Chapter 244 As flores de abril também testemunham o desencontro do instante

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Capítulo 244 As flores de abril também testemunham o desencontro do instante

Primeiro dia de abril, três anos à frente
Vinte e seis de novembro no passado
Ainda na cidade de Guang Ming

Era uma cidade bonita, colorida e ensolarada.
As docas eram bucólicas, mas o coração de Guang Ming era vibrante.

E caminhar por um tempo de mãos dadas, no meio dos moradores e visitantes no festival das flores, tinha seu frescor.

Bai Wu Xiang até lhe comprou um chapéu de palha cónico com um véu diáfano e por algum tempo, Huan Shui conseguiu esquecer das próprias dores e frustrações, porque os dois estavam se divertindo como dois humanos, tão abduzidos por um bom momento, tão efêmero.

Mas, vivendo o instante como se nunca fosse ter fim.

Em certa altura, os dois se perderam um do outro dentre a pequena multidão circulando na região, pelo menos foi o que Huan Shui pensou de primeira.
Ou, como era de se imaginar, Bai Wu Xiang estava testando sua fidelidade, verificando se não ia fugir estando sozinho.

Huan Shui riu baixo para si mesmo, que tolice.

Ele não tinha nenhum lugar que quisesse ir sozinho.

E entre um pensamento errante e outro, ele achou aquele muro lindo, coberto de flores e caules verdejantes, sendo gradualmente coberto de desejos.

Os desejos eram como preces lançadas aos deuses, havia um profundo voto de confiança neles.

Por isso, Huan Shui foi até uma bancada comprida e pegou o pedacinho de papel de arroz com o fitilho, mas quando pensou num desejo... Ele parou.

Antes ele queria ser livre, depois ele queria a verdade, mesmo que doesse.

Houve um tempo que ele desejou proteger, mas até nisso falhou.
Era realmente possível que seu coração tivesse desistido de desejar?

Não conseguia pensar em nada, sua mente num desolado branco.
Isso era tão triste, era como estar morto e ter consciência disso, ainda que respirasse.

Se ele não escrevesse qualquer coisa naquele mísero pedaço de papel de arroz, seria apenas a confirmação que sua alma tinha desistido e deixado seu corpo vazio.

Engolindo o excesso de saliva no interior de sua boca, ele piscou e apertou os lábios e inclinado na bancada, escreveu “razão para viver”.

Naturalmente havia muitas crianças entusiasmadas com a ideia, ele foi pendurar seu desejo com algumas delas e não resistiu ao ímpeto de espiar alguns desejos soprados gentilmente pelo vento.

Alguém tinha escrito que queria uma panela maior, outro num ideograma bagunçado parecia desejar uma flauta, até mesmo havia quem desejasse uma vaca e claro que haviam as questões do coração, tal como “proteja o sorriso da minha amada”.

Naturalmente que Huan Shui não estava lendo os desejos com olhar crítico, todos deviam ter uma razão genuína por trás, alguns com necessidades antigas, outras momentâneas, nenhum desejo podia ser desprezado afinal.

Correndo seu olhar despretensioso, através das flores cheirosas e o emaranhado de caules e folhas verdes, ele encontrou um par de olhos mirando-se em sua direção, do outro lado daquele paredão.

Por um longo instante, não lhe pareceram olhos comuns, que poderiam ser facilmente ignorados.

Eles eram intensamente negros, como uma noite densa sem estrelas, perenes e límpidos como joias cuidadosamente lapidadas, o rosto que sustentava essas óbitas estava praticamente oculto, mas evocava a ideia de uma beleza altiva, porém suave e encantadora, e não obstante, tão fria quanto poderia ser gentil.

Huan Shui caminhou devagar, tentando se voltar para os desejos pendurados, ele não queria ser mal interpretado por quem estava do outro lado, era melhor nem saber quem poderia ser.

Ele leu vagamente os pequenos papéis, mal prestando verdadeira atenção, percebendo que aqueles olhos perseguiam os seus e pertenciam a uma pessoa mais alta do que ele, à medida que olhava desvendava um pouco mais mesmo sem querer.

Quem quer que fosse, perseguia seu olhar com ansiedade e expectativa.

Huan Shui estava curioso, quase fascinado com a situação.

E nas pausas que se olhavam, um capturado pela íris do outro, os enfoques tornaram-se mais intensos, quanto mais se aproximavam do fim daquele extenso muro verde, em nuances multi coloridas, a conotação ganhou uma profundidade indelével.

Quando os dedos do outro lado puxaram os caules, quase a ponto de machucar as flores, Huan Shui viu que o homem alto, também tinha cabelos negros tal como seus olhos, que tinham um brilho obstinado e estranhamente afetuoso.

Ele não conseguiu interpretar a cambalhota que seu próprio coração deu em seu peito, um estranho olharia assim para quem nunca havia visto?

O pensamento que lhe sobreveio, é que mesmo que não lembrasse dele, os dois se conheciam de algum lugar.

Foi por isso que sua mão se ergueu e seus dedos quase tocaram os dele através da fenda no paredão.

Repreendendo-se, censurando-se com força, Huan Shui apertou seus lábios, quebrando o longo vislumbre, destruindo a ponte recém construída e quase calcificada entre seus olhares.
Ele não queria envolver mais ninguém, quem quer que entrasse em seu caminho e lhe olhasse de uma forma tão afetuosa, Bai Wu Xiang destruiria continuamente, até que não sobrasse ninguém além dele.

Assim que desistiu de tocar os dedos daquele homem, Huan Shui deu-lhe as costas e se afastou rapidamente.

O homem transpôs rapidamente a barreira entre os dois numa implacável perseguição e se Huan Shui já tinha o coração palpitando em fuga, ele estremeceu em confusão quando ouviu a voz do homem alto chamá-lo de “A-Shui”!

Ainda mais determinado a sumir, o jovem deus não contava que fosse desabar entre as pessoas no festival, seu corpo bateu com força no chão, seu chapéu caiu na via e deu-se conta que havia mana espiritual prendendo sua perna.

Seu olhar era de um desdém descomunal, foi a primeira vez que encarou diretamente aquela figura trajando púrpura, gritando para si mesmo que se tratava de um deus.

A voz do pensamento de Huan Shui era raivosa, ainda que não estivesse com toda capacidade de seus poderes por carregar o grilhão amaldiçoado em sua cintura, ele extraiu o que podia do mais profundo de si para desfazer aquelas correntes em forma de mana.

Fatos de sua vida passada se confundiam com esse instante, ele não tolerava ser acorrentado.
Recolhendo rapidamente o chapéu caído no chão, tão somente dispensou àquele deus um último olhar furtivo cheio de desprezo desafiador e pulou uma mureta que dava em uma nova viela cheia de caminhos, certo de que iria despistá-lo em definitivo.

Antecipando-se aos seus movimentos, Shui sumiu ocultando seu Qi, sua energia vital imperceptível, indetectável.

Correndo tal como pudesse ultrapassar o próprio vento.

Fugindo num desatino insano.

Fugindo num desatino insano

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora