Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2

Chapter 360 Nuances intrínsecas da terceira memória

Capítulo 360 Nuances intrínsecas da terceira memória

O cenário não era a cabana, nem o templo Jianguang.

Era diferente, suntuoso, com um toque de sofisticação.

Contudo, não era seu palácio, o que levou Huan Shui pensar que devia ser o palácio de outro deus e logo recordou-se do período após sua ascensão, quando ocupou um aposento no palácio de Ling Wen.

Podia ouvir sua respiração mesclada a respiração ritmada de Jun Wu no silêncio do aposento.

Como era um deus, pouco precisava dormir.

Em razão disso, logo depois que seu Daozhang despertou em meio a um possível sonho, Huan Shui que estava abraçado às costas de Jun Wu, de conchinha, também viu-se completamente desperto.

Passava das cinco e vinte da manhã quando Huan Shui deixou devagarinho a cama, vestindo por escolha propositada o robe que pertencia a Jun Wu. Sua mão se apossou com suavidade de seu erhu cuidadosamente escontado junto com o arco e o rapaz sentou-se nas almofadas no chão, em posição de lótus, perto do chapéu de palha trançada.

Huan Shui suspirou baixinho pensando na melodia que queria tocar.

Ao lembrar-se de certa melodia talvez um tanto melancólica, Huan Shui posicionou os dedos sobre o braço comprido do erhu, bem como o arco e os primeiros acordes puseram-se a preencher todo o recanto... Ultrapassando muito mais que o limiar daquele palácio.

Nos primeiros segundos, Jun Wu não se moveu. Seu corpo nu se moveu sob a colcha de seda e ao sentar-se na cama, deparou-se com Huan Shui executando a música de olhos cerrados, inteiramente unificado à melodia.

Não era uma música longa na verdade, lamentavelmente ela terminou em quase dois míseros minutos.

Assim que tornou a abrir os olhos, seus dedos relaxando sobre as duas cordas do erhu, deparou-se com Jun Wu sentado de fronte a ele no chão, tendo a nudez oculta pela colcha de seda que cobria seu corpo, como um manto sedoso.

— Desculpe se o acordei... É que eu queria muito tocar o erhu para o Daozhang. — Huan Shui cochichou, tendo o erhu junto ao corpo. — Está praticamente amanhecendo... Imagino que não nos resta muito mais tempo juntos.

Jun Wu sorriu e ainda segurando a colcha junto ao seu corpo, usou a outra mão para tocar-lhe a lateral da face de Huan Shui, estendendo um afago.

— É maravilhoso poder acordar com a música de A-Shui. Adoraria que fosse assim todas as manhãs... Que música foi essa? Nunca tinha ouvido você tocar antes.

— Essa... Acho que se chama "Manhã em Shichahai". Eu tinha outra em mente... Mas, prefiro tocar para você, quando a separação não for uma obrigação para nós dois.

Sentindo o carinho em seu rosto, Huan Shui tentou entrever parte da pele de Jun Wu pela colcha azulada.

— Seu ombro está melhor?

— Não tive oportunidade de olhar por baixo do curativo, mas não sinto nada. A-Shui passou mais poder espiritual do que devia para mim... Tanto, que eu mesmo posso conjurar uma matriz de encurtamento, se quiser... Não que eu queira.

— Daozhang, antes que volte para Zhen Yan... Tenho algo para perguntar.

— Estou ouvindo, A-Shui. — Jun Wu replicou cavo, ligeiramente grave e rouco.

Antes de falar, Huan Shui moveu-se lentamente, tentando primeiro se separar de seu erhu, permanecendo na posição de lótus.

— Daozhang... Onde está o grilhão com a alma de Yin Yu?