The boy and the demon

De volta para casa

A viajem até o porto foi longa e difícil, tanto por terem de tomar o cuidado de se esconder, quanto pelas dores que Levi começava a sentir por usar aquela casca que recebera de Mina.

A dor em si não era um grande problema, mas sim as náuseas e o sangue que vez ou outra expelia pela boca e que sempre tentava esconder, afinal, ele não podia simplesmente livrar-se dela como tinha prometido.

Agora os papéis haviam se invertido. Todos dependiam dele para guiar a carroça sem levantar suspeitas enquanto eles se escondiam, rezando para que as notícias e cartazes com seus rostos não tivessem se espalhado até as terras vizinhas. A única coisa que o confortava era saber que o lorde Reiss não os perseguia, pois, segundo as noticias que ouvira em suas paradas nas cidades para comprar comida, ele havia desaparecido após um incêndio no castelo e todos especulavam que tivesse morrido.

"Notícias sobre os nobres se espalham rápido" foi tudo o que Erwin disse ao ficar ciente daquilo. Não demonstrando tristeza ou sequer comovendo-se com a possível morte daquele que um dia trabalhou com ele e o chamou de amigo.

Quando finalmente chegaram a vila Portuária, Levi não demorou muito para, conversando com comerciantes locais, conseguir um espaço para ele e sua "família" no porão de carga de um pequeno navio que partiria dali em alguns dias. Pagou pelo transporte da carruagem e vendeu os cavalos para comprar outros quando chegasse na ilha, conversando com a tripulação para ajudar nos afazeres do navio como parte do pagamento já que não tinha dinheiro suficiente para custear a viagem das sete pessoas que viriam com ele.

"No fim o trabalho com a Annie em seu navio me valeu de algo. Quem diria" pensava contente enquanto desemaranhava as redes com mestria sobre os olhares incrédulos que todos que o viam fazendo aquilo.

Quando finalmente desembarcaram na praia, Eren, Armin e Grisha suspiraram em nostalgia. Estavam finalmente de volta a sua terra Natal, embora ainda muito distantes da vila.

Como já não havia risco de serem reconhecidos ali, dividiram-se em dois grupos para conseguir novos cavalos, roupas, comida e um lugar par dormir quando a noite caísse usando as poucas moedas britânicas que tinham. Hanji e Gabi ainda tiveram de lidar com alguns ladrões que tentaram cerca-las em um beco separando-as do grupo e saíram-se bem livrando-se deles que, no fim, aprenderam a nunca intimidar uma mulher insana com um pássaro no cabelo e uma adaga no espartilho. Ainda cogitaram trocar a carruagem por uma carroça mais simples depois desse incidente por pensar que teriam se tornado alvos justamente por conta do aspecto nobre do veículo, mas decidiram priorizar seu conforto durante a viajem já que, no pior dos casos, Levi poderia se livrar de seu disfarce e apavorar até a décima geração de qualquer bandido.

A viajem seguiu como o planejado no dia seguinte, sem muitos problemas ou pausas, envolta em um clima descontraído e cheio de conversas animadas durante todas as semanas que se seguiram. Enquanto isso, no vilarejo e sem sequer imaginar que reencontraria em breve o garoto que amava, Mikasa continuava seu trabalho diário mantendo viva a plantação de ervas de Eren e fabricando remédios para aqueles que necessitavam. Sua mãe a ajudava quando precisava e juntas as duas mulheres se encarregaram de manter a paz naquele povoado até o retorno do jovem boticário:

- Vai até a cabana dele de novo? - a mulher asiática de meia idade questionou a filha que enchia sua cesta com alguns itens de jardinagem.

- Tu sabes a resposta para essa pergunta - Mikasa sorriu para a mãe enquanto jogava o velho cachecol vermelho que havia ganhado de Eren sobre os ombros para usar como um xale, amarrando-o sobre o peito para que não caísse e organizando os cabelos em um coque baixo.

Seu corpo estava bem diferente de quando os amigos saíram em sua viagem, curvilíneo e marcado com um espartilho simples que realçava os seios recém desenvolvidos de uma jovem em idade fértil cujo o pai insistia que deveria encontrar logo um outro alguém para se casar, afinal, depois de tanto tempo sem sequer enviar uma carta ele duvidava que Eren fosse mesmo voltar e se voltasse, com certeza não se casaria com sua filha.