Me foi prometido

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Como é perigoso vender um sonho. Me venderam um, mais que um sonho, uma promessa: "Se você seguir o que dissemos, você será feliz no futuro. Estudo, se dedique, descubra uma faculdade, consiga um emprego e você será feliz." Mas não está sendo assim. Eu me dediquei, fiquei em primeiro nos simulados, em primeiro no vestibular, entrei para um curso que eu gosto, consegui um estágio que virou emprego, na área que eu achava que gostava, consegui um emprego que ganhava mais e aqui estou eu.

Talvez seja por conta da carga horária, talvez ser professora não seja para mim, talvez seja hormônios, talvez seja a distância dos amigos, de coisas que me fazem rir durante o dia, que me fazer dizer que o dia foi legal, como eu fazia quando chegava da escola e minha mãe perguntava como foi, porque realmente tinha sida legal, mas não hoje, não quando eu chego do trabalho, não quando me perguntam como está o trabalho. Não está mais legal.

No começo do ano eu disse para mim mesma que esse seria o ano que eu ia comer o pão que o diabo amassou e não errei. Por isso eu escrevo, para registrar como está sendo difícil. Como eu quero parar, como eu sofro de saber que amanhã é segunda-feira, como eu fico triste por ver meus amigos e saber que não vou ver eles de novo amanhã, seja os amigos da escola ou da faculdade. Acho que a falta de atividades que me fazem sentir vivas é que me faz ficar tão sem esperança.

Não consigo nem viver pelos fins de semana, porque, normalmente, eu passo eles dormindo, no celular ou sofrendo por antecedência, e isso virou um ciclo de oito meses já, com poucas exceções de vezes que me sinto viva. Boa parte disso é consequência da minha completa falta de vontade de socializar com outras pessoas, que vem desde a época que eu ficava em primeira em simulados.

Outra coisa que pesa é pensar que esse já pode ser o momento final do script da vida, não ter esperança de que as coisas podem melhorar se seguirem pelo caminho que estão. Realmente não importa o salário se você não tem tempo para ser feliz. E é culpa dessa merda de momento histórico-social, sem nenhuma perspectiva de melhorar a qualidade de vida.

Parece que tudo é um ciclo enorme e sem possibilidade de melhora. Se eu continuar a andar mais casas no jogo da vida e arrumar uma casa, não vou ter dinheiro para mais nada, para sair ou viajar ou arrumar um problema do carro ou fazer uma obturação quando precisar. Se eu seguir essa vida que estou levando esse ano por mais um ano, não vou aguentar de estresse e depressão. A minha geração cresceu ouvindo que devemos trabalhar no que nos faz feliz, no que gostamos, mesmo que nem todo dia seja legal, mas, caramba, eu não consigo lembrar do último dia que fiquei feliz no trabalho.

Nunca aprendi a socializar. Reza a lenda que eu me escondia das visitas quando tinha cinco anos porque não queria ver ninguém. Como consequência, não saio de casa não conheço pessoas que podem me ajudar na parte da felicidade e da solidão, então assisto séries e filmes que me fazer sentir como se eu tivesse uma vida louca de andar de carro com meus amigos com o capô aberto e ouvindo música alta e bebendo. Mas quem eu estou enganando, eu já tenho 24 anos, esses sonhos são para quem tem 18 ou menos.

Eu lembro no terceiro ano, que dizia que ia conhecer alguém na faculdade, no caminho, na minha sala, mas se passaram cinco anos daquele local e mais dois anos fora de lá, mas continuo projetando isso para ano que vem. Meu plano atual é voltar umas casas e voltar para a faculdade para poder trabalhar com meu pai em cinco anos, com 30 anos e provavelmente ainda morando com eles, porque um diploma e pós-graduação nesse país só te faz mais um possível desempregado.

Eu queria ter alguém para conversar sobre tudo isso.

15/08/2021

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⏰ Última atualização: Aug 16, 2021 ⏰

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