Chapter 278 Reminiscências parte 1

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Arco 5 Capítulo 278 Reminiscências parte 1

Passava as noites e às vezes até partes do dia no Monte JianWang, havia uma pequena gruta antes oculta pela vegetação nas proximidades do cemitério, era onde se abrigava do frio e dormia com seu cavalo.

As noites estavam cada vez mais frias, a sensação gélida e úmida, mas Huan Yijun não se importava.

O vento por vezes, era o próprio açoite em seu rosto.

Ele sempre rondava o cemitério, às vezes fazia vigília em frente à lápide do túmulo de Huan Liang.

Sua voz soando vazia no abandonado Monte Esquecimento, onde não havia muito, na verdade quase nada.
Chamando e clamando por ela.
As estátuas do Divino Imperador, que ele tentou preservar por tantos anos em nome da prece que ela fizera, haviam sido destruídas junto com o templo sem nome.

Consumido pela sensação excruciante de fracasso, levava diariamente o tempo de queima de cinco incensos encarando os dizeres talhados na lápide em formato de arco gótico.

“Huan Liang
A esposa mais amada
Sua alma levou uma parte de mim”

Yijun sentia que a morte de Liang tinha levado embora sua melhor parte, mais do que nunca.

E por dezenove anos, faltando três meses para chegar a vinte anos completos, todas as suas escolhas eram as piores.

Já havia perdido as contas de quantos dias andava dormindo naquele lugar, até que numa dessas madrugadas que quase se findavam, uma luminosidade prateada despertava seus sentidos, tremeluzindo através da vegetação.

Ele se moveu devagar, entreabrindo os olhos ensonados, seu cavalo devia estar dormindo profundamente, porque ele estava deitado ao seu lado.

Seu corpo reclamando do desconforto, das condições precárias dentro da gruta em dores, até que erguendo a cabeça, forçando o pescoço com os músculos endurecidos, ele viu.
Um fogo fantasma prateado que parecia observá-lo dormir.

No entanto, assim que o fogo fantasma percebeu que Yijun se moveu para sair da gruta, deslizou pelo ar a se distanciar dali.

Aquele homem de cabelos ondulados bagunçados e cachos desgrenhados, roupas verdes sujas de frio e terra, barba por fazer, saiu do jeito que estava, tropeçando nas próprias pernas dentro da penumbra, no crepúsculo.

Como que embriagado pela própria obstinação.

O fogo fantasma não desapareceu, mas escondeu-se atrás da lápide, aguardando silente que o homem se fosse do Monte JianWang.

— Liang... — Yijun entoou algo rouco, ofegante, a névoa do frio escapando por seus lábios. — Eu sei que é você! Shui me contou sobre um fogo fantasma prateado como a lua que falava com ele na infância! Fale comigo também... Não faça isso, não me ignore de novo!...

Era quase como que o fogo fantasma quisesse se esconder dentro da lápide, sem vontade alguma de tornar a aparecer diante dos seus olhos.

Havia um nítido “Vá embora!” em sua ausência de manifesto.

— Eu não me importo que tenha palavras duras para mim, apenas diga alguma coisa! Liang... Xiao Liang... Por favor. Se... Estava me observando dormir, não me ignore completamente, sei que se importa... Nem que seja um pouco!

O fogo fantasma brilhou com mais força, revolto em seu temperamento.

Foi então, que a voz vagou no ar, quando o escuro da madrugada havia se dissipado quase por completo:

“Sempre gostei de observar as pessoas quando dormem... Porque é o único instante em que são absolutamente sinceras, uma pessoa dormindo não esconde ou suprime a própria natureza. Isso é tudo."

Os olhos de Yijun se converteram em duas poças, porque aquela era sem dúvida a voz de sua falecida Liang.

— Xiao... Não se esconda mais atrás da lápide... Embora... Isso me faz lembrar de como você fugia de mim, antes de sermos namorados... — O sacerdote disse com alguma emoção a mais carregada na voz. — Lembra quando fui na morada de sua família e você se escondeu atrás do tronco de uma figueira apenas para não ter que olhar para mim?...

Embora fosse nostálgico, essa cena pareceu muito, muito distante para Liang.

Não porque já haviam se passado mais de vinte e três anos, mas era porque estava morta.

Seu espírito devia ter se dispersado, ido para o submundo separado de todos os reinos da Terra, conformar-se com o término de sua antiga vida ao beber do rio do Esquecimento, segundo ela tinha aprendido nas histórias de pós-morte que tinha ouvido de seu avô.

Mas, Liang não conseguiu dispersar, mesmo que ela tivesse encontrado o caminho para deixar este mundo.

Seu espírito continuou em Zhen Yan, não porque amava aquela montanha, não porque era fiel ao seu marido, foi por seu único filho.

Antes de morrer, sem fazer ideia que morreria, Liang prometeu para si mesmo que faria até o impossível para ver seu filho feliz, que descobriria um modo de quebrar a profecia que envolvia seu nascimento, que o protegeria de todo mau agouro que ela sentia pesar quando Huan Shui ainda estava em seu ventre.

Seu voto era perpétuo, nem a morte poderia anula-lo.

“Xiansheng...” — O fogo prateado tornou a se manifestar por trás da lápide, seu tom contrafeito. — “Não é o mesmo caso, nós dois não temos nada para conversar... E que bem faria olhar para mim nesta altura? Volte para casa e viva sua vida sem pensar neste local.”

Era inadmissível tolerar uma recusa verbalizada, Yijun sentiu os joelhos fraquejarem diante do tom inflexível de Liang, ele caiu de joelhos e seus dedos apertaram as folhas secas junto com a terra barrenta do chão.

— Mas... Por que? Por que eu não posso?... Liang! Você vigiou nosso filho, apareceu diante dos olhos de Jun Wu! Eu sofri, eu sofro de saudade a cada dia!... Eu nunca superei sua ausência... POR QUE? POR QUE TANTO DESPREZO POR MIM?

As folhas secas fizeram um som desolado ao estalarem esmagadas entre os dedos de Huan Yijun, ele não conseguia ver o chão porque seus olhos estavam tomados pelas lágrimas, alguns cachos de seu cabelo grudavam desgrenhados em seu rosto vermelho de frio.

Liang considerou desaparecer, era sua vontade.

Contudo, se deteve oscilando em sua própria luz pálida, feito um halo lunar.

Ela ouviu Yijun se engasgar com o próprio choro, tossir de joelhos, como se fosse desabar ali feito um animal lamentável e ferido, envolto numa lenta agonia.

A última vez que o tinha visto chorar dessa forma... Havia sido na ocasião de sua morte.

 Havia sido na ocasião de sua morte

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora