Na busca de algo específico, tive de olhar as mensagens antigas que eu tinha com ele, e chega a ser engraçado aquelas conversas de menina de 16 anos, que só fazia reclamar da vida, falar sobre séries e falar sobre como foi o dia. Mas, por mais bobas que pareciam ser, eu me lembro da felicidade que sentia quando recebia uma mensagem dele (que eram igualmente simples, porém com mais drama na parte de reclamar da vida) e também quando falava do meu dia na escola, do que tinha para o almoço...
Parando para escrever, nem consigo lembrar sobre o que mais falávamos, talvez nem nos falássemos tanto assim, foi apenas eu que guardei memórias demais sobre esse fato, o que fez o tempo parecer maior. Ou talvez as coisas realmente significassem mais para mim, eu acreditava que ele queria saber sobre minha vida, sobre o meu monótono dia. Agora, com o encargo dos 20 anos, parece que a vida ficou cinza, nada de muito interessante acontece, nenhuma novidade para contar, e as coisas que acontecem eu sei que ninguém mais quer saber, que são as brigas com minha mãe, as expectativas loucas que ponho na cabeça.
Por que essa reflexão agora? Porque queria assunto para conversar com uma nova pessoa que estou conhecendo e nada me vem à cabeça que possa ser interessante para ele também. Daí cria-se a expectativa de que quando nos virmos teremos assunto, mas tenho medo do assunto ser fútil e a gente ter desperdiçado nosso tempo juntos sem nos conhecermos realmente.
Talvez tenha sido a faculdade, talvez eu mesma, talvez o tempo que tenha feito eu mesma acreditar que o que eu falo e penso não é interessante. Talvez a psicóloga esteja certa quando disse que posso estar tentando atender as expectativas dos outros, até no que se trata do que o outro espera ouvir de mim. Deus, como eu, logo eu, que não ligo para a opinião dos outros, acabei caindo nisso?! Talvez porque eu fale demais, seja grossa e fria, que eu tento medir cada letra que sai da minha boca quando quero que alguém goste de mim, ou seja, eu tenho que ser outra pessoa para que gostem de mim. Provavelmente isso nem seja verdade, mas agora é uma crença minha e mesmo inconsistente, está lá.
Talvez por não medir as palavras, tenho a mania (quase doença) de planejar tudo, criar expectativas, roteiros, cenários, possibilidades, diálogos e ações para que gostem de mim. Nunca tinha parado para pensar nisso, mas faz sentido. Talvez porque eu realmente seja interessante no fundo, eu acredito nisso, e quero que a pessoa saiba as coisas boas que eu penso, nos meus desejos e angústias.
Eu quero que ele saiba que tenho vontade de ter um toca-discos para escutar músicas que não saíram em LP, em uma sala branca, espaçosa, tomando vinho e usando a camisa de botão dele; que quero discutir sobre ciência, e a origem do universo e sobre o que tem depois da morte; que quero viajar num conversível no interior dos Estados Unidos como em um clipe de banda indie; que quero ficar abraçada com ele durante um tarde toda, enquanto chove e músicas antigas tocam; que quero transar com ele quando sentir que é a hora e me sentir bem depois disso; que quero virar a noite e esperar o dia amanhecer para ver um lindo nascer-do-sol; que quero viver aventuras como o clipe de Sleep on the Floor; que quero ser amada, mesmo sabendo que às vezes não mereço...
Mas o que te impede de viver isso? Versão curta: eu mesma. Versão longa: tantas coisas. Acho que o primeiro problema que vem à mente é nos encontrarmos, já que sair de casa é sempre um problema pra mim, não gosto de ser questionada e nem sair da minha zona de conforto e rotina, apesar de eu querer estar com ele, pensar no que eu vou ter que falar pra minha mãe já me causa aflição. A propósito, ainda não falei para ela sobre essa pessoa, sempre falo que vou sair com uma amiga, e ela se preocupa de eu voltar para casa sozinha, tarde da noite. Por isso que estou um pouco velha pra essas aventuras, já que o primeiro namoradinho deveria morar perto de casa, estudar na mesma escola, se reunir para fazer trabalhos, e o namoro seria de aproveitar oportunidades de estar juntos, e não cria desculpas para se ver, gastando dinheiro com cinema ou outros lugares muito distantes, que são obviamente destinados a pessoas com salários, carro próprio e ninguém para dar satisfação, claramente não meu caso.
Não tenho mais nada para falar, essa é a realidade, e ela me causa angústia, por ter expectativas e fatos que não se encaixam. Então vivo essa impotência toda vez que ele me chama para sair, ou eu tenho vontade de estar com ele, e não posso simplesmente ir. Peço desculpas a mim mesma por ter deixado essa noite tão baixo-astral, mas a vida é uma bosta mesmo, e nada podemos fazer a respeito, nem contar para todo mundo.
23/04/17
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Para não sufocar
Non-FictionHistórias do meu cotidiano, desabafos, coisas que sinto e que preciso por em palavras para não sufocar, escritas ao longo de 9 anos e contando.