2 anos atrásSeguro o convite nas mãos e analiso, emocionada e ansiosa. Ainda não acredito que conseguirei ir a esse jantar. Estou quase soltando fogos de alegria.
Rafael: Ainda quero saber como conseguiu isso. — Rafael, meu companheiro de trabalho, fala da mesa dele.
Carla: Contatos. Eu disse que tinha que participar. Rafa, eu sou jornalista e essa é uma festa que só vai a nata da política carioca.
Rafael: Ir sozinha? Você não trabalha no FBI, gata. Isso é como dar um tiro no próprio pé. Sem contar que ainda é uma iniciante. É arriscado! — Reviro os olhos.
Carla: Vai dar certo, você vai ver!
Há meses tinha feito uma matéria sobre uma creche na zona norte do Rio de Janeiro. Fui entrevistar funcionárias e pais de alunos sobre um suposto desvio da verba da merenda escolar. Fiquei chocada quando soube que há duas semanas faltava lanche para as crianças. Então, devido à repercussão, acabei investigando nome por nome.
Alguns secretários que estavam sendo apontados como suspeitos. Fiz tudo escondido, óbvio. Até que consegui a lista dos quatro políticos relacionados ao escândalo. Mas ao mesmo tempo, descobri que não tinha provas para pegá-los. Acabei contatando a Perola, que sempre trabalhou em festas como recepcionista, além de trabalhar como modelo também.
Ela descobriu que iria trabalhar em um jantar realizado na mansão do Deputado José. O que eu tinha a fazer era insistir até que ela conseguisse o convite. E ela conseguiu. Aqui está ele, na minha frente.
Rafael:: Carla, você está procurando sarna para se coçar. — Rafa alerta — Sabe bem que pode perder o emprego se descobrirem que anda vasculhando a vida desses caras.
Carla: Depois de uma bomba? Duvido. E valerá a pena. Sabe bem que não suporto injustiça. Sem contar que minha alma está implorando de curiosidade. É a minha chance. Tudo ou nada.
Rafael: Você é doida! Definitivamente, muito maluca! — Sorrio orgulhosa com o "elogio".
No final do expediente, acabo juntando tudo e vou para casa. Tomo um banho, escolho um vestido elegante e dou um jeito nos cabelos. Não avisei ao Júnior, já que se ele souber, me proibirá ou até mesmo irá contar para o meu pai.
Às sete em ponto chego ao jantar. A mansão fica na zona sul. Carros luxuosos, piscina e um jardim enorme me deixam abismada. Há muito dinheiro aqui. Em uma casa de um simples deputado. Tudo bem que o salário dele é alto, mesmo assim... tem tudo em exagero por aqui.
Perola segura meu convite e me recepciona como se eu fosse uma convidada qualquer. Leio nos seus lábios um aviso: "Cuidado".
Entro na sala e vejo vários políticos conhecidos, outros nem tanto. Trabalho nesse meio e conheço muita gente de vista. Faço matérias todos os dias para um jornal impresso e é impossível não gravar alguns rostos na mente.
Na hora que o jantar está sendo servido, consigo me afastar, e acho o escritório da casa. Entro, e fecho a porta. Sei que o que estou fazendo é crime e que quando meu pai descobrir, vai querer me matar. Mas isso ele quer fazer quase todos os dias. Já me acostumei!
Vasculho os documentos que estão sobre a mesa. Leio cada detalhe minuciosamente. Até que, em uma pasta fina, escondida entre livros na estante, encontro documentos com valores altos.
Carla: Que merda! — sussurro — Nunca vi tanto zero em toda minha vida.
Notas fiscais, nomes, tudo detalhado em documentos sigilosos. Espanta-me ele ter dado tanta bandeira deixando-os aqui. Olho para a porta e temo que alguém me veja saindo com a pasta. Vejo a janela grande e não penso duas vezes. Tiro meu sapato e pulo. Nunca fiquei tão feliz em ser pequena. Corro até meu carro e saio o mais rápido possível.
Quando chego em casa, começo a fazer um relatório sobre tudo. Quatro pessoas estão envolvidas. Além do José, secretários e a diretora da creche e mais dois vereadores. No meio dos arquivos está um dossiê. Pelo que consegui entender, alguém os investigou, mas eles acabaram tendo acesso a tudo. Não duvido que eles tenham conseguido pôr as mãos nisso com suborno.
Envio tudo para editora antes que caia na minha coluna no jornal e vou dormir. Aliás, tentei. Mal consegui pregar os olhos de tão ansiosa. Quero ver como irão sair dessa. Fiz cópias das folhas, e mandei como anexo também.
Minha chefe aceita e publica, colocando total responsabilidade em cima de mim. Em pouco tempo de trabalho irei conseguir uma matéria bombástica e exclusiva. Como era o esperado, a manhã foi bem movimentada. Mas não fui trabalhar logo cedo. Recebi uma mensagem me pedindo para ficar em casa. Tudo tinha explodido e como a matéria não foi anônima, preciso me preservar.
Abro os sites e tento acompanhar tudo em tempo real. Abro no site de uma grande emissora, e clico na matéria. "...Os suspeitos podem responder por crimes como formação de quadrilha, fraude e lavagem de dinheiro.
Abro um sorriso vitorioso.
Arthur: Você foi corajosa, mas inconsequente também. Poderia ter assinado seu atestado de óbito ali mesmo. — Arthur me lança um sorriso triste.
Carla: Mas quem disse que quase não morri? — Sinto calafrios ao lembrar — Primeiro fui demitida. A armadilha do destino foi que um dos sócios do jornal era primo de um dos envolvidos. Depois fui perseguida e por pouco não meteram uma bala na minha cabeça enquanto eu voltava para casa.
Arthur: Meu Deus, mas quem? — pergunta chocado.
Carla: E eu sei? Estava voltando para casa quando me fecharam. Achei que fosse um assalto, mas não pediram nada. Só apontaram a arma para mim. Por Deus, uma viatura da PM passou bem na hora. Eu gritei. Então ele fugiu. Devia ser alguém amador, já que teve a oportunidade e não concluiu o serviço. Meu pai quase morreu do coração, mas jurou que antes me jogava na mesma cova.
— Sorrio. — Depois recebi ameaças do seu pai. Ele veio pessoalmente me dar uma chance de sumir do mapa ou acabaria comigo. E esse foi o dia que senti mais medo em toda a minha vida. Quase me arrependi de ter feito o que fiz. — Ele arregala os olhos. — Tive que me esconder por uns meses, mudar o rumo da minha carreira e mudar de apartamento. Aí me esqueceram. Consegui ter uma vida normal depois de tudo. Mas ainda tenho o nome sujo entre eles. Inclusive o meu antigo patrão queimou meu filme.
Arthur: Que horror! Eu lamento por tudo que ele fez você passar. — Encosto a cabeça no seu ombro.
Carla: Relaxa! Eu já estou de boa. Mas espero nunca mais cruzar o caminho de nenhum deles. Isso inclui o seu pai... principalmente ele. — Seu braço envolve meu corpo e ele me puxa para ficar entre suas pernas. Ele me conforta.
Arthur: Enquanto estiver comigo, ninguém fará mal a você. — Arthur beija o topo da minha cabeça e tenta me passar tranquilidade. Sinto o quanto está tenso com isso tudo. — Ai de quem encostar um dedo em você. Esquecerei qualquer laço sanguíneo.
Assistimos juntos ao pôr do sol. Casais apaixonados se juntam e contemplam a maravilha da natureza. Mas Arthur e eu, por enquanto, estamos somente como amigos. Sem beijos, ou qualquer intimidade que dividimos esses últimos dias. Ele tira algumas fotos de nós dois e me abraça em todas elas.
Isso está ficando cada vez pior. Ou seria melhor? Só sei que meu coração está se comportando por vontade própria.
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O Astro do Futebol ⚽️
FanficSinopse: Carla Diaz é do tipo que perde o amigo, mas nunca perde uma boa fofoca. Formada em jornalismo, ela trabalhou em um dos jornais mais importantes do Brasil; até que por um furo de notícia, ela precisou repensar toda a sua vida e carreira. Par...