Chapter 187 Um destino assumido por inteiro, sem arrependimentos

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Prólogo Mente sobre o coração, a razão que quase nunca se dobra

A palidez da manhã tinha ares invernais, o sol sequer tinha nascido no horizonte quando Shan Ling despertou, abriu os olhos e levantou seu corpo após se esticar na esteira, assim que se moveu afim de sentar-se, erguendo o cobertor, é que notou que a mão de Heng Qian para fora da esteira dele, segurando uma mecha negra de seu cabelo.

Na verdade, Heng Qian tinha parte das costas descobertas, seu corpo desprotegido e Shan Ling o observou por um momento, ainda envolvido num sono brando, numa posição que lhe dava a forte impressão de inquietude.

Shan Ling puxou devagar a mecha de seu cabelo entre os dedos dele, para que pudesse sentar-se por completo em sua esteira. Ele ajeitou seu cabelo jogando-o para trás dos ombros e tocou levemente na mão do outro cultivador que tinha a palma voltada para cima e os dedos levemente flexionados, as costas de sua mão em contato com o piso de madeira.

A pele da mão de Heng Qian exalava pouco calor, Shan Ling crispou de leve o rosto e abandonou de vez a esteira que ocupava, lentamente moveu o braço dele para junto do corpo estendido e adormecido, puxando a manta feito de pele de carneiro que tinha usado para cobrir-lhe as costas.
Por um momento, Shan Ling estremeceu levemente com a ideia de que Heng Qian percebesse seus movimentos, agisse por algum ímpeto de proteger-se já que era um guerreiro em Zhen Yan. Chegou mesmo a visualizar em sua mente a mão dele agarrando seu pulso, puxando-o contra a esteira numa tentativa de imobilizar seu corpo.

Seus olhares se chocariam em meio a inércia do instante, com suas respirações entrecortadas.

No entanto, o cobriu, mexeu no braço e na mão dele, ajeitou uma parte do cabelo dele sobre o rosto e Shan Ling retorceu os lábios.

Porque, ao contrário de tudo que tinha pensado, Heng Qian continuou adormecido e despreocupado, como se ninguém, nem uma viva alma o rondasse.

Shan Ling estreitou o olhar, meneando em censura, enquanto se levantava um pouco decepcionado.

“Um guerreiro perceptivo e incansável já não teria sacado a espada? Como pode não ser vigilante durante o sono... Continua dormindo feito um gatinho indefeso. Esse homem é mesmo um exímio espadachim?”

A manhã estava estritamente silenciosa.

Shan Ling trocou as vestes ignorando o frio cortante matinal e deixou o quarto praticamente sem fazer qualquer menor barulho.

Havia muito em sua mente, enquanto a claridade do dia crescia.

Primeiro, ele estava naturalmente muito focado na missão de impedir e aprisionar Jiahao, se havia algo marcante na personalidade de Shan Ling, é que ele era extremamente firme em seus propósitos.

Mas, não havia ainda nenhuma evidência da onde poderia encontrar aquele demônio, que não deixava de ser filho do meio do Sacerdote Chefe Huan Yijun.

Havia passado a hipótese de usar a presença de Huan Fang como isca, mas era demasiado arriscado e grande possibilidade de Jiahao se apropriar do garoto.

Perguntar ao menino sobre o paradeiro do irmão, também era infrutífero.

A segunda questão, era a única coisa que o desviava de seu foco principal.
Ele tocou os lábios depois que lavou o rosto com a água gélida de uma bacia no quarto de banho, as gotículas desciam por sua pele alva enquanto os dedos da outra mão tocavam uma bancada de mármore, cuja superfície já estava áspera e sem brilho.

O quanto Heng Qian estava confuso para encostar daquele jeito os lábios dele nos seus?

O gesto breve, destituído de malícia, era como um selinho despretensioso dado por uma criança que quisesse demonstrar seu afeto do único modo que sabia.

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora