Toda vez que vou contar minha história de como me tornei professora, em algum ponto conto que foi líder de sala no meu ensino médio. Talvez por ser irmã mais velha ou por ser inteligente na escola ou ser uma criança egoísta, talvez por causa de algo inato ou algo social, ou de tudo um pouco, percebi cedo que me sentia bem em papéis de liderança (não que os outros gostassem, na verdade, duvido que eles gostassem).
No ensino médio, fui convidada por outra amiga a ser líder de sala e topei, brigamos muito por causa disso, mas um dia, em 2013, ganhamos um prêmio em uma gincana da escola e acho que aquele foi o melhor momento da minha vida, foi o momento em que tudo valeu a pena na minha curta história de vida de 16 anos. Buscando papéis de liderança, me inspirei na minha coordenadora pedagógica para escolher o curso superior e fiz Psicologia.
Com certeza, algum psicanalista pode explicar meu estranho gosto por ambientes escolares, talvez eu mesma possa explicar, mas enfim, entrei na faculdade buscando trabalhar na área escolar, estudei bastante, me apaixonei por psicologia social e fui buscar um estágio na mesma escola na qual eu era líder de sala. Consegui, e por destino talvez, foi me oferecido uma vaga de professora de orientação profissional, já que era algo que eu tinha conhecimento.
Eu tinha acabado de fazer 20 anos e me tornei a líder daquela sala, a professora de 170 adolescentes do ensino médio, que vinham a mim para ajudar com questões de futuro e carreira, eu, que tinha 20 anos e tinha acabado de entrar no primeiro emprego como estagiária. Não lembro muito da parte estressante de dar aulas, lembro de suar muito no começo e me sentir julgada pelos alunos, mas esse sentimento passou logo e me senti a vontade na sala de aula, com apenas cinco aulas por semana.
Aquele ambiente me trazia segurança, conforto, e até esperança. Eu era incapaz de ver defeitos na escola ou coordenação, mas não acho isso negativo, apenas queria dizer que esses problemas não chegavam a mim. E segui como professora de orientação profissional para alunos do ensino médio, com uma liberdade acolhedora e receptividade calorosa.
Minha relação com meus alunos era de amizade, eu estava lá quando eles queriam conversar e quando queriam zoar, era convidada para as festas e também para as formaturas. As colações de grau ficam guardadas em um lugar especial por serem momentos de mistura de sentimentos, felicidade e realização por verem eles formados e tristeza e saudade por saber que eles não estarão na escola todos os dias. Guardo as flores que recebi nas colações até hoje. Alguns alunos se destacam em minha memória, especialmente os que tive contato mais próximo e que converso ou acompanho nas redes sociais agora que eles estão na faculdade. Eu acho particularmente especial trabalhar com escolha de curso de adolescente, porque sinto que ajudei essa pessoa a escolher seu futuro, o que ela vai ser, uma médica veterinária, um biólogo, um advogado.
Em 2021, escolhi sair da minha zona de conforto, especialmente por causa do aspecto financeiro. Busquei outra escola com mais aulas para trabalhar e novamente fui colocada na posição de professora. É aqui que eu e o LIV se encontram. Este será meu primeiro ano como professora de LIV, primeiro ano como professora de Educação Infantil e de Ensino Fundamental I e II, além de continuar com meus queridos adolescentes e suas crises existenciais. Tudo é novo, tudo causa certa ansiedade e necessita de preparação. Por enquanto estou na preparação, dia 18 começa as aulas e veremos como vai ser. Meu sentimento é positivo, um pouco preocupado, mas positivo, uma ansiedade boa, que prepara a gente. Boa sorte para mim!
04/02/2021
VOCÊ ESTÁ LENDO
Para não sufocar
Non-FictionHistórias do meu cotidiano, desabafos, coisas que sinto e que preciso por em palavras para não sufocar, escritas ao longo de 9 anos e contando.