Até que a velhice nos separe

121 27 86
                                    

Já faziam dois dias que estavam em Dinétah, tempo suficiente para que descansassem e a festa em homenagem a eles fosse finalmente preparada após ter sido adiada pela falta de carne; uma fogueira gigante ardia no centro da tribo, rodeada por homens e mulheres com vestes coloridas e cheias de babados, dançando e cantando ao som de tambores, chocalhos e instrumentos de sopro rudimentares. Os cânticos contavam historias dos deuses, as lendas antigas daquela tribo que eram passadas de geração em geração pela fala e também através de desenhos que decoravam as tapeçarias e alguns objetos sendo também pintados no solo, paredes e pedras de tamanho considerável. O xamã guiava tudo sentado ao lado dos quatro "convidados" que se vestiam a caráter, orientando seus assistentes e pedindo por comidas e bebidas que todos, inclusive Levi, degustavam, afinal, aquela era uma festa para os deuses Begochidi e Tsohanoai:

- Sinto-me tão desconfortável com esses trajes femininos... - Armin reclamou brincando com um dos colares, observando a pedra azul que o decorava.

- Não há nada a se fazer sobre isso, eles pensam que tu és um deus que se veste dessa forma. Precisas entrar no personagem. -Eren sussurrou de volta ao amigo sorrindo para uma das jovens que lhe oferecia alguns frutos azulados- Mas sabe, até que te cai bem esse visual...

- Haha, muito engraçado. -desdenhou com um riso forçado- O rei está perdendo um ótimo bobo da corte.

Jean mantinha-se ao lado do loiro que vez ou outra agarrava-se em seu braço o que geralmente significava que estava se sentindo incomodado com alguém, restando para o mais velho o trabalho de encarar fixamente o motivo daquele desconforto até que ele parasse de fazer o que quer que fosse, mas fora esses pequenos inconvenientes a festividade seguia noite adentro de forma calma a ponto de deixar o de olhos verdes entediado. Levi conversava com todos graças ao seu dom enquanto seus amigos interagiam entre si o deixando de lado, quase como se fosse uma peça dispensável ali, então quando notou que o xamã se afastava do convívio acabou por sentir-se tentado a observá-lo para ver o que faria enquanto todos festejavam.

Seguiu o rapaz albino com os olhos até vê-lo pegar uma tocha e se dirigir para as pequenas montanhas rochosas próximas ao riacho e quando pensou que o perderia de vista, ele parou voltando-se para si, quase como se o convidasse para o acompanhar.

Olhando para os lados para ter certeza de que as atenções não estavam em si, Eren levantou-se do tapete colorido com a ajuda de seu cajado seguindo pelo caminho que o outro passara, esse que, ao notar que seu gesto havia sido compreendido pelo rapaz adoentado, voltou a caminhar estendendo a tocha a frente de si para iluminar seus passos.

Após alguns minutos andando chegaram numa espécie de gruta e mesmo sabendo que não seria compreendido, Eren tentou perguntar o motivo de terem ido até lá. A resposta, como imaginava, restringiu-se ao silêncio e um olhar indecifrável do de olhos violeta que apenas baixou sua tocha até que tocasse em alguns galhos secos dispostos no solo do local que emanavam um cheiro alcoólico.

O fogo se alastrou rapidamente iluminando as paredes da gruta e permitindo a visualização de inúmeras imagens pintadas no local, uma delas, aquela que o albino apontava com um olhar feroz, mostrava uma figura de chifres com o Sol nas costas:

- Isso é... Tsohanoai? - o xamã acenou em afirmativa antes de apontar para outra imagem, uma que mostrava a mesma figura de chifres ao lado de uma mulher.

- Estsanatlehi - disse em tom seco, molhando as mãos em um pouco de tinta que só naquele momento o moreno notou estar lá e desenhando a figura do deus do Sol, agora ao lado de um rapaz que teve dois cristais verdes cravados no lugar dos olhos.

- Esse sou eu? - tombou a cabeça para o lado, mas o rapaz pareceu entender, pois acenou com a cabeça em afirmativa.

Abaixando-se novamente para pegar mais tinta, começou a desenhar novamente aquela que deveria ser a representação de Eren, porem dessa vez com ondulações escuras feitas de carvão ao seu redor e a imagem de uma caveira sobreposta ao seu rosto, apontou para o de cabelos castanhos e então voltou com a mão suja de tinta para a imagem do que seria Eren e o deus que eles pensavam ser Levi juntos, borrando-a completamente com um olhar de raiva enquanto batia a tocha ali, finalizando aquela "conversa" com um gesto suave, quase que reverenciando a imagem onde o deus do Sol estava ao lado de uma mulher:

The boy and the demonOnde histórias criam vida. Descubra agora