Primeira neta por parte de pai, primeira neta menina por parte de mãe, primeira filha. Ao nascer, várias idealizações já eram postas sobre mim, cresci num ambiente cheio de amor, em que meus pais eram o primeiro grupo de que eu fazia parte, e logo também ingressei nos dois grandes grupos da família materna e paterna. Assim, aprendi a andar, a falar, a comer sozinha, aprendi limites e regras, e comecei a escutar frases como "Nossa, igualzinha à tia dela", ou "Olha como parece o vô dela", e mais tarde era "Isso é sangue do pai dela", ou "Entojada igual à mãe". Os grupos familiares me formavam por igualamento ou por diferenciação, ou eu me espelhava neles para ser parecido ou eu buscava ter atitudes opostas às deles, e assim continua acontecendo com todas as pessoas e grupos que conheço ou ingresso.
Aos três anos, entrei na escolinha e tive contato com meu primeiro grupo de colegas da mesma idade que, mesmo contra minha vontade, me ensinaram a dividir, ceder, esperar e cooperar, mesmo que as lições viessem acompanhadas de crises de choro e gritos de protesto.
Quando mudei de escola, aos cinco anos, com mais consciência (e lembranças mais vívidas), me lembro da importância que o grupo de professores e diretores representou para mim. Ali aprendi a obedecer (e às vezes até temer) a autoridade dos adultos, que cada um tem sua personalidade e eu deveria aprender a como me comportar com cada um. Nessa escola, construí minha personalidade, inserida na panelinha das meninas, com amigas que tenho até hoje e outras que não sei dizer mais quem são, aprendi sobre intrigas, inveja, ciúmes e também carinho, suporte e amizade. Estudei lá por sete anos, e foi esse grupo da escola que desenvolveu em mim o gosto por estudar, o carinho pelo ambiente educacional e a minha curiosidade pelo saber.
Entre isso, quando tinha seis anos, meu grupo familiar cresceu, nasceu meu irmão, o que mudou permanentemente a dinâmica da minha relação com o grupo. Digamos que eu e meu irmão somos muito parecidos para nos darmos bem. Com isso novos traços de personalidade eram incorporados a mim, alguns não tão amáveis que outros.
Também nesse período, entrei na catequese e no grupo de jovens da igreja, e por sete anos fiz parte deste grupo que me ajudou nas minhas questões religiosas, e hoje vejo que busquei não ser como eles e não o oposto. No entanto, com eles aprendi o sentido de comunidade, de ajudar o outro, de fazer parte de algo maior e fazer a diferença através disso.
Com doze anos, mudei de colégio, para um maior, mais complexo, com mais alunos e mais panelinhas. Pela primeira vez, os subgrupos das salas não eram divididos apenas por gênero, mas por gosto, por personalidade. Me lembro até de me sentir fisicamente mais baixa do que as meninas populares e bonitas da minha sala sendo que eu sempre fui mais altas que elas, e eu percebo isso agora vendo algumas delas na faculdade. Mas por uma grande sorte (ou só pelo o que eles significam para mim agora) encontrei minha panelinha, meu grupo de estranhos, de deslocados, e por cinco anos, nós seis éramos perfeitos juntos. Com eles aprendi mais sobre relações e comportamento humano do que qualquer livro pode ensinar, aprendi sobre paciência, drama, limites, sonhos, companheirismo e o real significado de amizade.
Eles (também por serem meu apoio durante minha adolescência) me ajudaram a formar grande parte do que sou hoje, a escolher minha profissão, a formar meus pensamentos críticos, minhas opiniões e gostos e a fizeram do meu ensino médio os melhores anos da minha vida. Por curiosidade, no último ano do ensino médio, toda a sala já formava um grande grupo em que todos eram amigos e não existia mais atrito entre as panelinhas, e até podia chamar de amiga as meninas que eu achava serem mais altas do que eu alguns anos atrás. E como o fim de uma era, o ensino médio acabou, e como todo adolescente dramático, achávamos que aquele seria o fim de nossas vidas.
Mas estou aqui para contar que a faculdade é ótima (quase sempre) e que entrei em um novo grupo, das cinco meninas que estão sempre juntas e que (quase sempre) podemos contar uma com as outras. Além delas, têm mais amigas com quem me identifico, em quem confio e respeito, pois serão profissionais maravilhosas e acredito que todas nós teremos um grande futuro a frente.
04/02/2017
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Para não sufocar
Não FicçãoHistórias do meu cotidiano, desabafos, coisas que sinto e que preciso por em palavras para não sufocar, escritas ao longo de 9 anos e contando.