Capítulo 39 :

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Meu celular toca e a foto da minha mãe aparece na tela.

Arthur: Oi, mãe! — falo animado.

Beatriz: Arthur, meu filho... — Sua voz me dá uma sensação de paz. — Quanta saudade de falar com você.

Arthur: Desculpa mãe. Eu só estive com esses dias cheios e mal tive tempo de ligar. — minto.

Beatriz: Cara de pau! Eu sei que você está suspenso dos jogos. E pelo que conheço você, o máximo que deve estar enchendo seu dia é algum rabo de saia. Ou vários! Estou mentindo? — Gargalho.

Arthur: Está exagerando! Eu ando até mais comportado.

Beatriz: Sei... vi bem pelas matérias que acompanhei pela internet.

Arthur: Ignore essas coisas... nem tudo é verdade. — Ela bufa.

Beatriz: Agradeço a quem inventou essa maravilha, senão jamais teria notícias suas. Quando vem aqui? Estamos com saudade. Sua irmã Thais está com vontade de passar uns dias no Brasil em breve. O problema é que ela tem trabalhado muito.

Minha irmã trabalha no ramo de moda, estilista. Mora na França com meus pais e meu sobrinho. Morro de saudades.

Arthur: Diga a Thais que ela sempre será bem-vinda. E o Pedro, como está?

Beatriz: Bem agitado. Sempre pergunta pelo tio que nunca aparece. Agora ele está na escola.

Amo meu sobrinho. Ele tem tres anos e é um amor de menino. Ele é agitado, mas o oposto da mãe, que sempre foi uma diabinha em forma de gente.

Beatriz: Espero que nos faça uma visita em breve. Ah, espero que com uma namorada! Há tempos não tem nada sério com ninguém. — Como sempre, ela puxa esse mesmo assunto.

Arthur: Mãe, eu estou muito bem, não se preocupe. Agora tenho que ir. Estava de saída quando a senhora ligou. — Ela dá um suspiro pesado do outro lado da linha — Mande beijos para Dani, Thais e Pedro.

Beatriz: E seu pai? Ele está aqui, e...— Interrompo.

Arthur: Não... Nem quero saber.

Beatriz: Tudo bem. Estamos dando o seu tempo. Fica bem. Amo você!

Arthur: Também. Beijo. — Desligo.

Minha mãe sempre tenta fazer com que eu volte a mesma amizade e respeito que tinha pelo meu pai, mas ele vacilou e eu não sou nenhum imbecil. Não consigo aceitar tudo quieto. Melhor que nossa relação prossiga dessa maneira. Assim, não causa mais discórdia na família.

Abro outra aba na internet e visito o blog da Carlinha com receio de ter algo relacionado a nós dois. Mas como eu esperava, não tem. Hoje ela só comentou sobre uma ex-participante de reality. Fecho o site e volto a outra página.

Anoto um endereço que vejo no site de busca e desligo o notebook. Pego as chaves e o capacete. Preciso fazer algo de útil na minha vida, que além de me fazer sentir melhor, também limpe minha imagem.

Meia hora depois paro em frente a um canil. Aqui funciona uma ONG de proteção a cachorros abandonados e maltratados. Sempre gostei de bichos, mas depois do que houve com o cachorro da Carla, me interessei em ajudar. Uma senhora de aproximadamente quarenta anos me recebe com um sorriso no rosto, já me reconhecendo.

Xxx: Oh, Deus! Não acredito no que estou vendo. — Sorrio sem graça. — Meu nome é Luciana, sou dona daqui. — Estendo a mão.

Arthur: Eu vim visitar o local porque tenho intenções de ajudar financeiramente. — Seu sorriso vai de orelha a orelha.

Luciana: Sério? E por que a gente? Digo, assim, de surpresa. — Começamos a caminhar, enquanto conversamos.

Arthur: Eu vi na internet. Então, como eu gosto de animais, resolvi visitá-los. Quero saber como funciona, do que precisam... essa parte. A senhora me entende?

Luciana: Claro. Eu tenho esse canil há mais de dez anos. Alguns voluntários vêm me ajudar. Alguns vem para dar banho neles, trazer alguma ração, fazer a limpeza... O local é enorme. Com certeza o trabalho deve ser grande também. Sem contar as despesas, já que há muitos cachorros, de vários tamanhos e raças.

Arthur: E por que a senhora começou com isso?

Luciana: Eu ganhei esse terreno do meu falecido pai e como tenho casa, ele ficou aqui abandonado por anos. Aí, um dia, eu andando pela rua, encontrei um cachorro magrinho, deitado perto de uma árvore. Chovia e ele tremia, não sei se mais de fome ou de frio. Então resolvi trazê-lo para cá. Alimentei e deixei aqui. Vinha visitar todos os dias. Até que comecei a pegar mais cachorros na rua e juntar todos.

— Foi um começo complicado, porque sem perceber, eu já tinha mais de cinquenta. Você sabe, uma mulher que trabalha e ganha pouco mais de um salário, que precisa sustentar uma casa e um canil, é difícil. Mas é a minha vida e eu amo isso aqui. É o que me dá alegria para viver.

Fico emocionado com o gesto dela. São poucas pessoas que realmente tem um bom coração. Aproximo-me de uma área reservada, com cachorros em grades pequenas, que ficam isolados dentro de uma sala.

Arthur: Por que esses estão separados dos outros? — pergunto.

Luciana: Esses são os que estão se recuperando de alguma lesão. Por atropelamento ou maus tratos.

Um chama minha atenção. Uma pequena yorkshire magra, com o semblante triste e com várias marcas pelo corpo, onde faltam pelos.

Arthur: O que houve com ela?

Luciana: Encontrei nos trilhos, abandonada e chorando. Ela tinha cheiro de óleo de cozinha.— Ela enxuga as lágrimas que começam a aparecer — Trouxe imediatamente e a veterinária que me ajuda, limpou os ferimentos. Ela estava entre a vida e a morte. Alguma pessoa de alma ruim jogou óleo quente em cima dela. Doeu ver o estado que ela se encontrava. Se eu demorasse mais um pouco, ela morreria. Não gosto nem de pensar.

Se está doendo em mim, imagina nela, que viu de perto.

Arthur: A senhora é uma boa pessoa, com um grande coração. Fico feliz em ter acertado a escolha do local. Nada vai me fazer mais feliz que ajudá-la.

Luciana: Sério? — Balanço a cabeça.

Arthur: Vou lhe passar uma quantia para ajudar nas próximas despesas, mas serei mais presente também. Logo trarei alguém aqui com rações, coleiras novas e produtos de higiene. — Ela me abraça de uma vez, me deixando surpreso com o gesto.

Luciana: Obrigada! Que Deus te abençoe. Tenho certeza que ele te enviou aqui.

Arthur: Não precisa agradecer. É o mínimo que eu posso fazer.

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