Noites de domingo II - 25/08/2020

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Nas noites de domingo, algo estranho sempre acontece, um vazio diferente, que pode durar minutos ou algumas horas. É sempre um vazio de alguém, ou melhor, de algo que eu nunca vivi, alguém que em nunca conheci, um amor que eu nunca amei. Nos domingos a noite, e as vezes em outras noites também, fico mais romântica, assisto filmes românticos, começo a me imaginar num amor de filme, depois pesquiso mais romances, e a noite acaba comigo, de certa forma revoltada, por nunca ter namorado, revoltada por saber que nunca viverei um amor adolescente, meio que puro que quer apenas a companhia de outra pessoa.

Depois que você de certa idade sem a experiencia do amor, tudo fica exponencialmente mais complicado. No meu caso, eu não consenso pessoas suficientes para conhecer alguém interessante por acaso, não tenho a escola para me ajudar. E barreiras como timidez e medo crescem cada vez mais, e em sempre escolho não as enfrentar, ficar com o discurso de que estou bem sozinha, o que não é mentira.

Não me entenda errado, é apenas nesses breves momentos de domingo que esses pensamentos vêm. O resto do tempo, tudo está normal e meio que do jeito que pensei que seria (ainda buscando uma casa, mas vamos do jeito que fá por enquanto). O meu lado racional sabe de tudo, sabe que namoro é trabalhoso e que, provavelmente, para mim, trará mais contras do que prós, especialmente no início, buscando derrubar aquelas barreiras.

Ainda assim, nas noites de domingo, eu queria estar conversando com alguém até cair no sono, como uma adolescente de 15 anos que nunca fui. Queria alguém para pensar quando ouço músicas lentas, alguém, que atualmente, na minha cabeça, já está tão idealizado e fora da realidade, que atrapalha, com certeza, minha realidade de moradora de Campo Grande.

E não sei como eu vou levando, mas eu vou, com as crises de domingo sendo abafadas pelos compromissos de segunda-feira. Com a razão tentando consolar o coração, e os dias vão passando, e o sentimento que estar perdendo a vida aumentando cada vez mais. O sentimento de estar estagnada com 23 anos é triste, fico inventando na minha mente objetivos abstratos como pontos de início de vida, como mudar de país, ou comprar uma casa, porque aí sim minha vida vai começar. Mas os filmes já me ensinaram essa lição muitas vezes, a vida é isso mesmo, não tanto uma montanha russa, mas mais um brinquedo da minhoca de um parque de estrada, com um ou dois momentos de empolgação, e depois monotonia.

Alguns anos atrás, minhas preocupações enxiam minha cabeça de outra forma, a faculdade e o trabalho de deixavam ansiosa e sem dormir. Parece que agora tudo virou um vazio, como que se a ansiedade continuasse, mas não fosse em relação a semana que viria, mas a uma vida que viria, e como esta não tem prazo para acontecer, seja o amor, ou a viagem ou a casa própria, o vazio deixa um mal-estar. O medo de nunca mais se sentir viva me assombra, talvez não ver pessoas que você ama todos os dias também não ajude nisso. Sinto falta das minhas amizades, como no fim de Conta Comigo, que ele fala que nunca mais teve amizades como aquelas.

Eu também nunca mais terei, por mais que os amigos sigam se conversando vez ou outra, nunca mais viverei aquele sentimento. Talvez seja essa mal-estar que Freud estava falando, talvez isso seja coisa da minha geração que não sabe viver na monotonia, talvez seja eu. Mas já está tarde, meus olhos doem, vou continuar ouvindo as músicas românticas até dormir ou sei lá. Obrigada por me ouvir, eu gosto de falar com você. Boa noite.

25/08/2020

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