Chapter 286 Quem me ensinou a amar foi quem me salvou de mim mesmo

45 9 53
                                    

Arco 5 Capítulo 286 Quem me ensinou a amar foi quem me salvou de mim mesmo

Tinha esquecido por completo daquela marca em seu ombro.

E se pudesse, também viraria uma borboleta e fugiria pela janela redonda do quarto de banho.

Não bastava o mal estar por ter bebido na madrugada, não sabia bem como lidar com o olhar profundo, frio e inquisidor de Jun Wu.

Lentamente, Huan Shui retirou a mão da marca em seu ombro, tal como num gesto de rendição.

Irredutivelmente calado.

— Uma marca de mordida humana não devia deixar uma cicatriz como essa. — O deus menor observou, categórico. — Quando muito um hematoma que some ao fim de poucos dias... Pode esclarecer, A-Shui?

— O que tem para esclarecer? — Huan Shui rebateu, desviando o olhar. — É um capricho de Bai Wu Xiang... Se não desapareceu, foi por vontade dele, não minha.

Como assim? Jun Wu estava francamente intrigado, sem mencionar enciumado. Porque deixar uma marca dessa no corpo de alguém, não era o mesmo que marcar território?

O Daozhang teve que cruzar os braços, para não meter um soco na parede.

— Está mesmo afirmando que o Branco sem Face mordeu seu ombro? Com que finalidade? Foi assim que ele realizou o feitiço?...

O frio da manhã entranhava em sua seminudez, mas Huan Shui se sentia tão mal que isso pareceu não ter relevância, não era como se ele pudesse ter a sorte de morrer de hipotermia.

E mordendo o lábio, antes de erguer seu olhar, não havia mais como omitir o que tinha vivido três anos à frente.

Se era o que Jun Wu queria, Shui tentaria não hesitar em lhe dar os fatos acerca de suas próprias verdades, ou ao menos... As verdades menos feias.

— Daozhang... Não foi propriamente Bai Wu Xiang, mas... Lao Shi. No período que fiquei em coma, fui transmigrado para uma realidade antiga... Em que eu era Hai Lang, foi... Desse jeito que fiquei ligado ao Branco sem face.

Os dedos de Jun Wu apertavam o tecido molhado e torcido, que pingava vez ou outra dentro da barrica contendo a água algo turva, o som das gotículas ecoavam vez ou outra no cubículo.

Entre o silêncio e o som das gotas ressoando por uma fração de segundo, absorveu as informações no mesmo instante em que relutava contra as entrelinhas.

— Quer mesmo que eu acredite que foi transmigrado? Eu convivi por séculos com Bai Wu Xiang, ele jamais teve poder parecido! O quão isso lhe pareceu real para enganá-lo assim?

— Acha que simplesmente inventei? — Huan Shui inquiriu, confuso e injuriado. — Foi mais do que isso! Quando acordei do coma, evidente que perguntei ao Branco sem Face sobre Lao Shi e Hai Lang... Para provar que não tinha sido uma ilusão, ele me deu suas memórias... Porque Bai Wu Xiang não teve uma morte comum quando era humano, assim como as outras calamidades... Sua alma nunca se dispersou.

Era muito difícil ler a expressão de Jun Wu diante de seus argumentos, enquanto Bai Wu Xiang se munia de escárnio dissimulado, o Daozhang assemelhava-se a uma parede de gelo, onde Huan Shui via refletido sua própria hesitação.

E para tornar ainda mais difícil o momento, Jun Wu mirou-se em Huan Shui estritamente calado, friamente inexpressivo.

Até que, após piscar seus olhos três vezes, o deus menor desanuviou um pouco da dureza de sua face:

— Vire de costas... Não terminei de limpar seu cabelo.

Fechando os punhos, respirando fundo enquanto sentia o frio castigar a parte desnuda de seu corpo, Huan Shui se virou e apenas obedeceu.

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora