Chapter 344 A promessa entre a borboleta e a flor dura uma estação

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Capítulo 344 A promessa entre a borboleta e a flor dura uma estação

Dezoito de Fevereiro

Ano do Dragão

Torre de Vigia no Bosque Huli


Com medo de esquecer.

Foi assim que Huan Shui despertou, subitamente.

A lembrança que o atravessou a horas atrás estava fresca e ele abandonou sem pensar o local onde seu corpo repousava, ignorando o frio, que mal tinha amanhecido, as fagulhas no braseiro ardendo precárias.

Sabendo que havia pergaminho e nanquim na Torre de Vigia, para os cultivadores escreverem relatórios sobre invasões naquela área do Bosque Huli, Huan Shui se apropriou de um dos candeeiros com um resquício de chama e o carregou para a mesa de canto.

Seus gestos tinham uma conotação frenética e ele sentou na cadeira pesada, antiga e um pouco puída, arrastando-a sem perceber no chão marcado por ela e mergulhando a pena no nanquim, escreveu detalhadamente a memória que a primeira orbe da tornozeleira havia ofertado.

A noite com Jun Wu no Templo Jianguang, em Zhen Yan. O pequeno momento em que tocara o erhu para ele, assim como a melodia "Chuva em Jiang Nan", descobrindo que era a favorita dele.

O fato adorável do Daozhang ter cochilado apoiado no baú em sua câmara de dormir.

Huan Shui escreveu e escreveu... Todos os detalhes que lembrava, até a cor das vestes de ambos, como usavam seus cabelos na ocasião, o tom de suas vozes.

Ele ainda sentia um medo horrível de tornar a esquecer, conhecendo Bai Wu Xiang, era bem possível que essas memórias escondidas nas orbes de rubi, em algum instante voltassem a evaporar. Sabia bem que o feitiço do esquecimento era fechado em ciclos, praticamente inquebrável e poder lembrar... Era uma grande violação.

A chama do candeeiro dançava agonizante sobre o pergaminho e ele terminou de escrever rapidamente os últimos detalhes, ouvindo os degraus de madeira no andar inferior da torre rangerem.

Foi aí que caiu em si, tinha perdido os sentidos no assoalho, mas acordara na esteira forrada que seria usada como cama e assim que pensou em Shou Xian, ele surgiu entrando no nível mais alto, trazendo consigo duas perdizes que tinha caçado.

Antes... Não tinha sido Shou Xian que tinha desmaiado antes do próprio Shui?

Os dois se olharam a certa distância, o silêncio sendo claramente oprimido pela necessidade imperativa de diálogo.

De qualquer modo, antes de falar qualquer coisa, Shou Xian abasteceu o braseiro com mais lenha, atiçando o fogo e Huan Shui tornou a fitar o pergaminho, engasgado com tantos pensamentos.

— Você está mesmo bem, irmãozinho? — Shou Xian inquiriu sem olhar para Shui, estava ocupado preenchendo uma panela com água armazenada, pretendendo depenar as perdizes em água fervente. — Tem tempo que acordou?

Era a primeira noite desde que estava na torre, que não meditava, nem atendia preces, tão pouco reprimia seus sentimentos.

Somado a lembrança, tudo que tinha passado com Shou Xian no dia anterior, tornava seu íntimo uma tremenda bagunça.

— Na verdade... Acordei a pouco, acho que entendi o que essa joia no meu tornozelo significa... Não são as cinzas do demônio.

Shou Xian estava olhando os pés rijos das perdizes para fora da panela aquecendo sobre o braseiro e repentinamente, virou o rosto para mirar-se em Huan Shui.

Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora