The boy and the demon

Segredos (parte 2)

Após jantar na presença de Rod, Erwin e Gabi o casal retornou lado a lado ao quarto que compartilhavam; não que o lorde não lhes tivesse oferecido quartos individuais, muito pelo contrário. Como o relacionamento de ambos era um segredo restrito a poucos o homem não hesitou em ordenar o preparo de suítes luxuosas para ambos, entretanto, mesmo cientes de que não seria muito discreto dormirem juntos, o longo tempo que o moreno passara compartilhando uma barraca, somado ao tempo dormindo nas habitações conjuntas do navio Löwenherz e o fato de ter tido de dividir o quarto de hóspedes na casa onde o Smith morava deixaram-no acostumado à companhia constante e incapaz de adormecer sem a presença de alguém ao seu lado.

No fim, mesmo aceitando a generosidade do nobre e deixando seus pertences em um quarto apenas seu, sempre acabava por se esgueirar até o cômodo designado ao marido para dormir com ele, as vezes acompanhado por Gabi que intercalava entre dormir com o casal e com Erwin por sentir-se sozinha naquele quarto imenso, até finalmente chegar ao ponto onde simplesmente desistiu de disfarçar e acabou levando suas malas para os aposentos do amado diante dos olhares questionadores, porém amedrontados dos criados.

Abrindo a porta do cômodo com um olhar desconfiado, os olhos verdes dirigiram-se imediatamente à imensa janela aberta que dava vista ao jardim do castelo onde mais cedo estivera com a garotinha germânica a ter aulas de gramática. Estava um tanto incomodado. As duas vezes em que notara estar sendo observado martelavam sua mente e, num impulso, correu até a abertura envidraçada cobrindo-a com a cortina pesada. Sentia-se mais seguro assim e com a porta trancada à chave:

- Ei, Eren. O que é isso? - o hibrido questionou abaixando-se para pegar um pedaço de papel dobrado caído no chão. Havia visto o objeto por acaso ao ascender o candelabro ao lado da porta para iluminar o quarto.

- Oh... -murmurou com os olhos arregalados- Esqueci completamente de dizer... Encontrei esse bilhete na mesinha ao lado da porta quando acordei hoje mais cedo... -mordeu o lábio apreensivo- Levi, acho que alguém esteve nos espiando em nossas intimidades. Tive a impressão de ter visto um vulto na porta antes de adormecer e quando acordei esse bilhete estava lá.

- "A verdade se revela quando o Sol começa a se esconder..." -leu em voz alta intercalando o olhar entre o papel e o marido- As cinco da tarde? Isso foi a algum tempo...

- Não estava pensando em ir até lá, estava? - questionou atônito com a possibilidade.

- Tu não está curioso para saber do que se trata?

- E arriscar ser atacado numa emboscada? Não, obrigado - cruzou os braços com um biquinho manhoso nos lábios logo sendo abraçado pelo amado.

- Não seja tão pessimista...

- Sou realista, Levi. -retrucou num suspiro entrelaçando os dedos nos do mais velho- Ninguém nesse castelo deixou de temer-te ou odiar-te apenas porque o lorde ordenou e agora que sabemos que tem alguém nos espionando... A sodomia gera pena de morte e tínhamos sorte de nosso relacionamento ser uma informação  restrita a pessoas que nos amam e aceitam como somos, mas agora já não é mais assim... Temo por nossa segurança, amor meu.

- Sei muito claramente que todos ainda tem receio sobre mim, mas... -fechou os olhos por um momento retomando a conversa que tivera mais cedo com Erwin- Pode soar estranho, mas ando sentindo uma inquietação no peito. O senhor Smith disse que também sente algo semelhante quanto ao lorde Reiss, como se ele estivesse escondendo algo e agora esse bilhete... E se realmente houver algo de errado nesse lugar? Não  deveríamos investigar?

- Tudo bem... - soprou em desistência vendo um sorriso doce surgir nos lábios do hibrido. Detestava admitir, principalmente tendo em conta a hospitalidade de Rod, mas também tinha sentido um incômodo e inquietação ao conhece-lo, chegando inclusive a se recriminar mentalmente algumas vezes por "pensar mal" de alguém tão simpático que apenas lhes tratou bem e com gentileza.