Uma vida meio merda - 14/09/2015

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Para aqueles que não sabem a diferença entre escola e faculdade e que tenham tempo e disposição para ler esse texto, explicarei aqui minha opinião. No começo não é muito diferente, você ainda procurar um grupinho para fazer parte, procura ser simpática e não causar muito, e, mesmo que demore um pouco, você vai se acostumar a sair da sala sem pedir e não sentir remorso só por responder a chamada e sair.

Daí, dependendo do curso, você começa a ver mais diferenças. No meu curso, por exemplo, você descobre que assistir as aulas, mesmo prestando atenção, não serão suficiente para ir tão bem na prova, você verá que não é mais a melhor da turma e descobrirá que aquelas pessoas ao seu lado passaram por caminhos muito diferentes do que seus colegas da escola, em diversos sentidos, e que você não terá escolha à não ser aceitar até as diferenças mais irritantes.

Se tiver o azar de escolher Humanas, quando ouvir "Você vai ter que ler muito" não leve em conta apenas pelo tempo de leitura, mas, principalmente, o esforço mórbido que será necessário para que você entenda o que raios aquele autor quer dizer, porque, rapaz, isso não é mais escola, e nenhuma pergunta daquela matéria será completamente respondida na primeira página de busca do Google.

E então você descobre que não é mais escola quando você descobrir o que é Scielo e a diferença de Normas da APA e da ABNT. E então você começa a se cansar, a questionar suas escolhas, questiona o curso, se fazer faculdade é mesmo pra você. E então as coisas começam a ficar mais difícil, e não é o tempo que é o obstáculo para estudar, mas sim a vontade, seu irmão começa a ficar mais chato, seus pais começam a ficarem mais chatos, você passa a brigar mais com qualquer um para botar a culpa da sua falta de vontade em alguém ou algo. E então você descobre que o chato, o errado, o estranho e mudado da história não são seus pais, e sim você.

A vontade de estudar some, os textos e matérias se acumulam e seus planos e promessas de lê-los são quebradas, até que você parar de prometer que vai ler aquilo fim de semana porque sabe que não vai, você para de tentar tirar notas boas e tenta fazer o necessário para tirar a nota suficiente para passar de semestre. E você percebe que não é mais o mesmo, e sim uma versão deprimida, preguiçosa e mal-amada de si mesmo, já está na merda de vida de adulto, seus amigos de verdade, da escola, já não entram tanto em contato e não há nada que pareça ajudar.

Toda a globalização e o capitalismo te incentivam a ter essa vida bosta, a sentar e ver filmes e séries, e, apesar de você saber de tudo isso, essa necessidade de consumir, é produzido pela indústria, e, por falta de opção ou de forças, você entra no jogo, entra na busca de algum prazer, alguma alegria, apesar da vida bosta que você leva, e você se vê assistindo série até duas da manhã sendo que tem aula no outro dia cedo. Mas você também não consegue dormir, sua cabeça não para pensando no futuro a partir dessa vida medíocre, e você volta a questionar o curso, o emprego (ou a falta dele), questiona a vida.

Você pensa a noite, na hora que deveria dormir, porque o dia é cheio de compromissos que você não quer ter ou longos períodos encarando um computador ou um livro esperando que alguma energia te faça ler e aprender aquela merda de matéria, não que a matéria seja ruim, mas sem expectativa de vida, tudo é meio merda. Tirar a carreira é uma merda mesmo com um objetivo nobre, e até mesmo estudar é meio merda mesmo se a profissão te agrada. Mas há momentos que você pensa "Por que diabos eu escolhi isso?".

Mas nem adianta, parece que todos, a partir dos 15 anos ou mais (se tiverem sorte) têm/terão uma vida merda, vivendo pelos fins de semana, se arrastando pela vida, buscando poças de prazer na Netflix ou em outros, ou se iludindo com Nicholas Sparks e Passenger. Ou tudo isso seja reclamações de uma adolescente preguiçosa mesmo, com muitas merdas na cabeça.

14/09/15

Para não sufocarOnde histórias criam vida. Descubra agora