Capítulo 4 :

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CARLA

No final da tarde, depois de passar o dia inteiro ocupando a mente, eu me jogo na poltrona da varanda e ligo o notebook. Preciso ver o estrago que a minha matéria está causando.

Para a minha infelicidade, meu celular toca, interrompendo minha empolgação. O som do Elvis me avisa que é o meu pai do outro lado da linha.

Então, lá vamos nós...

Carla: Boa tarde, pai. — Uso minha voz mais doce possível. Escuto um suspiro pesado do outro lado.

Carlos: Boa tarde? Você tem coragem de me atender nessa tranquilidade toda?

Sim, pai. Claro que sim. Agora eu provei que aquela atriz meia boca não vale nada.

Carla: O que houve? — pergunto mesmo sabendo o porquê do nervosismo.

Carlos: Carla Carolina.

Carla: Xi... Quando fala meu nome é porque vem merda. — Tento conter uma risada. Daria tudo para ver sua expressão irritada nesse momento. Confesso, é engraçada.

Carlos: Olha lá como fala, mocinha! Quero saber o que está pensando da sua vida. Já está publicando matéria sobre a Lorena? Não se lembra da última vez? Se não fosse por mim, jamais teria conseguido escapar de levar um processo pesado.

Carla: Pai, é o seguinte... eu não citei o nome dela, citei? Então, não vejo problema algum. Até porque a matéria está destacada com o nome do jogador. Nem mencionei a fulana. — falo tranquilamente.

Carlos: Mas postou fotos. Sabe no que isso vai dar?

Carla: Sei sim. Dessa vez o corno vai descobrir o que a mulher é de verdade. Daria tudo para ver a cara dele. — Solto uma risada sem querer. Meu pai xinga do outro lado da linha e escuto a voz da minha mãe tentando acalmá-lo.

Carlos: Você não toma jeito mesmo! Depois teremos uma boa conversa. Se eu discutir com você por mais dois minutos, eu infarto de vez. É isso que você e sua mãe querem: Me matar! — Meu pai fala em espanhol, principalmente, quando esta nervoso, e eu Gargalho.

Carla: Que dramático! — bufo — Eu também amo o senhor. Fica bem, ta? Logo mais irei por aí. Beijo. — Ele desliga e coloco o celular na mesinha. Volto minha atenção para a tela.

Vários comentários de fã clube do jogador, que é um gato, por sinal. E da Lorena, só vejo algumas fãs que ainda guardam rancor desde a última postagem sobre ela.

Essa mulher tem fãs, dá para acreditar?

Eu sou um pouco conhecida da mídia, mesmo sem mostrar muito meu rosto por aí. Já fui convidada a participar de programas de TV para ter meu próprio quadro e até mesmo ser colunista de jornal na área de entretenimento, mas não gosto. Eu prefiro ficar aqui, escondida e protegida.

Meu pai não está nada satisfeito com minha carreira. Desde o começo, quando comecei a cursar jornalismo, ele reclamava. Queria que eu seguisse os passos dele. Sempre dizia que eu era idêntica a ele, e eu sou.

Temos um gênio bem parecido. Minha mãe é tranquila, serena e muito religiosa. Preza muito pelos bons costumes, coisa que eu nunca tive também. Esse é um dos motivos de não ter ficado para morar com eles. Gosto de ter minha vida sem ninguém para me comandar.

Minha avó por parte de pai costuma dizer que é a família desvirtuada. Acho que por isso nem convivo muito com ela. Somos os mais tortos comparando com a família toda, que tem médicos, advogados, arquitetos, pessoas casadas e bem resolvidas. Ela acha que sou a viúva negra, que não sonha em ter uma família.

Mas quem disse isso? Sonho sim, mas não para agora. Quero aproveitar o máximo que posso e só depois casar e ter meus filhos. No momento, mal posso cuidar de mim mesma... imagine de outra pessoa? Nem pensar!

Perola me envia notícias sobre o jogador Arthur, o mesmo que estava com a Lorena na festa. Ela tem contatos dentro do clube. Quer dizer, alguns jogadores com quem ela já ficou. Bom, a matéria é quente, e como o dia está parado, não custa nada deixar uma pequena nota no blog sobre o mesmo.

Não vou perder nada com isso. Pelo menos ele tem fãs e isso faz meu blog ficar mais falado. Adoro isso!

Desligo o notebook e vou para o quarto trocar de roupa. Visto uma calça de lycra e uma camisa sem mangas, que uso por cima de um top. Calço meu tênis de caminhada e amarro meus cabelos loiros em um rabo de cavalo.

Procuro a coleira o Chaplin e coloco em seu pescoço. Ele se anima, pois sabe bem que é a hora do seu passeio diário. Tranco a porta e vou em direção ao elevador. No mesmo momento, meu vizinho ranzinza entra comigo. O silêncio é matador, até que ele começa a falar.

Xxx: Controle esse seu vira lata ou vou acabar colocando seu nome no livro de reclamações. Diabos de cachorro que enche o saco! A única coisa que faz é latir o dia inteiro. — Olho para ele abrindo um sorriso de orelha a orelha.

Carla: Senhor, eu não posso fazer nada se é a única coisa que ele sabe fazer. Porém, se descobrir métodos para fazer o cachorro falar, eu ficarei grata. — A porta se abre e eu saio. Ainda escuto um "menina petulante".

Aliso a cabeça do Chaplin e o coloco no chão. Começamos a caminhar até a praia. Meu pai comprou esse apartamento para mim pois sabia que sou fissurada em mar desde pequena. Se bem que eu não cresci muito ne? Solto uma gargalhada. Então aqui é meu refúgio, onde consigo recarregar minhas energias.

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