Chapter 283 Como uma noite para enamorar-se com o mar revolto

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Prólogo

Mesmo entre beijos... Espaços insondáveis entre nós dois

O som da chuva, as gotas caindo entre as ramas, a vegetação agitando-se dentro da escuridão.

A umidade do temporal naturalmente intensificava a queda de temperatura.

Os dois deuses sentados nos limites da varanda trocaram olhares, vislumbrando tão próximos as feições um do outro.

Jun Wu estava pensando em se recolher com Huan Shui para dentro do quarto alugado daquela estalagem, quando o rapaz se levantou, desfazendo o contato entre seus corpos, desembolando seus braços antes entrelaçados, a cabeça dele deixando seu ombro.

E Huan Shui caminhou para o pequeno jardim aberto, onde a chuva caía largamente e ergueu seu rosto em direção ao céu, fechando os olhos suavemente enquanto sentia gota após gota, cair em sua face, ensopar seu cabelo com sua cortesia fria, escorrer por seu pescoço em filetes sutis pela cútis suavemente arrepiada.

Talvez o vinho amortecesse o frio, isso não parecia mais importar para ele.

Jun Wu não tinha como apenas observar, ele se lembrou de Huan Shui sobre o tronco da figueira, debaixo da chuva torrencial, esperando por ele na parte mais alta de Zhen Yan.

O Daozhang ficou tão bravo por vê-lo ensopado, que o puxou para debaixo da sombrinha que tinha pego emprestado no vilarejo.

Contudo, Jun Wu tinha a sensação que esse gesto de um jovem deus embriagado, continha um sentido maior do que afirmar sua rebeldia, seu livre arbítrio ou mesmo, nada tinha a ver com deixá-lo preocupado.

O deus menor de púrpura se ergueu e foi para o meio do pequeno jardim, também debaixo do temporal que caía com certa indulgência, como que para cumprimentar aquela madrugada.

E sendo batizado pelas águas contínuas, acariciou com o indicador as laterais da face de Shui como quisesse despertá-lo daquele estado de transe e ébrio.

— A-Shui... Sei que gosta da chuva, mas não quero que se resfrie. — Jun Wu cochichou, após se inclinar um pouco, estalando um beijo mínimo e carinhoso na ponta do nariz do rapaz.

Assim que sentiu o beijo, Shui abriu os olhos e mirou-se em Jun Wu que estava tão perto, em frente ao seu corpo.

— Por que estamos na chuva?... — Huan Shui falou baixinho, confuso em sua embriaguez. — Você... Fica tão bonito assim... Que eu fico me perguntando... Como seria te beijar enquanto a chuva cai sobre nós dois.

Jun Wu, que antes tinha uma expressão séria, algo preocupada, acabou sorrindo diante desse comentário sem maldade em seu tom, enquanto sentia os dedos dele segurando em uma mecha de seu cabelo molhado.

— Então... Por que A-Shui simplesmente não me beija? — Ele sussurrou, o sorriso macio entre seus lábios, ao passo que vislumbrava as gotículas se acumularem no cabelo de Huan Shui.

— Porque... Quando abrir meus olhos... Vou ver de novo... Aquele rosto.

Seus dedos frios não podiam se conter, com seu sorriso se desfazendo, a acariciar o rosto de Shui.

— A quem pertence esse rosto, afinal?

O vento soprou incisivo numa direção contrária e umas mechas molhadas bateram contra o tez de Huan Shui, ele quase perdeu o equilíbrio quando baixou por um momento o olhar.

Jun Wu o apoiou pelos ombros e quando tornou a fitar Huan Shui, ansiava pela resposta.

— A-Shui... Quem você nomeia como “qianbei”?

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora