The boy and the demon

Areia vermelha

Em meio a escuridão da noite as luzes de algumas tochas iluminavam as laminas das espadas e pontas de flechas que eram afiadas com pedras:

- Querido, por favor, reconsidere - a mulher ruiva pedia sendo afastada pelo homem de cabelos acinzentados.

- Eles mataram o Gunther e eu reconsiderei por ti, mas agora aqueles selvagens passaram dos limites. Eliminaram um grupo de busca inteiro! Não vou fechar os olhos novamente! - esbravejou tomando a espada que a mulher tentava impedi-lo de agarrar.

- Aquela criatura e seus companheiros disseram para não nos envolvemos com os nativos dessa terra! - ela respondeu no mesmo tom começando a desesperar-se.

- Aquele demônio não teve quinze bons homens assassinados por esses selvagens nojentos. Será sangue por sangue e não me importa acordo ou promessa alguma! - afirmou seguindo para fora da tenda reunindo-se com os poucos homens que estavam dispostos a segui-lo, pois a maioria temia uma possível ira da parte da criatura que havia os visitado e curado a esposa do Barão já a uns bons dias.

- Senhor, eu não acho que deveria... - o rapaz de cabelos negros cortados em forma de tigela murmurou incerto sendo empurrado para longe pelo homem furioso.

- Estão com medo de lutar pelas palavras daquele demônio?  Aqueles que temem demais aquela criatura para erguer suas espadas e vingar seus companheiros que fiquem aqui choramingando como a escória que são. Eu e aqueles que possuem verdadeira coragem lutaremos até o fim e tu... -apontou para o rapaz temeroso- Se ficar, esqueça que um dia te ofereci a mão de minha filha. Hitch não se casará com um covarde.

- E se algo acontecer com a mamãe por tu descumprir tua parte? Por favor, não seja insensato - a garota tentou argumentar recebendo um tapa na face que encheu seus olhos de lagrimas.

- Tu fique calada, não tens o direito de opinar. Ninguém teria morrido hoje se tu não tivesses inventado de se enfiar na floresta para treinar com o arco. -acusou diante dos olhares desaprovadores da esposa e futuro genro- Eu sempre detestei que fizesse essas coisas tão indignas de uma dama, mas como o Marlo gostava de passar esse tempo contigo eu fingia não ver. Fui mole demais contigo e tua criação. Quando voltarmos dessa viagem vou garantir uma rígida educação para que te tornes uma mulher descente, sem usar calças nem sair para caçar, serás uma dama como sempre deveria ter sido e irá casar-se com um homem de verdade que te coloque as rédeas de que precisa em vez de incentivar esses comportamentos desordenados! - afirmou levando a filha a um choro copioso que o noivo tentava acalmar inutilmente.

- Hitch é uma mulher muito melhor do que tu um dia já foi homem! - o rapaz de cabelos negros retrucou tomando as dores da jovem para si o que apenas a fez chorar mais quando o mesmo recebeu um soco certeiro na face sucedido de muitos outros. 

Oluo estava furioso, nunca ninguém o havia afrontado assim. O sangue daquele que um dia chamou de genro respingava em seu rosto a cada golpe consecutivo e a agressão só parou quando, motivado pela ira, golpeou também a esposa que tentou apartar a briga sentindo-se culpado logo em seguida.

Ainda tentou desculpar-se, mas a mulher se recusava a o encarar em prantos, o rosto inchado e já adquirindo um tom roxeado encheu seu coração de culpa e arrependimento principalmente quando ela encolheu-se para evitar qualquer toque da parte dele e foi com esse aperto no peito que ele e menos da metade de seus homens avançaram para dentro da floresta em busca de vingança contra aqueles que mataram seus queridos companheiros:

- Nunca deveríamos ter vindo para essa terra amaldiçoada... -o rapaz ruivo lamentou amparando a irmã caída- Títulos... Honras pela descoberta e inicio da colonização de um novo continente... Tudo isso é inútil se destruir aquilo que temos de mais precioso.