¬ MADRID¬

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Mexo o corpo lentamente, e a minha cabeça está completamente espalmada no travesseiro, e eu retiro alguns fios de cabelo da minha cara. Quando abro os olhos, o céu escuro atrai a minha atenção, assim como um barulho perto da porta. Viro o meu corpo, e encaro Damiano a sair do banheiro, somente de calça e a secar o cabelo. Eu fiz merda de novo, Jesus.

Deixo o meu corpo cair novamente no colchão, e solto um resmungo pelos meus lábios. Que caralho, que merda. Eu não aprendo, eu continuo a errar a cada vez que o vejo, eu continuo a deixar que qualquer coisa que ele faça ou diga, me deixe sem mandar em mim.

- Bom dia. - ele fala, e eu sinto o colchão afundar.

- Bom dia. - coloco as cobertas para trás, e me levanto da cama e caminho até ao banheiro, onde fecho a porta. Me encosto a ela, e respiro fundo. Daqui a umas horas eu estou em Espanha, e depois Reino Unido e finalmente o meu país. E depois disso, eu deixarei de ser a otaria que tenho sido este tempo todo.

Deixo a água correr no box, e retiro a pouca roupa que ainda está no meu corpo, e entro no box, deixando que água quente entre em contacto com o meu corpo, e pelo menos, durante estes minutos, eu consiga relaxar.

Quando termino o banho, agarro o roupão, e o visto e pego uma das toalhas, e a passo no meu cabelo, e abro a porta vendo que Damiano ainda está sentado na cama, e eu reviro meus olhos.

- Damiano, você poderia por favor, sair do meu quarto? - tento falar calmamente e manter a minha posição, por mais que eu queira dizer o contrário.

- Alana, por que isso? - ele se levanta e mexe com a mão no cabelo.

- Porque mais uma vez, o que se passou ontem foi uma estupidez, uma idiotice, tudo o que você queira dizer. Aquilo não deveria ter acontecido.

- Você fala isso, mas não é o que você quer dizer, não é o que eu sinto a cada vez que você está perto de mim, a cada vez que eu lhe toco.

- Damiano, nenhuma das minhas emoções tem que mandar em mim, nenhuma delas mesmo. Sabe, eu tenho que realmente as trancar, e deitar fora a chave, pois se elas continuarem abertas, eu vou me afundar ainda mais.

O olho enquanto seco o meu cabelo. Respiro fundo.

- Por isso Damiano, eu lhe peço: saia, e me deixe seguir a vida. Eu preciso disso, eu preciso que você siga a sua, seja feliz, mas eu não posso deixar que isto aconteça mais nenhuma vez.

Ele abana a cabeça, e o vejo sair do quarto, e a porta ser fechada com força, o que me faz sentar na cama e sentir o sabor salgado das lágrimas que pesam em meu rosto.

- Sim cupido, você voltou a fazer merda, você voltou a fazer com que eu me apaixone por alguém que simplesmente brinca e parte o meu coração a cada dia.

Pego o travesseiro e grito contra ele, sentindo cada vez o choro mais forte. Que merda de saúde mental.

¬ QUATRO DIAS DEPOIS¬

- Você poderia me ajudar aqui Joao? - falo para ele, tentando agarrar o zíper do meu vestido e o vejo se aproximar de mim, e o puxar para cima. - Obrigada.

- De nada. - ele sorri e eu vejo através do espelho. - Esta cheio de gente.

- É, eu consigo ouvir daqui. - esfrego as minhas mãos.

- Estes segundo concerto   que você vai dar em Madrid assim como o primeiro, estão os dois completamente esgotados.

- Eu nem sei nem mais o que falar sobre tudo. - sorrio de forma tímida pois tantos meses depois, eu ainda não me habituo a todo este sucesso.

- Você sabe que merece não sabe? Você não conquistou isto de forma fácil, mas você merece cada palma, cada elogio.

Sorrio ainda mais, acabando de me preparar para o segundo dia do concerto. Ajeito o cabelo, quando dois toques na porta me fazem olhar para lá.

- Sim? - vejo um moço jovem, que me olha.

- Alana? - ele entra no camarim e eu continuo de forma séria a olhar para ele. - Nós nos conhecemos em Roterdão, se lembra?

Estreito os meus olhos, e um click se faz na minha mente.

- Sim, lembro, você me ajudou com uns problemas na minha edição de fotos. - me viro para ele. - Mas o que você faz aqui. - paro tentando me lembrar do seu nome.

- Leo. - ele estica a mão e eu aperto.

- Mas o que você faz aqui?

- A sua produção me contratou para fazer as fotos dos concertos aqui em Madrid e eu ontem ja fiz, mas não deu tempo de falar com você, e de algumas suas. Como lhe disse, eu trabalho com fotografia, e aliás, estou aqui em trabalho, não só o seu, eu estou com os.

- Alana, está na hora.

A voz de João aparece e eu sorrio para Leo.

- Bem, acho que o seu trabalho vai começar. - sorrio e volto a ajeitar o meu vestido, mas olho disfarçadamente para ele através do espelho, e o vejo com a máquina fotográfica apontada para mim. Sorrio, enquanto dou os retoques finais.

- Perfeita. - ele fala e baixa a máquina e me chama para ver. - Você simplesmente brilha.

As minhas bochechas esquentam e eu lhe bato ligeiramente no ombro.

- Eu tenho que ir. - falo saindo do camarim, e caminho pelos corredores. Pego o microfone e respiro fundo. Eu tenho 20 anos e nada para me arrepender, nada mesmo. Pelo menos de agora em diante.

Quando o concerto termina e eu piso o camarim, vejo Leo aparecer, sorridente.

- Bem, eu amo tirar fotos bonitas, mas não achei que com você fosse tão fácil.

- O seu trabalho aqui é fotografar ou me deixar sem palavras? - falo rindo.

Ele ri também e o som melodico da sua gargalhada me faz arrepiar.

- Bem, eu irei finalmente ter uns dias para descansar antes de ir para o Reino Unido, finalmente uns dias de férias. - falo mal entro no carro, junto com João e Leo.

- Sim, finalmente.

Nós vamos falando até chegar no hotel, mas antes de eu entrar, Leo segura a minha mão, me fazendo virar e o olhar.

- Alana, eu sei de um bar aqui perto. - ele sorri, enquanto os seus dedos se entrelaçam nos meus. - Vamos?

Abro um sorriso e aceno, e lhe dou a mão, enquanto caminhamos.

Mal chegamos no bar, e depois de falarmos com o segurança, entramos, e Leo encontra uma mesa mais escondida, mas junto do balcão. Ele agarra a minha mão, e eu me sento, e ele se coloca ao meu lado, pedindo as bebidas.

A música ecoa pelo espaço, e faz eco nos meus ouvidos, e vejo a mão de Leo pousar o copo de cerveja, e se esticar na minha frente, e eu a agarro e nós caminhamos até à pista de dança.

Mexo o meu corpo, e sinto o meu cabelo balançar e bater na minha pele, e fecho os meus olhos, quando sinto uma mão puxar a minha cintura. Abro os olhos, e Leo coloca um pouco do meu cabelo atrás da minha orelha.

- Desde Roterdão que eu quero fazer isto. - ele fala baixo em meu ouvido.

- Não penses mais. - sorrio.

O mesmo sorriso que some quando os seus lábios tocam os meus.

¬ EUROVISION ¬ Damiano David ¬CONCLUÍDA ¬Onde histórias criam vida. Descubra agora