Não me diga adeus (parte 2)

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Os vestígios das noites em claro se estampavam na face da matriarca da família Grice, entretanto, a mesma não ousou contar ao marido ou ao filho o que tinha visto nem comentar com o próprio cunhado para esclarecer o fato. Este que estava bastante debilitado, mas que ainda assim conseguia notar que havia alguma coisa de errado:

- Tudo bem se não quer contar... -Eren murmurou cansado após diversas tentativas de fazer Frieda falar- mas seu rosto não mente. Está exausta. Se for por minha causa... Por causa de eu estar aqui a te atrapalhar então...

- Não tem nada a ver com isso - mentiu sem hesitar. Não queria que ninguém, muito menos o rapaz, soubesse o que havia visto noites atrás.

- Se está com problemas para dormir eu recomendo colocar um pouco de valeriana no seu chá. Deve ajudar... - sugeriu sem saber que aquelas palavras se voltariam contra ele mais tarde de tal forma que se tornariam sua ruína.

- Certo... -ela anuiu após um longo tempo calada- Vou tentar.

O dia se seguiu num clima tenso após essa troca de palavras, Frieda estranhamente calada e Eren dividido entre o próprio mal estar e a preocupação com a cunhada que tentava manter sua rotina, sorrindo ao marido e ao filho que também se mostraram incomodados com aquele ar de falsa felicidade:

- Falco, querido. Poderia buscar umas coisas para mim com a Gabi? - ela pediu enquanto terminava de limpar a mesa após o almoço.

- Claro, mamãe. O que é?

- Umas ervas. Eren me disse para tentar tomar algo com valeriana para dormir melhor.

- Ah sim. Então a senhora vai tomar. Isso é bom. A senhora não parece bem tem uns dias.

- Só não estou dormindo direito, mas logo isso deve passar - ela sorriu enxugando as mãos antes de apertar a bochecha do filho gentilmente, esse que apressou-se em pegar seu casaco para correr até a cabana da amiga, afinal, estava ansioso para ver a mãe melhorar.

Se ele soubesse o que ela faria a seguir... Ah... Com certeza não teria ido buscar aquela planta.

O garoto não estranhou quando voltou para a casa e encontrou a mãe preparando um chá, sequer imaginou o que ela faria quando a viu tomar o saco com a erva de suas mãos com um grande sorriso nos lábios.

"Não use muito de uma vez" ele lembrou-se de falar "A Gabi disse que pode fazer mal".

A forma como o sorriso da mulher se alargou enquanto lhe agradecia beijando sua bochecha devia tê-lo feito suspeitar... Se tivesse pensado um pouco mais... Se atentado aos sinais... Talvez a tragédia que veio a acontecer horas mais tarde pudesse ter sido evitada:

- Está confortável? - ela questionou enquanto acomodava o cunhado na cama trazendo uma xicara de chá para que ele se aquecesse.

- Estou sim, obrigado... É muito gentil da sua parte... -apontou para o chá com a cabeça e então a mulher colocou a xícara em sua boca, virando de vagar para que sorvete cada gota. Eren sentiu um gosto familiar, mas que não sabia identificar ao certo por conta da canela misturada então acabou por perguntar- Desculpa, mas com o que fizeste esse chá?

- Nada de mais... Apenas usei umas coisas que tinha em casa. Canela, sálvia... Raiz de valeriana...

- Raiz de valeriana e sálvia misturadas? Quanto colocaste? - questionou sem entender o motivo dela ter adicionado tais ingrediente em seu chá. Aquelas eram plantas de efeito sedativo poderoso e se misturadas, dependendo da quantidade utilizada, poderia realmente causar maus efeitos colaterais.

The boy and the demonOnde histórias criam vida. Descubra agora