Capítulo 12 :

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CARLA

Separo as contas e coloco na minha bolsa. Preciso passar em uma lotérica e pagar tudo.  Sou bem organizada com minhas finanças. Não ganho muito, mas o suficiente para me manter. Recebo dinheiro de patrocinadores, que são quatro. Um de produtos de beleza, outro de uma loja de roupas femininas, um de loja de maquiagens e uma perfumaria. Dá uma boa grana.

São patrocínios pequenos, mas dá para o gasto. Não sou muito consumista, compro o necessário. Como não tenho saído muito de casa, nem roupas tenho comprado mais, então meus gastos são com livros, ração e remédios do Chaplin, quando necessário. Uma vida tranquila. Aliás, tranquila até demais para uma mulher de vinte e sete anos.

Preciso de uma sacudida. Sempre que ficava carente, era ao Júnior, meu ex, que eu recorria. Mas também já estou cansada de figurinha repetida. Quero algo novo, experimentar alguém quente e que faça bem feito. Olha eu aqui cuspido no prato que comi.

Júnior é bom, mas já deu também. Quero alguém bem mais experiente, que não poupe esforços para me agradar entre quatro paredes, mas que depois vá embora e não se apegue. Não sei se estou preparada para ter um relacionamento agora. Nenhum homem vai entender meu trabalho, afinal todo cara com quem eu fiquei durante o tempo que estou solteira fez piada em relação ao meu trabalho.

Arthur é um que jamais daria certo. Ele me odeia e vice-versa.

Está louca? Arthur... Só sendo mesmo! Aquele ali, no máximo, uma boa trepada e nada mais. Mas isso jamais vai acontecer. Fora de cogitação!

Coloco a ração do Chaplin, a água e faço um rápido cafuné nele antes de sair. Quando saio do prédio, um carro conhecido está estacionado na frente. Mas o que me assusta é o olhar da pessoa na minha direção.

Carla: Pai! — Abraço o homem alto, com um olhar sério e bem vestido no seu terno escuro. Ele não responde meu gesto. — Que surpresa encontrar o senhor por aqui no final da tarde. Amo quando me surpreende com suas visitas! — A irritação no seu olhar é nítida.

Carlos: Posso saber aonde está indo? — pergunta.

Carla: Pagar as contas. Sou uma dona de casa também, esqueceu?

Carlos: Vou com você. Preciso tomar café com a minha querida filha. — Concordo, sabendo que vem merda por aí.

Caminhamos lado a lado, em silêncio. Sei que ele está irritado. Eu o conheço mais do que ninguém, e aposto que está com o sermão na ponta da língua.

Passo na lotérica e agradeço por estar vazia. Não demora muito e chegamos na padaria. Meu pai escolhe um lugar perto da janela, bem afastado de todo mundo. A garçonete aparece e pedimos um café com leite e bolinhos salgados. Somos parecidos em muitas coisas, até mesmo nos gostos culinários.

Carla: Como está a mamãe? — Seus dedos batem na mesa ritmicamente.

Carlos: Não chamei você para falar sobre sua mãe. Até porque, se você quisesse saber dela, iria visitá-la. Quero saber sobre a matéria de hoje no seu blog. Quase não acreditei quando li aquilo. — Enfio um bolinho na boca e mastigo lentamente buscando tempo. — Carla, minha filha... — Ele afrouxa a gravata e passa a mão no cabelo — A Lorena vai acabar com você. Eu me preocupo. Sabe que tem influência.

Carla: Ah pai! Quem ela é mesmo? Uma atriz meia boca que se encostou num paspalho e aproveitou da paixão do mesmo para se promover. Não passa de uma quen...— Desisto de completar a palavra quando meu pai me fita com raiva.

Carlos: Olha no que está se transformando! Eu não paguei anos de faculdade para você ficar fazendo notas sobre famosos. Nada contra, mas minha filha, você sempre foi sedenta por notícias importantes, por furos de verdade. Isso está ficando ridículo. São duas adultas agindo como adolescentes. — Reviro os olhos.

Carla: Sabe que não era isso que eu queria no final de tudo. Eu tinha meu emprego, mas aquele infeliz corrupto acabou com minha carreira logo no começo. — Fico com um nó da garganta ao lembrar o que aconteceu.

Carlos: Você só mexeu com peixe grande. Sabe que eu morri de orgulho de você como jornalista, mas como minha filha, só conseguiu me preocupar. Você sofreu um atentado e perdeu o emprego. Temo por isso. Sua mãe teme que você passe por isso novamente.

Carla: Que exagero! Só falo de celebridades, pai. Elas adoram aparecer. Inclusive, várias pagam muito bem a Perola para que ela tire foto delas em momentos comprometedores. São poucas que escapam, pois amam os holofotes. A Lorena não me engana... eu sei que ela ama isso tudo. A raiva dela é porque eu fui ao ponto fraco, o marido milionário. Qualquer outra nota, ela jamais se importaria em se fazer de vítima. — Ele resmunga.

Carlos: Espero que não tenha esquecido o que aconteceu da última vez que mexeu com a Lorena. Não gosto daquela mulher, ela não presta. — Sorrio.

Carla: Agora o senhor falou minha língua. — Brinco, mas ele não demonstra ter gostado.  — Eu quis dizer, somos dois. Eu também não gosto dela, como deu para perceber. Mas não se preocupe... Você e a mamãe tem que parar de me tratar como uma menina. Sou mulher e independente, quero viver livre e trabalhar. Não tenho vergonha do que faço e para falar a verdade, me divirto.

Meu pai balança a cabeça, incrédulo.

Carla: E em relação à Lorena, é como viu no blog, ela está sem o protetor dela, levou um fora. Resumindo, não é ninguém. Não me fará mal algum, e nem tenho medo dela. O que pode me acontecer? Além do mais, ela daqui a pouco arruma mais um panaca.

Carlos: Que Deus te dê juízo. Acho que isso é falta de um namorado. Vive presa naquele apartamento. Precisa de alguém para ocupar seu dia. — Ah não! Mais um com isso? Chega, não é? Essa parte da minha vida cuido eu. Já me basta a Perola. — Ele desiste e muda de assunto.

Passamos no shopping e compro uns livros. Ele passa em uma floricultura e compra um buquê para minha mãe. Fico admirada que, mesmo depois de tantos anos, o amor permaneça.

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