Chapter 270 O sorriso que se perdeu dos lábios amantes

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Arco 5 Capítulo 270 O sorriso que se perdeu dos lábios amantes

Aquele rio.

Tinha sido às margens dele, após transpassar a vegetação arbustiva, que Jun Wu seguiu o som do erhu em certa manhã e se deparou com Huan Shui sentado na beira, os pés desnudos na água fria, o traje azul descendo por seus ombros.

Isso logo depois de se beijarem pela primeira vez numa noite tempestuosa.

E algum tempo depois, com novembro por um triz, era o mesmo rio.

Mas, tão diferente.

O outono estava quase no fim, a água corrente estava calma e gelada, uma névoa fina pairava sobre a superfície da água.

E Huan Shui estava sentado sobre a vegetação rasteira, não tão próxima à margem, comendo devagar, mas com muita vontade, um baozi recheado com seu olhar disperso e distante no rio.

Contudo, ele não estava cativo por sua pessoa, não tinham se beijado, ele sequer se lembrava que em algum momento haviam se beijado algum dia.

Jun Wu estava inquieto demais para sentar ao lado dele, porque não adiantava estarem aparentemente próximos, se o próprio Huan Shui havia imposto um distanciamento cruel entre os dois.

Por isso, o Daozhang trajando púrpura estava de pé, tinha também um baozi na mão, mas não tinha a menor vontade de comer, enquanto o rapaz tão absorto dava a última mordida para terminar o que tinha entre os dedos.

— Por que Huan Shui pediu para comer à margem do rio perto do templo? — Jun Wu inquiriu, olhando para o rapaz de soslaio.

— Gosto do som do rio... E ao olhar para aqueles murais no templo, sobre cultivo silencioso... Lembrei que odeio cada diretriz, não tenho vontade de permanecer no Templo Jianguang.

Não era comum Huan Shui dizer que odiava algo com tanta mágoa na voz, ele estava ressentido como nunca e Jun Wu sabia que estava relacionado com o tratamento ríspido e repleto de desamor de Huan Yijun.

— No entanto, a razão principal para estarmos aqui... É porque precisamos conversar, falei sério quando afirmei que eu não faria nada sem seu consentimento, sinto que de algum modo... Devo isso ao Daozhang e além disso, sei que em breve vai me desprezar, não tenho porque prolongar meu instante nessa montanha.

Jun Wu tomava aquelas palavras tal como pequenas agulhas em brasa perfurando a pele e o que mais doía, era não saber como esvaziar Huan Shui da tristeza que oprimia o tempo todo, sua voz baixa e aparentemente calma.

Sem cerimônia alguma, moveu-se sobre o olhar de Shui que aguardava sua resposta e ajoelhou-se de frente a ele, como não estavam longe da margem, Jun Wu podia sentir o frio do rio penetrando o interior de suas botas.

Um de frente para o outro, aproveitou que o jovem deus tinha mais uma vez as mãos vazias e encaixou o baozi que segurava entre os dedos dele, suas mãos unidas pelo ínfimo gesto.

— Huan Shui... Disse que nada era mais estranho do que voltar ao passado, se está aqui agora... É porque era impensável aceitar ficar três anos sem você, não tenho como sentir desprezo... Se Bai Wu Xiang o usou como hospedeiro, sequer precisa ser perdoado.

Eram palavras quentes, autenticamente gentis, tão perfeitas ao som do rio.

No entanto, completamente hesitante, a mão de Huan Shui fugiu algo trêmula do toque de Jun Wu, partindo em dois o baozi em sua mão, olhando para as duas metades como se figurassem uma tragédia.

— É isso que você não entende, está tão equivocado... Quando ouvi de dentro do templo os cavalos assustados, pensei que fosse Bai Wu Xiang, mas era o Daozhang tão assustado... Como se você soubesse assim como eu, que ele está por perto. O seu pavor, o jeito como me abraçou... Não é um indício que até você sabe que eu preciso ir?

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora