Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2

Chapter 313 A madrugada que permanece assombrando todas as outras

Arco 6 Capítulo 313 A madrugada que permanece assombrando todas as outras

Vilarejo Mingjiao Fengli
Dia um de dezembro

Zhen Yan, antes tão próspera e tranquila, encantada como seu próprio nome sugeria, atravessava uma fase de dias duvidosos. Justo quando os sacerdotes, as Cinco Virtudes, pensaram que a vinda da caravana cigana traria um novo ânimo aos moradores e cultivadores locais, essa pequena expectativa se transformou em mais uma situação de caos.

Porque, quem imaginaria que um demônio nível devastação tinha devorado todos os ciganos da caravana, jovens, adultos, idosos e crianças, transformando suas imagens em fantoches incrivelmente bem construídos, como se cada um deles ainda tivesse sua própria consciência?

Os poucos moradores estavam com medo, os cultivadores desconfiando até mesmo um dos outros.

No entanto, a Calamidade Vestida de Branco pareceu deixar a montanha, com a partida inesperada de Huan Shui.

Tendo deliberado sobre isso, os sacerdotes de Zhen Yan não estavam necessariamente mais tranquilos, estando sem notícias do Daozhang que tinha descido a montanha ao lado do jovem deus.

Shan Ling tinha assumido o posto de Sacerdote-Chefe, então ele não poderia simplesmente deixar a montanha, para dar uma escapulida discreta ao Reino Fantasma para conseguir alguma notícia.

Naquele dia, antes do sol de quase inverno raiar, ele mandou uma mensagem de sua flauta para Huan Shui e esperou pacientemente uma resposta, trazida pelas duas cordas do erhu.

E após viver a manhã e a tarde inteira imerso em obrigações, preocupado com Heng Qian que não tinha se recuperado da última batalha envolvendo Jiahao, com a dificuldade de Huan Yijun em lidar com as próprias frustrações e solidão, ele apenas podia contar com o apoio integral de Wu Chang e sua medicina além de sua notória distração, assim como Ying Huo como orientador e professor dos cultivadores e crianças que haviam restado no vilarejo.

A noite havia terminado de cair, após o poente no horizonte gelado.

Um incenso de almíscar queimava, em meio ao silêncio taciturno.

Com sua flauta em seu colo, o corpo branco e cilíndrico dela apoiado sobre seus joelhos, Shan Ling estava fazendo uma pausa para meditar em posição de lótus, mas seu intento não durou nem quinze minutos.

Bastava uma pequena intromissão, ele ouviu um reles ruído hesitante, mínimo na verdade, do lado de fora da câmara em que estava no Templo Hao Xiwang e franziu levemente a testa, as sobrancelhas se contraindo em desagrado.

— O que foi agora?

A voz do Sacerdote Shan Ling sempre lhe causou arrepios, não importava que o antigo mestre tivesse um rosto maduro bonito, uma constituição física esguia, os contornos de sua expressão eram como esculpidos em gelo fino, os olhos eram como um conjunto de estalagmites pontudas e afiadas, a severidade dele entranhava os menores gestos, seu tom era tal qual o aviso do golpe seco e doloroso da vara atingindo a palma da mão.

Fu Sheng não se aproximou mais, não chegou a entrar na câmara.

— Desculpe interromper, Mestre Shan Ling... — O cultivador disse, fazendo uma reverência.

Sem deixar a posição de lótus, o sacerdote trajando vermelho virou apenas a cabeça, vendo o cultivador no limiar da entrada.

— Estou ouvindo... Fu Sheng. Tenho certeza que não veio até o Templo Hao Xiwang meramente para desperdiçar meu tempo.

Apertando seus lábios enquanto assentia hesitante, com seu olhar fitando e fugindo alternadamente, Fu Sheng pensou um pouco demais e ficou nervoso quando o Sacerdote se levantou com suavidade e elegância, as mangas deslizando pelo ar num sincronismo perfeito que lembrava uma dança sutil.