Chapter 316 Dois vultos do passado, duas personalidades do presente...

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Arco 6 Capítulo 316 Dois vultos do passado, duas personalidades do presente: Todas em conflito

Não sabia se era efeito das lanternas acesas no chão, mas os olhos de Lao Shi adquiriram um brilho dourado, como lumes de um felino imersas na escuridão.

Talvez, porque queria tanto que ele desse um motivo para agredi-lo, Huan Shui pensou que sua promessa tivesse despertado a ira de Bai Wu Xiang.

De modo que o jovem deus estava pronto para lutar ao ver o perigo no dourado incisivo.

Entretanto, sem dizer nem meia palavra, transpôs o obstáculo que eram os joelhos que separava ambos de uma proximidade maior e seus corpos se enredaram, os lábios de Lao Shi se afundaram com fervor em seu pescoço, beijando no mesmo segundo que aspirava o aroma de sua pele.

Huan Shui estremeceu, perdeu a respiração.

Suas pernas caíram pelas laterais do balanço de madeira e a joia delicada em seu tornozelo fez um pequeno som dentro da noite, as pedrinhas preciosas vermelhas bateram uma nas outras como as contas das cortinas da Mansão Paraíso.

Tendo Lao Shi junto de si, marcando a pele fina de seu pescoço com pequenos beijos sedentos, causando-lhe arrepios e frenesis, a última coisa que Huan Shui queria, era justo pensar no Reino Fantasma.

Ele não tinha as lembranças antigas com Jun Wu, nenhuma delas.

Mas, as lembranças dos três dias passados juntos enquanto fugiam sem rumo, eram tão vívidas e a realidade tão cruelmente irônica, quando estava com o Daozhang, não conseguia deixar de pensar em Bai Wu Xiang nem por um momento e nesta noite era justamente o oposto.

Sentindo suas virilhas roçando emparelhadas, agarrando-se às vestes de Lao Shi, refletia obsessivamente sobre a pulseira com nó de borboleta que estava no pulso deste que subia os lábios numa carícia por seu queixo e tomava-lhe os lábios.

Na manhã do dia que foi resgatado, sua primeira briga com Jun Wu foi por conta da pulseira que não estava em seu pulso, Huan Shui demorou um pouco a perceber o quanto ela era importante... Na verdade, no fim ele percebeu tudo tarde demais.

Trêmulo, seu corpo excitado pelas carícias, tendo o coração enterrado a sete palmos de tristeza, ele se desvencilhou de Lao Shi como num momento de surto.

Nem mesmo Huan Shui soube como deixou o balanço, escapou das carícias que o tragavam para outro instante sensual, do beijo que ele tinha ganas de aprofundar até se sentir febril.

Como ele pode pensar que Bai Wu Xiang se prestaria a entrar numa luta?

Hua Shui sentiu-se um legítimo tolo, transtornado e perdido, havia asco mesclado ao desejo que havia em sua pele tão quente.

Lao Shi tinha qualquer coisa de selvagem no olhar quando desceu do balanço, os dois atravessando olhares sob o luar semi escondido entre nuvens diáfanas.

— Não quero mais ser tocado por você.

Huan Shui queria ter dito calmamente e impassível, até com certa frieza, mas era impossível.

Sua voz era uma súplica transtornada enquanto ele ajeitava o viés torto de seu hanfu, um pouco fora de si.

Por um momento, Shui teve a sensação que tinha voltado ao passado, transmigrado durante o coma, sentia-se como Hai Lang com suas emoções descontroladas encarando o Duque Lao Shi que o encarava com uma quietude fria, misteriosa e inquisidora.

A voz dele tão melodiosa e controlada, absoluta dona de si:

— Por que?

Os lábios de Huan Shui entreabriram, a saliva em sua boca estava quente, tinha palavras demais, sentimentos demais nublando a nitidez de seus pensamentos, mas essa era vontade imperativa de sua mente em meio a todo caos que reinava no resto de seu corpo.

Lao Shi levou as mãos atrás de si e se aproximou, um pequeno sorriso condescendente brotou em seus lábios.

— Toda essa raiva e repúdio é por conta do feitiço do esquecimento? Já que ficou tão ressentido... Acaso quer que eu o anule?

Aquelas palavras macias apenas acentuaram a raiva e a desconfiança que sentia, tão fielmente mesclada à sua excitação.

— Eu não sou idiota! Quer que eu acredite nisso?... Você mesmo disse que o feitiço tinha sido fechado em ciclos, que era inquebrável! — E Huan Shui lançou um olhar sombrio de soslaio. — Ou isso era outra mentira sua?

— Por que simplesmente não responde se quer ou não? Não lembro de ser insincero com você.

Huan Shui ouvia a calma triunfante na voz dele e quase perguntou sem mesmo pensar: “Como eu quebro esse feitiço?”

Contudo, subitamente lhe deu as costas, cabisbaixo a encarar os próprios pés descalços na grama úmida e fria.

Que sentido fazia lembrar de tudo agora? Ter de volta todas as lembranças com Jun Wu?

Se teria muito mais lógica, pedir para que o Daozhang fosse totalmente arrancado de seu coração.

Mas, apertando suas vestes acima de seu peito, Huan Shui sofreu antecipadamente com a ideia de retirar por completo Jun Wu de sua vida, era como a única verdade bonita que restava.

O silêncio que recaiu em meio à reflexão, foi perfeito para Lao Shi abraça-lo furtivamente pelas costas.
O rapaz não relaxou minimamente músculos, aquele abraço amoroso o deixava sobressaltado tal qual o bote de uma serpente.

— Qianbei acha que o feitiço é toda questão? — Então dessa vez a voz de Huan Shui soou muito fria, quase como se rosnasse no final.

Aquele tom arredio era puro Hai Lang e os braços que o envolviam, afrouxaram como se atingidos por um breve choque, antes de se afastar apenas um pouco, Lao Shi aspirou-lhe a pele da nuca.

— Huan Shui, Huan Shui... — O demônio repetiu como se precisasse elucidar a si mesmo, até mesmo ele estava em dúvida em que era estavam. — Ainda pensando na caravana de ciganos? Que eu saiba, você não conhecia nenhum deles... Por que isso deixa seu temperamento tão ruim?

— Matar é tão trivial para você... — O jovem deus se distanciou dois passos, suspirando pesaroso e irritado. — Leve Lao Shi embora, eu quero falar com Bai Wu Xiang!

A bem da verdade, Huan Shui não sabia se teria sua vontade concedida, ele que estava ainda de costas, esperou apenas alguns segundos para se virar.

Ele mesmo sabia que era um pedido incoerente... Afinal, Bai Wu Xiang não era Lao Shi e Lao Shi não era Bai Wu Xiang?

De um jeito muito bizarro, Huan Shui sentia que podia conversar com Bai Wu Xiang como se fossem apenas amigos e houvesse algum afeto distorcido entre os dois, era quase como sentir falta do instante em que ele foi lhe comprar comida, quando estava isolado na Fortaleza Vazia.

Era evidente que também era um modo de se proteger, evitar o pior tipo de ópio que Lao Shi podia ser quando tocava em seu corpo, quando os lábios dele vagavam insolentes e possessivos em sua pele, sem mesmo esquecer a dor da mordida desferida em seu ombro, o que o preenchia de uma estranha e repulsiva excitação.

Dentro da penumbra, nos fundos da residência praiana, Huan Shui viu as vestes funerárias, a pele dele alva e pálida como um pedaço de lua e a máscara com a expressão distorcida enquanto o vento que se tornava cada vez mais frio, soprava os cabelos longos e escuros para trás de seu ombros.

Sentindo um alívio torpe, o canto de seus lábios estremeceu levemente...

Esboçando um pretenso sorriso.

 Esboçando um pretenso sorriso

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora