Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2

Chapter 363 À luz de velas, intenções tremulantes nas pontas dos dedos

Capítulo 363 À luz de velas, intenções tremulantes nas pontas dos dedos

Ergueu o olhar depois de perceber a chávena sobre a mesa, encontrando o rosto de Mei Nian Qing.

Tudo destoava, ele mesmo destoava, dizendo para si mesmo que aquele rosto que o fitava complacente não devia estar ali.

— Alteza, chegou a mesmo a esquecer que eu estou ao seu lado... Estou certo?

Não havia aborrecimento algum no inquérito, ao contrário.

A voz do velho Sacerdote da extinta Xian Le soava amena, tranquila, com uma cumplicidade brincalhona.

— Está certo... Desculpe. — O Daozhang confirmou em tom cavo, suspirando.

Jun Wu tornou a piscar, seus dedos entrelaçados se soltaram e eles formigavam um pouco, seus braços se deixaram cair sobre a beira da mesa como se desmaiassem de exaustão.

— Por que meu querido Alteza não começa por algo simples? Como bebendo seu chá. — Ele sugeriu, sorrindo sem mostrar os dentes, tocando de leve na manga de Jun Wu.

Ouviu Mei Nian Qing puxar discretamente a cadeira próxima, tomando assento enquanto ajeitava a túnica e encarou sua chávena, o conteúdo rosado e quente dentro dela.

— Não estou muito certo que eu queira conversar... —Jun Wu replicou ainda fitando seu chá.

Estava pronto para dizer: "Pode ir embora, se quiser", mas desistiu de articular estas palavras, já que claramente não seria deixado em paz.

Enquanto Mei Nian Qing segurou sua chávena, aspirando o aroma do alecrim, vasculhou o aspecto de Jun Wu e sentindo o vapor do chá nos cílios, tomou um gole antes de replicar:

— Meu senhor, sei que ficou alterado com o que contou o Sang Xing Guoshi, mas nem se compara ao seu estado agora... Nem quando o Reino de Wu Yong estava ameaçado pela erupção vulcânica, vi sua expressão tão preocupada, mesmo naquela época, havia uma determinação firme e estratégica em sua postura.

— Por que tem que lembrar tanto do passado? Não sou mais aquele príncipe, tão pouco um deus maior... Não é como se pudesse construir sozinho uma ponte que me levasse até A-Shui, isso nunca esteve tão acima das minhas forças.

Por mais que Jun Wu soasse irritado, o que prevalecia era sua desesperança em meio às dúvidas, o desamparo em ser consumido pelos próprios pensamentos que se tornavam verdades, mesmo que nem fossem.

— A conversa com o discípulo correu tão mal assim? — Mei Nian Qing arriscou, seu tom paciente.

Ainda preso a analogia do antigo sacerdote, Jun Wu estava convencido de que a erupção do vulcão que destruiu e matou as pessoas de seu reino era tal qual a situação com Huan Shui: Ele não tinha controle, o vulcão e Huan Shui estavam acima de suas vontades ou capacidade e depois de tudo, em ambos os casos, Jun Wu se sentiu dolorosamente sozinho, suscetível a tomar medidas extremas.

— Bai Wu Xiang está morto. — O deus menor disse de repente, seu olhar de um negrume sombrio acentuado atravessando Mei Nian Qing.

— O quê?... — Sua voz era um assombro cavo, sua expressão desarmada.

— Exatamente o que ouviu. — Jun Wu replicou friamente, batendo com a ponta do indicador na mesa. — Foi Huan Shui quem o matou e o feitiço das orbes de rubi são algumas memórias que o feitiço do Esquecimento tinha apagado, estou certo de que os dois fizerem algum acordo, isso quer dizer que A-Shui esteve livre da presença da Calamidade todo esse tempo... Quando eu me tornei tão desnecessário para ele?