Chapter 199 O que existe por trás do abraço, as razões ocultas do silêncio

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Prólogo A madrugada das dores intrínsecas e do início da vingança

Largado para morrer.
Sem água, sem comida.
No escuro.

Mu Rong sabia disso, o corpo do pobre rapaz assassinado mais cedo dentro da prisão estava largado numa via pública da Capital imperial, em cada canto, com a guerra sob controle, falava-se sobre o Duque traidor e seu amante mantido no luxo de um palácio escondido.

No entanto, ninguém sabia que fim tinha levado aquele homem imponente e atraente, que antes era o governador daquela província.

Alguns diziam que o Duque havia conseguido fugir, ele nunca mais retornaria.

Nenhuma especulação nos becos, avenidas e vielas estava correta.

Mas, Mu Rong sabia de quase tudo, tinha sido “convidado a se retirar” de seu posto de vice-governador pelo Chanceler Nan Quan e obviamente, ele não contestou.

Poucos levavam Mu Rong à sério, Nan Quan não era diferente.
Por isso mesmo, descendo até as masmorras sorrateiramente durante a madrugada, ele não encontrou nenhum soldado da Guarda Real vigiando a porta.

Ou Lao Shi estava morto, ou em agonia.

Em todo caso, ninguém se importava mais.

Mu Rong puxou o trinco, tentando não fazer muito barulho, estava usando uma capa escura para cobrir sua silhueta dentro da penumbra ostensiva da prisão. A porta se abriu sem muito esforço, rangendo ligeiramente.

O odor dentro da cela era terrível, azedo, pungente, o cheiro enjoativo do sangue parecia impregnar cada parede.

Mu Rong entrou, encostou a porta, ao se virar se deparou com o Duque estendido no chão imundo, aparentemente imóvel, mas parecendo respirar precariamente, seu corpo retorcido.

Ele não podia ver bem da onde estava e se aproximou, com seus olhos acostumando-se com a ausência de luz.

Os dedos de Lao Shi estavam fechados, apertados e estremecendo.

Era tão verdadeiramente deplorável que Mu Rong não teve dúvidas que ele faleceria até o amanhecer.

Mu Rong retirou devagar o cabelo que cobria-lhe o rosto e num assombro ele percebeu que não havia mais rosto, mas a carne desfigurada por completo em um dos lados da face, havia uma dor difícil de calcular desenhada na parte menos danificada da tez.

Sentindo em si a dor que era de Lao Shi, Mu Rong olhou em volta e viu o frasco vazio caído, ele reconheceu o que era no mesmo segundo.

Um inconformismo, um desespero avassalador se apossou de seu espírito.

Porque Lao Shi era uma das poucas pessoas que levava Mu Rong à sério, era ao vice-governador que ele confiava alguns de seus segredos e dividia o conhecimento sobre ocultismo, bruxaria e artes demoníacas em absoluto segredo.

Nan Quan tinha ousado destruir o rosto de Lao Shi com o composto químico criado pelo próprio Duque!

Foi nessa madrugada desditosa que Mu Rong decidiu que NanQuan devia ser punido e pagar por tudo que tinha feito.

No entanto, Mu Rong não poderia... Se tentasse, seria aniquilado por Nan Quan antes de dar o segundo passo.

Ele precisava de Lao Shi para se vingar.

Lentamente, com o rosto crispado pela revolta dolorosa que o afligia, Mu Rong se lembrou de um feitiço que Lao Shi tinha achado num pergaminho antigo, num livro que tinha comprado de um mercador em outra província.

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora