Estava calor demais aquele dia. Calor demais para sair de casa, calor demais para andar de ônibus, calor demais para sentar-se naquele banco e, principalmente, calor demais para contato físico. Mas Ele não se importava com isso, Ele queria sair de casa e andar de ônibus, apenas queria estar ali naquele momento e, devido a sua onipotência, Ele podia.
Eu concordava que estava calor demais para sair de casa, mas por motivos bem menos pessoais e contra minha vontade, eu estava naquele ônibus. O sol continuava a castigar aqueles que se atreviam a enfrentá-lo, expor-se a ele diretamente, eu, reconhecendo minha inferioridade, mudei de lugar no bendito ônibus. Daí Ele entrou, passou pela catraca e se sentou na minha frente, de lado, e aconteceu, Ele se expôs, abriu seu peito, se mostrou e inundou todo aquele lugar.
Foi como uma luz que se acendeu, de repente, me cegou e me hipnotizou, não queria olhar, mas Ele me atraia. Alguém mais o tinha visto? Mesmo com o terrível calor, ali sentados, ele colocou a mão no joelho dela e ela colocou a sua mão sobre a dele. Eles tinham seus sessenta anos, mas Ele os tinha escolhido, não só naquele momento, mas para toda eternidade. Naquele dia quente, Ele, o Amor se mostrou para mim! Tive que registrá-lo...
01/10/14
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Para não sufocar
Non-FictionHistórias do meu cotidiano, desabafos, coisas que sinto e que preciso por em palavras para não sufocar, escritas ao longo de 9 anos e contando.