The boy and the demon

O homem da floresta

Calor. Tudo estava quente e confortável de alguma forma, apesar disso, sua última lembrança era de ter sofrido uma queda bem feia.

O que ela estava fazendo mesmo? Ah sim, seu celular... Estava procurando por ele.

"Liam correu e me deixou para trás... Será que foi pedir ajuda ou só decidiu me deixar para morrer?" Pensava consigo mesma visualizando uma luz fraca através das pálpebras trêmulas acompanhada de um crepitar insistente.

Tentando abrir os olhos, Zofia sentiu algo semelhante a eletricidade percorrer por seu corpo impedindo-a de mover um músculo sequer e então o som de uma voz rouca alcançou seus ouvidos murmurando algo que ela deduziu se tratar de uma prece:

- "Eis que farei cicatrizar o teu ferimento e curarei todas as tuas feridas porque chamaram-te a rejeitada, aquela por quem ninguém mais procura, tampouco se importa." -a voz pronunciou e ela logo identificou a frase como uma citação bíblica de Jeremias- Que cada ferida se cure, que o cansaço se dissipe e que a saúde se restaure com o poder que tu me emprestaste.

Forçando seus olhos a abrirem-se mais uma vez, tentou focar a visão no vulto que se formava a sua frente. Era um homem de cabelos escuros e, por um momento, ela pode jurar ter visto chifres na cabeça dele, chifres esses que desapareceram assim que seus olhos focaram permitindo-a ver seu rosto nitidamente.

Cabelos negros como a noite e olhos cinzentos com um toque azulado bem no fundo deles, era lindo com certeza, mas sua expressão séria e apática somada as profunda olheiras que contornava os olhos pequenos desbotavam essa beleza:

- Está acordada - o homem constatou recolhendo as mãos que estendia sobre o corpo da garota ao notar os olhos dela focados nele. Zofia podia jurar ter visto um brilho dourado emanar delas por um momento, mas desapareceu tão rápido que a fez pensar ser algo criado por sua cabeça.

- Eu... - começou sem saber ao certo o que dizer. Estava assustada, é claro. Haviam muitas perguntas em sua mente e não fazia ideia de por onde começar.

Onde estava Liam? Onde ela estava? Como tinha chegado ali? E quem era aquela pessoa na sua frente? Ela estava segura com ele ou deveria correr para longe?

Olhando ao redor em silêncio a jovem estudante tentou localizar-se de alguma forma e identificar rotas de fuga para o caso daquela pessoa tentar ataca-la de alguma maneira.

Estava em uma cabana, um lugar pequeno e com cheiro de madeira velha repleto de estantes decoradas com os mais diversos objetos que pareciam ter vindo de lugares do mundo inteiro. Era possível ver uma escada que dava acesso a uma espécie de segundo andar que continha apenas uma cama de palha parcialmente oculta por uma cortina verde e, no térreo,  logo a frente dela, havia um lareira com uma pintura a óleo pendurada acima dela. Era o rosto de um rapaz muito parecido com Liam, poder-se-ia dizer idêntico se não fossem pelos cabelos lisos e a ausência de uma pinta charmosa que o moreno tinha no pescoço logo abaixo da orelha.

Aquele quadro a fez suspirar aliviada. Talvez aquela pessoa fosse algum parente de seu amigo que veio para ajuda-la depois de sua queda? Liam teria corrido para pedir a ajuda dele? Quis perguntar sobre aquilo, mas não teve tempo pois o homem mal encarado levantou-se recolhendo alguns objetos de primeiros socorros e afastou-se dela:

- Se já se sente bem pode ir embora. Não quero uma pirralha que nem conheço passando a noite na minha cabana.

- Você que me trouxe aqui? - questionou buscando por qualquer sinal de Liam com os olhos. Em sua mente era quase uma certeza de que ele estaria ali e era responsável pelo resgate dela.