Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2

Chapter 235 Dentro de um armário, dois meninos: Uma conversa de igual pra igual

Arco 5 Capítulo 235 Dentro de um armário, dois meninos: Uma conversa de igual para igual

Nota: ⚠️possível gatilho para abuso sexual (até Mu Qing vai precisar de terapia)⚠️

Era início da madrugada do dia vinte e quatro de novembro.

Assim que fez uma matriz simples para entrar no quarto por uma das paredes, Mu Qing suspirou como se reunisse forças, a fitar o desenho infantil feito no papel de arroz que estava em sua mão.

Como tudo estava silencioso havia algum tempo, ele pensou que talvez o menino estivesse dormindo.

Mas, foi somente vasculhar o quarto com o olhar para ver a cama quase intocada, roupas aos montes jogadas no chão e nada de Huan Fang.

Não havia muitos lugares para procurar e Mu Qing agachou, olhou embaixo da cama e mais uma vez nada.

O menino não tinha usado apenas o baú para bloquear a porta, até porque se fosse apenas o baú... Seria fácil fazer a porta ceder, mas para sua surpresa, tinha um feitiço preso num gancho de prata. Um feitiço rústico que selava a entrada.

Se Feng Xin tivesse tentado abrir a porta atirando mana, provavelmente iria ter de lidar com uma explosão de poder na própria cara.

Mu Qing prendeu a respiração encarando aquelas roupas espalhadas pelo chão e soltou o ar devagar, em seguida fitando a porta do móvel antigo de madeira onde as roupas deveriam estar.

Ele se aproximou cauteloso e num movimento rápido e assertivo, abriu uma das portas de correr.

Havia uma parte vazia, era evidente que todas aquelas peças de roupas estavam no chão porque o móvel antigo tinha se tornado um esconderijo.

Mu Qing acendeu uma pequena chama nos dedos e do outro lado, Huan Fang estava sentado e encolhido, segurando algo entre os dedos, parecendo uma marta indócil e arisca, capaz até de cravar os dentes em quem ousasse se aproximar.

A pequena chama iluminou as duas pontas, os rostos de ambos.
Huan Fang espiou por cima dos joelhos dobrados diante do corpo, um pouco surpreso por se deparar com as feições mais delicadas e pálidas do tio que carregava o sabre.

— Sabe, garoto... — Mu Qing retrucou, dentro desse instante em que havia apenas a pequena chama iluminando os dois no escuro do armário. — Esse seu esconderijo não é dos melhores.

Huan Fang apertou ainda mais o que tinha entre os dedos, observando um pouco mais, antes de responder meio para dentro:

— Não estava me escondendo... Estava tentando fugir.

A face de Mu Qing tornou-se mais circunspecta, suas pupilas encolheram um pouco diante da resposta.

Tentando fugir dentro de um armário? Só se...

— O que é isso que você tem aí entre os dedos, garoto?

— Você também tem algo entre os dedos, tio Mu Qing.

Era verdade, Mu Qing moveu apenas os olhos, alternando o olhar de soslaio entre o que havia em sua mão e no que estava entre os dedos bem fechados do menino.

— Por que não sai de dentro desse armário? E falamos sobre isso.

Mas, o menino não fez menção de mover um dedo que fosse.

— Por que o tio não entra no armário? Tem muito espaço...

Mu Qing revirou os olhos, ele era um adulto... Não era fato? Aquele garoto o via de igual para igual?
Contudo, insistir que ele saísse, bem podia colocar aquela conversa a perder.