos do líder daquele vilarejo.

Curiosamente, nunca o tinha visto tão desolado como naquela noite.

Nem mesmo na ocasião da morte de sua segunda esposa que havia sido brutalmente assassinada pelo próprio filho, ou mesmo na noite em que as crianças atacaram os cultivadores usando máscaras brancas, controladas por Bai Wu Xiang.

Assim que Huan Yijun ouviu sobre o fantasma de Huan Liang, ele encarou o fogo consumindo a lenha na lareira em silêncio contrito por alguns minutos.

Jun Wu não disse nada, permaneceu sentado no lugar de antes e se serviu de uma terceira dose de licor.

Após momentos de amarga reflexão, o Sacerdote chefe deu às costas para a lareira, lançou um olhar vago ao Daozhang que lhe retribuiu o fitar e simplesmente disse que ele deveria permanecer no templo para outros esclarecimentos ao amanhecer.

Jun Wu meramente retrucou de volta: “Como quiser, Sacerdote chefe.”

E o viu sair, enquanto esvaziava seu terceiro copo.

Não sabia bem o quanto faltava até o amanhecer, mas Jun Wu sabia que precisava repor a energia espiritual que tinha perdido, não poderia somente depender do mana de Feng Xin, ou da medicina de Wu Chang.

Então, ele respirou fundo, tocando de olhos fechados a própria têmpora, sua mente oscilando pelo efeito do licor. Mesmo tendo sido aquecido, o teor alcoólico ainda devia ser alto.

O licor Baijiu tinha reputação de ser forte o suficiente a ponto de arrastar os mais experientes beberrões para sarjeta.

No entanto, foi dentro do silêncio daquele grande templo, com o fogo da lareira quase se extinguindo, que de olhos fechados em meio a meditação, Jun Wu ouviu.

O som do erhu.

De pronto Jun Wu abriu os olhos.

De onde vinha?

Seu coração se sentiu assombrado e nos segundos seguintes ele pensou que alguém estivesse tocando o instrumento nas redondezas.

Não sabia se sua confusão se devia pelo efeito do licor, mas ele se quer conseguia discernir de que direção vinha... Quando simplesmente parecia estar em sua mente!

Ele respirou fundo, ainda ocupando a cadeira.
Estaria alucinando de tanta saudade?

Jun Wu anulou o gesto de tocar a têmpora e se levantou, caminhando pelo aposento, tentando escutar o que a música lhe dizia com clareza.

Não precisou sequer de sessenta segundos para ter certeza que o som era do erhu de Huan Shui.

Os sentimentos sendo dispersados na música... Eram todos dele.

E Jun Wu tinha certeza que ele estava sofrendo, sem perceber que música seria, apenas o notório.

Que a melodia era belíssima, mas carregada de dor, de culpa, de melancolias invernais.

Seu coração pulsava numa cadência absurda, seus pensamentos se enchiam do improvável.

Ninguém mais estava ouvindo... Somente ele?

Não era possível.

Jun Wu estava na parte mais escura do aposento, sentindo o aroma das ervas medicinais, seus dedos tocando sem mesmo perceber a bancada fria.

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora