Chapter 303 Os vazios nomeados em mim, não podem mais ser preenchidos por você

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Arco 5 Capítulo 303 Os vazios nomeados em mim, não podem mais ser preenchidos por você

Era boa a ilusão de estar sozinho por escolha própria.
Porque antes, ou passava longos períodos sozinho no cultivo silencioso por imposição de seu pai, o Sacerdote Chefe, ou preso na Fortaleza Vazia por Bai Wu Xiang.

Assim que se distanciou de Jun Wu, após discutirem naquele beco perto do Mercado Fantasma, certificou-se que seu Qi não pudesse ser detectado e caminhou por um tempo, até se distanciar da multidão de fantasmas, demônios e humanos.

Huan Shui caminhou sentindo o vento da madrugada, até uma área de cemitérios.

Surpreso por caminhar, trocar vários passos até seu coração desacelerar e parar de doer no peito, sentindo uma paz que definitivamente não era real.

Porque a sensação é que a qualquer segundo, Bai Wu Xiang surgisse e o carregasse mais uma vez para o mundo dele, a cúpula imaginária que envolvia apenas os dois.

Quando Huan Shui parava para pensar nessa cúpula, sentia um misto de angústia ácida em contradição com um sentimento reconfortante. Porque ele sentia que tornava Bai Wu Xiang um pouco mais parecido com Lao Shi.

Seus pensamentos flutuavam enquanto caminhava até o fim de uma colina num daqueles cemitérios.

A noite estava muito fria, não muito aberta, muitas nuvens em tons sombrios e belos vagavam naquela abóbada.

Fechando os olhos ao chegar no topo da colina, Huan Shui ouviu o vento uivar, soprando gelado em seu rosto, erguendo suave seu cabelo, beijando e ondulando suas vestes.

Então, um cenário se abriu em sua mente, em uma época à frente desse tempo, outra estação... Era a baía Bei Ke.

“ Huan Shui passou por crianças brincando na areia, mirou-se com descrição nelas, as vozes agudas e contentes chegando ao seu ouvido como uma melodia doce, quase nostálgica e por um momento, ele se perguntou o quanto Fang tinha crescido nesses três anos.
Ele se afastou devagar indo pelo limiar entre a areia e onde quebravam as ondas e entre seus pensamentos, subitamente... Avistou Bai Wu Xiang.
Eles não estavam próximos, de modo que a calamidade não o percebeu prontamente.
Era o mar que separava os dois.
Bai Wu Xiang estava coberto pela água salgada até a cintura, a veste que ele usava estava grudada nos contornos do corpo, seu tórax estava em parte desnudo molhado e banhado generosamente pelo sol da manhã.
Huan Shui sabia que ele tinha ido para a parte mais funda, o cabelo dele também estava ensopado de mar, enquanto ele olhava compenetrado para o horizonte, parecendo segurar algo na mão direita.
O rapaz não se atreveu a se aproximar, observando de longe, da faixa de areia, estremecendo por um momento quando uma onda um pouco mais forte e volumosa acertou suas botas.
Foi nesse instante que Bai Wu Xiang olhou na sua direção, seus olhares colidiram, ao passo que Shui engoliu o excesso de saliva no interior de sua boca, sentindo o vento que trazia a maresia soprar em seu rosto, vestes e cabelo.
Observou imóvel Bai Wu Xiang se afastar da parte mais funda que estava, inesperadamente ele estava de branco, não eram as vestes funerárias, mas Huan Shui sentia que tinha algo de fantasmagórico na leveza dele ao se mover com as vestes molhadas e pesadas, algo também fora do comum, mais envolvente e atraente do que normalmente seria.
Seus olhares não se perderam um do outro, nem por um mísero segundo.
E assim que Bai Wu Xiang chegou mais perto da parte rasa, ainda tendo água quase na altura dos joelhos, ele sorriu e estendeu a mão esquerda.
Huan Shui compreendeu que ele queria que entrasse na água, somente assim desfixou seu olhar da figura dele e fitou as ondas, elas não estavam bravias, na verdade a espuma suave que se formava quando tocavam a praia... Transmitia serenidade.”

Mesmo estando num cemitério, conseguia sentir o aroma da maresia.

Huan Shui se forçou a abrir os olhos, sem saber se ele que tinha invocado essa lembrança ou se era a Calamidade, tentando fazê-lo crer que tinha saudades.

Seu olhar recaiu no alforge que carregava pendurado ao lado de seu corpo, a segunda concha que tinha de recordação desse dia estava dentro dele.

Suspirando, olhando para o caminho abaixo da colina, as lápides erguidas na escuridão, Huan Shui pensou que não importava se era saudade ou ilusão, porque tinha sido sua escolha levar consigo tudo que o ligava a Bai Wu Xiang.

Nem por um segundo, desde que tinha voltado ao passado, esquecia que tinha traído os vazios dentro de si, criados pelo feitiço.

Todos os vazios tinham um nome, tinham um rosto, tinham um calor cativante.
Agora ele entendia, mas era tarde demais.

Virando-se, voltando seu olhar umedecido por uma cortina de lágrimas inderramáveis para o céu além da colina, enxergando o paredão de nuvens embaçadas, tudo que Huan Shui queria era recuperar nem que fosse apenas uma lembrança com Jun Wu.

Será que poder vislumbrar apenas uma mudaria por completo seu jeito de pensar?
Alteraria sua decisão?

Tentando trazer ao menos uma lembrança obscurecida dos vazios que haviam dentro de si, sentiu seu coração doer como se fosse parar, como se fosse impossível suportar e cada músculo fosse explodir e se desfazer furiosamente em sangue... Ainda dolorosamente vivo, imortal.

Não havia nada e num gesto impensado, sua mão se ergueu em direção ao céu, como se pudesse resgatar algo perdido flutuando no ar.

Mas, apenas uma chuva fina começou a cair, seu corpo se arrepiou quando sentiu a primeira gota atingir seu rosto.
Ainda mais fria do que o vento.

O cheiro da terra, do musgo e da morte vagaram ao serem batizados pelas gotículas, dentro da escuridão matutina.

Seu cabelo também foi rapidamente coberto de minúsculas gotas e uma mecha acobreada dele grudou em seu rosto, seus pensamentos iam por um rumo escuro e cada vez mais incerto, quando foi surpreendido pelo pingente de turmalina preso no fim do braço de seu erhu.

A borboleta esculpida em turmalina se acendeu como a luz de um pequeno farol na imensidão soturna.

Sendo arrancado de sua imersão mais do que melancólica, Huan Shui tocou o pingente preso ao erhu e percebeu que além de luminosidade, emanava calor.

Seu coração pareceu acordar, ele lembrou subitamente que havia um dragão.

Seu coração pareceu acordar, ele lembrou subitamente que havia um dragão

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Jun Wu - A Terceira Face do Príncipe • Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora