Chapter 277 Os caminhos ao cerne de um coração em desequilíbrio

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Arco 5 Capítulo 277 Os caminhos ao cerne de um coração em desequilíbrio

Os três segundos que se miraram calados foram longos.

Huan Shui não esqueceu que a chávena estava entre seus dedos que alisavam a cerâmica pintada, ele desceu o pequeno objeto até o tampo da mesa de bronze, estarrecido por ter ouvido a confissão do Daozhang.

No entanto, aparentemente havia apenas algum susto em seu olhar e sua voz se pronunciou vagamente:

— Não ficou perfeito... Restou uma fissura na superfície.

Jun Wu quase bateu na mesa... Depois de confessar que tinha sido a pior e a primeira calamidade, Huan Shui ainda falava da chávena?

Estava buscando o que refutar, paralizado pela atitude evasiva do rapaz, até que o próprio Shui retomou, lançando-lhe um olhar conflituoso:

— Então, você que agora é um deus menor, servo do Senhor da Cidade Fantasma... Também foi o Divino Imperador banido por enlouquecer e cometer crimes hediondos?

Era como se um fio invisível conectasse as informações rapidamente em sua mente, Huan Shui recebeu um golpe de hipóteses e conjecturas que faziam seu corpo formigar de angústia, sabia que precisava fazer inúmeras perguntas, mas não conseguia... Um presságio ruim rondava seu corpo, era como sentir aquelas aranhas vermelhas caminhando em sua pele mais uma vez, as picadas dolorosas de suas quelíceras envenenando seu corpo com a sensação pavorosa de letargia.

Jun Wu, que não tirou seus olhos de Huan Shui nem por meio segundo, percebeu o sofrimento que havia até nos menores gestos, mesmo o movimento das pálpebras ao abrir e fechar os olhos, seus lábios estremecendo de leve enquanto tocava o próprio rosto, perdido em pensamentos.

Também impossibilitado de responder a pergunta que Huan Shui tinha deixado no ar, Jun Wu se lembrou do que Bai Wu Xiang disse quando o abordou como um cigano:

“Um último aviso, Jun Wu... Evocar as memórias esquecidas, causa dor.”

O íntimo de Jun Wu se preencheu de uma raiva disforme, a calamidade pensara em tudo!

Toda vez que Huan Shui tentava buscar as memórias dentro de si, a dor o consumia, os piores medos vazavam por seus poros.

E havia a questão do erhu, o instrumento não era mais o catalisador para dispersar o excesso de sentimentos e pensamentos.

Por que? Aquele demônio tinha alterado o erhu, ou seria um efeito do feitiço?

Sem mais fazer reservas, Jun Wu abraçou com a sua mão os dedos e a palma de Shui sobre a mesa, querendo que ele se distraísse de si mesmo ao ser envolvido pelo toque.

— Olhe para mim, Huan Shui... Falei sério, eu fui o Divino Imperador, mas o que você deve saber... É que Bai Wu Xiang e eu não temos mais ligação. Depois de ficar três anos selado no Monte Tong Lu após ser derrotado, deixei minha prisão temporária e me tornei um Daozhang... Foi quando nos conhecemos.

O jovem deus obedeceu no primeiro instante, ergueu o olhar e mirou-se mais uma vez em Jun Wu, sua mão algo tensa se encolheu ao toque, mas não fugiu da mão grande e afetuosa do deus menor.

— Sua mão é tão fria... Mas, o mana que me passou, me aqueceu de dentro para fora. — Shui entoou baixo. — Sei que deveria ter reagido ao que contou... Talvez, no período que fui mortal em Zhen Yan, eu tivesse te julgado ao ouvir que era o Divino Imperador, mas... Depois de tudo, não posso... Fiz coisas horríveis também.

— Se estamos em pé de igualdade, como diz... — Jun Wu também baixou o tom de sua voz, ligeiramente rouca e grave. — Não devia guardar tanta dor para si mesmo. Até Shan Ling sabe que a música não tem ajudado a dissipar o que sente, então... Deixe que as dores, tudo que estiver sentindo... Seja conduzido por mim.

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora